Sete denúncias de violência contra idosos chegam à polícia todo dia
De janeiro a maio, 1.100 boletins de ocorrência foram registrados na Grande Vitória, o que representa uma média de sete casos por dia
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A violência contra idosos é descrita por quem a vivencia como uma realidade dolorosa. Em meio ao que deveria ser uma fase da vida marcada por tranquilidade e cuidado, muitos enfrentam agressões físicas, psicológicas e até financeiras — frequentemente dentro da própria casa, praticadas, na maioria das vezes, por familiares próximos.
Somente nos cinco primeiros meses deste ano, 1.100 boletins de ocorrência foram registrados na Grande Vitória, o que representa uma média de sete casos por dia. No mesmo período do ano passado, foram 1.050 registros.
Segundo o Anuário de Segurança Pública do Estado, cerca de 70% das agressões ocorrem no ambiente familiar, e a maioria das vítimas são mulheres entre 60 e 64 anos.
A titular da Delegacia Especializada de Proteção à Pessoa Idosa, delegada Milena Gireli, destaca que os números são ainda maiores se consideradas as denúncias feitas por outros canais, como o Disque 100 e o Disque 181. “A maioria das vítimas são mulheres, e os agressores, familiares — principalmente filhos”, explicou.
Sobre as causas, a delegada aponta diversas situações, especialmente envolvendo usuários de drogas e álcool. “De forma geral, é muito triste presenciar violência no ambiente familiar. Nos casos de violação de direitos e agressões contra pessoas idosas, os autores costumam ser justamente aqueles que elas mais amam”, lamentou.

Ela faz um apelo para que as vítimas não se calem: “Denuncie. Não se omita. As denúncias podem ser feitas em qualquer delegacia — a mais próxima ou a mais cômoda —, além dos canais Disque 100 e 181, com garantia de anonimato.”
Caso a vítima encontre dificuldade para ir até uma delegacia, existem outras opções. “A denúncia pode ser feita também em órgãos como o Creas (Centro de Referência Especializado da Assistência Social), Cras (Centro de Referência de Assistência Social), Defensoria Pública, Ministério Público e até em unidades de Pronto Atendimento (PA) — locais que, muitas vezes, são os únicos onde o agressor leva a vítima”.
Nem sempre a violência acontece debaixo do mesmo teto. No último sábado, um idoso dono de um bar foi assaltado e agredido em Nova Bethânia, Viana, após abrir o estabelecimento. Ele sofreu um ferimento em um dos olhos, teve um hematoma na cabeça e desmaiou.
Já no centro de Vitória, a idosa Zilda Theresa, de 93 anos, foi vítima de um assalto no último dia 7. A ação, registrada por câmeras de segurança, mostra o momento em que ela foi derrubada pelo criminoso e bate com o rosto no chão.
Alguns tipos de violência
Violência física
Os abusos físicos estão entre as formas de violência mais perceptíveis.
No entanto, nem sempre o agressor comete agressões evidentes, como espancamentos com lesões ou traumas visíveis.
Em muitos casos, os abusos ocorrem de maneira mais sutil, por meio de beliscões, empurrões, tapas ou agressões que não deixam marcas físicas aparentes.
A maioria das agressões físicas acontece dentro da própria casa da pessoa idosa, no ambiente familiar, praticadas por pessoas muito próximas, como filhos, cônjuges, netos ou cuidadores domiciliares.
Abuso psicológico
Ocorre por meio de atos como agressões verbais, tratamento com menosprezo ou desprezo, ou qualquer ação que cause sofrimento emocional, como humilhação, afastamento do convívio familiar ou restrição à liberdade de expressão.
Também se caracteriza por submeter a pessoa idosa a situações de ofensas, negligência, insultos, ameaças e gestos que afetam sua autoimagem, identidade e autoestima.
Abuso financeiro
É caracterizado pela exploração imprópria, ilegal ou pelo uso não autorizado dos recursos financeiros da pessoa idosa.
O agressor se apropria indevidamente de dinheiro, cartões bancários ou outros bens, utilizando-os para finalidades que não estão relacionadas ao cuidado da vítima.
Geralmente, esse tipo de abuso é praticado por familiares, conhecidos ou até mesmo por instituições financeiras.
Discriminação
Refere-se a comportamentos discriminatórios, ofensivos e desrespeitosos em relação à condição física característica da pessoa idosa, com desvalorização e inferiorização.
Uma atitude discriminatória resulta na destruição ou comprometimento dos direitos fundamentais do ser humano, prejudicando um indivíduo no seu contexto social, cultural, psicológico, político ou econômico.
Em relação à pessoa idosa, os termos etarismo, idadismo ou ageísmo têm sido utilizados na tipificação e combate a crimes de discriminação e preconceito relacionados à característica da idade alcançada pela pessoa idosa.
Fonte: Governo federal e Polícia Civil.
Campanha de combate à violência contra idosos
O Junho Violeta é uma campanha internacional de conscientização dedicada a chamar a atenção da sociedade para a violência contra idosos.
Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a campanha acontece durante este mês. O objetivo principal é sensibilizar a população para prevenir, denunciar e combater todas as formas de violência que afetam esse grupo, promovendo uma cultura de respeito, cuidado e valorização.
No Estado, diversas ações são desenvolvidas para prevenção, acolhimento e resgate familiar.
Em Vila Velha, por exemplo, a subsecretária técnica da Secretaria Municipal de Assistência Social, Marcia Barcellos, destacou os serviços oferecidos, que abrangem três níveis de proteção: básica, média e de alta complexidade.
Essas iniciativas criam condições para evitar ou facilitar a identificação de casos de violação contra os idosos. Atualmente, 880 idosos são atendidos no Centro de Convivência da Pessoa Idosa, e, entre eles, alguns foram vítimas de violência.
Análise: “É um problema grave e crescente”

“A violência contra pessoas idosas é um problema grave e crescente, que afeta profundamente a vida dessas pessoas. Seus efeitos ultrapassam o sofrimento imediato, atingindo aspectos emocionais, sociais e até mesmo a saúde mental.
Embora o idoso tenha vulnerabilidades naturais dessa fase da vida, ele também precisa ser respeitado. Contudo, a sociedade ainda é marcada por etarismo — uma forma de discriminação baseada na idade — que reforça preconceitos, marginaliza e isola socialmente os idosos.
É fundamental que a família e os amigos permitam que o idoso mantenha seus sonhos, atividades e autonomia”.
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