“Ser mãe me deu forças para enfrentar o câncer”, diz funcionária pública
Luciana Campana, de 42 anos, descobriu um tumor na mama quando estava grávida
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A funcionária pública Luciana Campana, de 42 anos, passou por um período difícil e um grande desafio em 2018. Em sua segunda gestação, um diagnóstico: câncer de mama.
Luciana diz que, na época, encontrou em seus filhos a força para resistir e lutar contra a doença. “Ser mãe me ajudou a enfrentar o câncer. Eu tive de administrar duas emoções extremas: a felicidade da nova gestação e o impacto do diagnóstico”, relata.
“Recebi muito apoio e carinho do meu marido, Glauco do Carmo, e da minha filha mais velha, a Liz, de 6 anos, o que me sustentou. Tentei me manter bem, para que o bebê não fosse afetado por minhas emoções”, completa.
A funcionária pública conta que se sente grata pelo fato de o filho mais novo, Gabriel, hoje com 2 anos, ser saudável.
“Estou afastada do meu emprego atualmente, e ser mãe tem sido minha principal função. Percebi que precisava priorizar meus filhos após esse momento tão frágil. Eles que me mantêm forte”.
O oncologista da Rede Meridional Luiz Gustavo Berriel, que tratou de Luciana, diz que o mais difícil em um caso de diagnóstico durante a gravidez é o fator emocional.
“Do ponto de vista técnico, não existem grandes mudanças no tratamento, mas esse é um momento em que tudo está muito sensível. São muitas preocupações da mulher nesta condição, o lado psicológico afeta muito”.
Entretanto, de acordo com o especialista, há fatores de risco em pacientes grávidas com câncer, quando o tumor é descoberto no período inicial de gestação.
“A grande preocupação é a descoberta no primeiro trimestre de gravidez, porque o tratamento nesse período pode causar má-formação do feto, o que não foi o caso de Luciana, que iniciou a quimioterapia em seu segundo trimestre de gestação”, cita.
Berriel frisa a importância de as mulheres realizarem exames de rotina, que ajudam a detectar a doença em seu estágio inicial.
A oncologista Virgínia Altoé explica que, em casos de diagnóstico precoce, há mais chances de cura. “Em geral, quando se descobre um tumor de até 2 cm, as chances de cura são de 90% a 95%. No entanto, existem diversos tipos de tumores que interferem na resposta da paciente ao tratamento”.
“É como sentença de morte”
A Tribuna – Como recebeu o diagnóstico?
Luciana Campana – Fiz um exame de rotina em 2017, justamente por conta dos meus planos de ter um segundo filho. Com a consulta, veio uma suspeita do meu ginecologista de inflamação na produção do leite. Aí, procurei uma oncologista.
De que forma você reagiu ao diagnóstico?
Quando descobri, me afastei do trabalho por 15 dias, fiquei sem chão. Comecei a me questionar sobre como seria meu futuro, da minha primeira filha e do bebê que ia nascer. O diagnóstico é como uma sentença de morte.
Como foi passar por esse processo durante sua gestação?
Eu tive a sorte de atravessar a químio bem, o que ajudou bastante o meu psicológico. Não tive enjoos, nem queda de cabelo naquele período. Então, isso me ajudou a não me ver no estereótipo de paciente oncológica, me deixou mais tranquila.
Havia histórico de câncer na sua família?
Foi algo inédito no meu núcleo familiar e, por isso, ainda foi mais devastador. Não sabíamos como lidar.
Como está sendo o seu acompanhamento atualmente?
Eu faço uso diário de medicamento. Estou em menopausa induzida, para não ter hormônios que estimulem o crescimento de novos tumores.
Que conselhos você dá para mulheres que enfrentam casos parecidos com o seu?
Não tenham medo e procurem bons médicos. Para quem tem família, recomendo que se unam e busquem conforto na religião, caso tenham alguma.
Maior risco de tumor com maus hábitos
O câncer de mama assim e outros tipos de câncer estão relacionados aos hábitos de vida. O tabagismo, sedentarismo e a obesidade são fatores de risco da doença, de acordo com a oncologista Virgínia Altoé.
“Existem estudos que relacionam diretamente o sobrepeso e a obesidade ao desenvolvimento de câncer de mama, assim como uma influência desse fator na evolução da doença em pacientes já diagnosticadas”, explica.
Nesse sentido, segundo Virgínia Altoé, maus hábitos alimentares e a falta de exercícios físicos são os principais fatores determinantes, tanto do desenvolvimento da doença como no processo de cura.
“Além de uma alimentação saudável, com menos industrializados, e a prática regular de exercícios físicos, uma vida com menos estresse diminui os riscos de ter a doença”.
A oncologista do Núcleo Especializado em Oncologia (Neon) Edelweiss Soares ressalta que a maior parte dos tumores é evitável e que, além da mudança de estilo de vida, é necessário realizar exames periodicamente, para ajudar a detectar cânceres comuns em mulheres.
“Quando diagnosticados precocemente, é possível ter um tratamento mais simples e eficaz. Ao realizar o preventivo uma vez por ano, por exemplo, pode-se detectar indícios de câncer do colo do útero, provocado pelo vírus HPV”, acrescenta.
SAIBA MAIS
Em 2022
- Para o Brasil, foram estimados 66.280 casos novos de câncer de mama 1, com um risco estimado de 61,61 casos a cada 100 mil mulheres.
- No Espírito Santo, a estimativa foi de 790 casos de câncer de mama feminina.
Prevenção
- O objetivo da prevenção primária é impedir que o câncer se desenvolva. Isso inclui a adoção de um modo de vida saudável, com prática de atividades físicas, e evitar substâncias causadoras de câncer, como uso excessivo de bebida alcoólica e cigarro.
Tratamento
- As principais formas de tratamento são a quimioterapia, a radioterapia, medicamentos e a cirurgia de remoção do tumor.
Fatores de risco
Comportamentais
- Obesidade e sobrepeso, após a menopausa.
- Atividade física insuficiente.
- Uso de bebida alcoólica.
Aspectos hormonais
- Primeira menstruação (menarca) antes de 12 anos.
- Não ter filhos.
- 1ª gravidez após os 30 anos.
- Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos.
- Uso de contraceptivos hormonais (estrogênio e progesterona).
- Ter feito terapia de reposição hormonal, principalmente por mais de cinco anos.
Hereditários/Genéticos
- Histórico familiar de câncer de ovário ou de mama.
- Alteração genética.
Exames
- Mamografia: recomendada a partir dos 40 anos. No caso de mulher com histórico familiar de câncer, a atenção deve começar mais cedo.
- Autoexame: deve ser realizado por mulheres adultas com vida sexual ativa.
Fonte: Inca e especialistas citados.
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