Rotina de motorista do "caminhão rosa" faz sucesso nas redes sociais
Moradora de Vila Velha, Anailê Santos Goulart, de 35 anos, conquistou mais de 250 mil seguidores apenas no Instagram
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O 1,56 metro de altura da capixaba Anailê Santos Goulart pode até ter impedido que ela alcançasse o pedal da embreagem em sua primeira experiência dirigindo um caminhão.
Mas essa “baixinha” não desistiu fácil! Há 9 anos atuando como caminhoneira e mostrando sua rotina de trabalho dentro de seu veículo rosa, carinhosamente chamado por ela de “Jacaré”, a moradora de Vila Velha conquistou mais de 250 mil seguidores apenas no Instagram. Já no YouTube, seu canal conta com 393 mil inscritos.
“Comecei a dirigir por incentivo do meu marido, o Lucius, que já era caminhoneiro. A primeira vez foi divertido, ele simplesmente saiu do volante e mandou eu pegar a direção. Eu não alcançava nem o pedal da embreagem, me desesperei, mas deu tudo certo e amei”, lembra, aos risos.
Aos 35 anos, Anailê faz parte da Associação de Carreteiros Autônomos (ACA), onde atua transportando contêineres para empresas que estão ao redor do Porto de Capuaba.
“Quando comecei, só tinha eu de mulher. Hoje, tem mais duas, que, inclusive, assistiram meus vídeos e se inspiraram para tentar junto com seus maridos! Isso pra mim é algo maravilhoso”, comemora.
Na internet, ela compartilha ainda seu dia a dia ao lado de Lucius e também como mãe de três filhos: Eduardo, 13, Yan, 9, e Airon, 7. Como ela dá conta?
“Eu falo que não dou conta. (Risos) Mas sigo tentando! Hoje, também atuo como consultora de proteção veicular, o que tem me ajudado muito a ficar um pouco mais em casa. Então, quando não estou no caminhão, estou trabalhando em casa também”.
Apesar de não ir muito longe em suas viagens de caminhão, a capixaba tem conseguido viajar o mundo através das conquistas como influenciadora digital.
“Fui na Copa Truck em Curitiba e nas fábricas da Scania e da Mercedes, em São Paulo, conhecer as pistas de teste deles”.
Ela ainda teve a oportunidade de viajar para a Alemanha a convite da Mercedes-Benz e participou da Hannover IAA Commercial Vehicles, a maior feira automotiva de caminhões do mundo. “É uma experiência única e que vou guardar por toda a minha vida”.
“Até das galinhas o povo gosta!”
A Tribuna: O que fazia antes de trabalhar como caminhoneira?
Anailê Goulart: Já vendi lingerie na Glória, fiz estágio em Defensoria Pública, escritórios e até cheguei a ser camelô!
Quando percebeu que sua rotina chamava atenção do público?
Acho que mostrando a luta, a minha realidade. Meu caminhão era todo velho, caindo aos pedaços...
Recebe muito apoio dos seus seguidores?
Com certeza, eles são incríveis! Inclusive, numa época em que tinha uma condição de vida menos favorável do que a de hoje, muitos me ajudaram com peças para o caminhão e até com dinheiro para me ajudar a reformar ele! Muita gente critica também, mas eu não ligo.
O que costuma mostrar do seu dia a dia?
Agora, eu mostro de tudo um pouco: caminhão, casa, filhos, os dois cachorros que adotei e minhas galinhas... Até das minhas galinhas o povo gosta! (Risos)
Por que dirigir um caminhão rosa?
É uma forma de me destacar mesmo. Eu gosto de rosa, mas sem exageros. O caminhão não é rosa por dentro, acho demais. (Risos) Amo ele do jeitinho que ficou.
Como os homens que trabalham no mesmo setor encaram sua presença? Te respeitam?
Sim, me respeitam. Nunca tive esse tipo de problema. Mas, no começo, uns desacreditavam, queriam que eu não trabalhasse ali no meio deles.
Nesses 9 anos como caminhoneira e mãe, qual foi o momento mais desafiador?
Foi quando eu estava prestes a ganhar meu terceiro filho. Sempre trabalhei até o último momento, mas na gestação dele, eu parei de trabalhar porque estava sentindo muita dor. Depois de dois dias, ele nasceu, com sete meses. Ficamos internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) por 21 dias, mas graças a Deus deu tudo certo.
Quer servir de inspiração para outras mulheres?
Já recebi muitas mensagens, não só de mulheres, mas de homens também. Acho que quando eles veem uma mulher magrinha, de 1,56 de altura, dirigindo um jacaré, eles pensam que também são capazes. (Risos) E de fato, todos nós somos, basta querer!
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