Quais são as suas saudades?
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Sair com amigos, se encontrar com familiares, ir à escola. Você sente saudade de quê? Em tempos de pandemia, o Dia da Saudade, comemorado hoje, ganhou força para aqueles que estão distantes de amigos e familiares.
A impossibilidade de se aproximar fisicamente das pessoas queridas, junto à incerteza sobre quando tudo voltará ao normal, intensificou esse sentimento.
“Quando nos afastamos de alguém, ocorre uma quebra de rotina e ficamos carentes de algo com que estávamos acostumados. Sentimos falta do convívio, da pessoa e do que ela representava no dia a dia”, diz a psicóloga Rubia Passamai.
Segundo especialistas, é necessário compreender o significado que a saudade tem e a situação em que está inserida. “É preciso entender que não estamos no controle do que ela nos trouxe e, então, usar a tecnologia a nosso favor, ou demonstrar nossos afetos sem ultrapassar os protocolos de saúde”, orienta a psicóloga Lana Francischetto.
A estudante Laira Tonon, 22 anos, faz faculdade em Viçosa, Minas Gerais, mas precisou retornar em março para o Estado, por conta da suspensão das aulas. Desde então, ela lida com a saudade dos amigos que deixou na cidade.
“Dá muita saudade das nossas saídas, de conversar, fofocar. É um sentimento de tristeza, nostalgia e querer estar perto”, contou. Usando a tecnologia a seu favor, Laira conversa com os amigos por videochamadas e mensagens de texto.
O médico psiquiatra Valber Dias Pinto explica que a saudade gera um sentimento de vazio que precisa ser trabalhado. “Deveríamos criar, na pandemia, nossos pequenos prazeres programados. Perceber que existem coisas que podem ser prazerosas, no lugar daquilo que não temos mais”, sugere.
Chamada de vídeo para família

Os finais de semana da psicóloga Ana Clara Bof, de 26 anos, eram sempre marcados por uma reunião familiar na casa do avô, em João Neiva. A pandemia, porém, tirou esse momento da jovem.
“Somos uma família muito calorosa. Há muito tempo não nos abraçamos”, contou mostrando a foto dos pais Antônio e Margarida.
Morando em Vitória, ela costumava viajar para a casa dos pais, em Aracruz, e de lá, juntos, eles partiam para a casa do avô. “O único meio possível de contato é por chamada de vídeo e sempre estar em contato por mensagem ou áudio. Mando mensagem todo dia”.
Sentimento pode virar doença e causar depressão

Todo ser humano sente saudade de algo ou alguém em algum momento da vida. Mas, em excesso, a saudade pode desencadear doenças e levar, até mesmo, à depressão, segundo especialistas.
“Passar por saudades é comum, não há nada de errado. A questão é a intensidade. O problema é quando esse tipo de pensamento começa a atrapalhar nossa rotina. Em alguns casos, o quadro pode evoluir e se tornar uma depressão”, explicou o psiquiatra Jairo Navarro.
Na pandemia, o saudosismo se gravou, de acordo com especialistas. Situações não tão importantes passaram a ser valorizadas.
Jairo explica que muitas pessoas passaram a ficar muito pensativas sobre o passado e o que viveram. Ao ficar preso demais ao que aconteceu e não existe mais, o saudoso sofre bastante.
Essa nostalgia mais pesada pode gerar depressão, ansiedade, tristeza, angústia, desânimo. Mas, esses sintomas não são apenas emocionais, e afetam a rotina de sono, alimentação e até de trabalho.
“Se a pessoa tem dificuldades em lidar com esse sentimento, ela pode fazer uma terapia. Se isso vira uma doença, como depressão, ela precisa procurar um psiquiatra. Saber trabalhar essa saudade, essas perdas, é fundamental para a saúde mental”, disse o psiquiatra Valber Dias Pinto.
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