Pais e filhos: Que pergunta é essa, menino!?
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A curiosidade é um aspecto importante do desenvolvimento das crianças. É através das perguntas que elas ampliam seu entendimento do mundo. Só que os pequenos podem ser bem criativos e, por vezes, deixarem os adultos numa saia-justa.

De onde vêm os bebês? Para onde as pessoas vão quando morrem? Como surgiu o vento? Por que o céu é azul? Essas são algumas das questões que deixam os pais sem resposta.
Após uma pesquisa, eles até conseguem responder muitas delas. Outras, como as que envolvem temas delicados ou valores morais, são mais difíceis.
Segundo os especialistas, por mais complicado que seja, todas as perguntas devem ser respondidas. Os pais devem, primeiro, entender o objetivo dos pequenos ao indagarem sobre determinado tema.
O filho quer expandir seus conhecimentos ou confirmar algo que ouviu em outro lugar? A partir disso, os pais devem definir a resposta e adaptar a linguagem para serem compreendidos pela criança.
É importante ainda ficar atento ao grau de conhecimento do filho. A psicanalista Suelen Alencar orienta redirecionar a pergunta, voltar o questionamento para a criança e, então, elaborar a resposta.
“É preciso entender o nível de maturidade da criança para não dar explicações que ela não está preparada para ouvir. Da mesma forma, pode acontecer o oposto: achar que o filho não sabe nada, sendo que ele já tem informações. A criança pode desvalorizar o pai”, diz. Acontece também de os pais darem esclarecimento que o filho acha insatisfatório e, por isso, volta a repetir as mesmas questões.
A primeira explicação dos pais sobre o motivo de o céu ser azul durante o dia não atendeu a expectativa do pequeno João Pedro Padilha, de 5 anos.
A enfermeira-auditora Tiana Padilha e o médico veterinário Bruno Padilha, ambos de 33 anos, precisaram buscar uma justificativa científica e, depois, explicar de forma lúdica. A caçula Beatriz, de 3 anos, também surpreende com suas perguntas.
“Nós não mentimos. Tentamos explicar de forma lúdica para que entendam. Muitas vezes, somos surpreendidos com a sagacidade deles e tentamos valorizar a curiosidade”, destaca a mãe.
QUESTIONAMENTOS: “Dois bebês na barriga?”

A auxiliar administrativo Eliza Campos, 30, e o estoquista Fábio Campos, 32, lidam com as constantes perguntas do Davi, 6. Mais velho de quatro filhos, ele quis saber como a irmã Ester, hoje com 1 ano e 10 meses, foi parar na barriga da mãe.
A surpresa maior foi durante a gestação dos caçulas Natan e Iza, agora com 2 meses: “Como colocaram dois nenéns lá?”.
“Quando não fica satisfeito com a resposta, ele insiste na pergunta. Às vezes, não sabemos como lidar e há indagações que existem limitações ao explicar”, conta a mãe.
CURIOSIDADE: Dúvidas sobre vida e ciência

A principal curiosidade do Caio, de 8 anos, e da Alice, 4, é entender como os bebês vão para a barriga de uma mãe. O menino pergunta ainda sobre política, saúde, ciências. Os pais, Andrea Golder, 41, e Marcio Golder, 42, contam que tudo que o menino lê, vê ou estuda gera dúvidas.
Já a filha mais nova se interessa mais por animais marinhos e culinária. “As questões são diferentes. Quando não sabemos o que responder, pesquisamos ou pedimos ajuda para achar algo que seja adequado à idade deles”, diz Andrea.
Mentiras devem ser evitadas
Por mais que ainda não esteja na hora de abordar certos assuntos, os pais devem sempre evitar mentir para os filhos, na tentativa de fugir de uma pergunta. Cedo ou tarde, o tema irá voltar a ser discutido e a criança pode se ressentir ao perceber que foi enganada.

Essa é uma preocupação da estudante de Nutrição Alda Gomes Romão, de 41 anos. Ela e o marido, o servidor André Luiz Romão, 40, buscam sempre ser sinceros ao esclarecer as dúvidas da filha Laura Luiza, 6 anos.
Não são poucas as perguntas difíceis da menina. Segundo a mãe, muitas questões abordam a fé. Recentemente, a pequena indagou: “Como Deus busca as pessoas para levar para o céu?” e “Como vai caber tanta gente nas nuvens?”
Sem saber como responder, a família busca ajuda com o pastor.
“Eu assumo para ela quando não sei a resposta. Quando ela me pergunta, tento saber de onde surgiu a curiosidade, para entender até onde ela sabe sobre o assunto, pois não quero ir além e nem mentir. Lá na frente, no futuro, eu vou perder credibilidade se ela descobrir que eu menti”, avalia a mãe.
Segundo o psicólogo clínico Arthur Oliveira Bertaso, os pais devem falar a verdade e valorizar o entendimento da criança.
Ele ressalta que a faixa etária infantil é composta também pelo lúdico, onde as crianças usam muito da sua imaginação para compreender o mundo em que vive.
“É importante que o pai use o linguajar da criança para a melhor compreensão. Isso também possibilita um vínculo maior na relação entre pai e filho, o que aumenta o diálogo, até mesmo, na fase seguinte, que é a adolescência”.
O psicólogo orienta ainda para que todas as perguntas sejam respondidas, ainda que por meio de esclarecimentos simples a perguntas difíceis. Uma opção é dizer que ainda não sabe a explicação, mas irá pesquisar para buscar o entendimento.
Assim, irá satisfazer momentaneamente o filho para ter tempo de encontrar a resposta.
“Alguns de nós somos muito críticos e pouco simpáticos com as nossas crianças, usando falas como ‘você não tem inteligência para saber disso’ ou ‘não se intrometa em assuntos de gente grande’. O resultado, na maioria das vezes, fará com que a criança se sinta diminuída”, analisa Arthur.
FACILIDADE: Curioso para aprender

A instrumentadora cirúrgica Joicivandia Vieira, de 37 anos, atribui as inúmeras perguntas do seu filho Lorenzo, de 5 anos, à facilidade que ele tem em desenvolver novos aprendizados.
“Ele é muito curioso para aprender! Às vezes, faz pergunta que não sei a resposta”, conta. “Ele também pergunta muito sobre ter um irmãozinho. Aí, preciso desconversar”.
Para explicar sobre o motivo de não existirem mais dinossauros, a mãe resumiu a história dizendo que um meteoro atingiu a terra.
DICAS
Não minta
Mesmo que ache que ainda não é o momento de tratar certos assuntos com a criança, não minta! Dê respostas simples, mas que contenham vestígios da verdade. O assunto voltará no futuro e a criança recordará se foi enganada pelo pai.
Assuma quando não souber a resposta
Nesses casos, seja claro para o filho e peça um tempo para buscar informações. Mas busque, de fato, a resposta, pois, geralmente, as crianças voltam a repetir o questionamento quando não têm o retorno desejado.
Entenda o que ele quer saber
Às vezes, os pais acham que a criança quer explicação detalhada sobre algo, sendo que ela espera uma resposta simples. Entender o que o filho quer saber pode poupar energia com respostas além do que ele espera.
O que ele já sabe?
É comum as crianças questionarem os pais sobre algo que ouviram falar em outro lugar. Então, ao ser questionado sobre algo, pergunte ao filho qual ele acha que seja a resposta. A partir daí, desenvolva a explicação.
Linguagem adequada
Dependendo da idade, a criança pode não compreender informações técnicas e continuar insatisfeita com a resposta. Use termos mais fáceis e, se necessário, utilize brinquedos e desenhos ao dar a explicação.
Fonte: Especialistas entrevistados.
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