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Cidades

“O Brasil precisa de mais mulheres cientistas”, afirma pós-doutora em Física


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As mulheres já desenvolvem projetos e fazem descobertas de grande relevância há séculos. Apesar disso, a ciência é marcada pela desigualdade de gênero. Em um país que carece de estudiosos na área, como o Brasil, mulheres cientistas se tornam ainda mais necessárias.

Débora Peres Menezes, 59 anos, mestra, doutora e pós-doutora em Física, defende a equiparação de gênero e enfatiza a necessidade de viabilizar e valorizar a ocupação feminina em posições de liderança.

Uma referência é a própria doutora, que se tornou a primeira mulher a ser eleita presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Débora assumirá a presidência da SBF no próximo dia 16.

“O Brasil precisa de mais cientistas e não pode desprezar 52% da população, que são as mulheres”, afirma. “Precisamos que as mulheres tenham as mesmas condições de avançar na carreira e tenham a competência percebida”.

Imagem ilustrativa da imagem “O Brasil precisa de mais mulheres cientistas”, afirma pós-doutora em Física
Débora assume a presidência da Sociedade Brasileira de Física no dia 16 |  Foto: Acervo Pessoal

A Tribuna – O que representa a Sociedade Brasileira de Física ter eleito uma mulher como presidente pela primeira vez?

Débora Peres Menezes – Já tiveram duas mulheres presidentes da SBF antes, mas elas não foram eleitas ao cargo. Elisa Baggio Saitovitch e Belita Koiller foram eleitas vice e assumiram após o presidente assumir outro cargo.

Até agora, nunca uma mulher tinha sido cabeça de chapa, porque é um ambiente masculinizado. A minha candidatura foi bem recebida, ou eu não teria sido eleita.

É muito positivo porque está havendo uma aceitação que mulheres podem ocupar posto de destaque. Existem poucos modelos de liderança feminina de modo geral, e na ciência, menos ainda.

O Brasil precisa de mais cientistas e não pode desprezar 52% da população, que são as mulheres. Eu estar nessa posição mostra para meninas que é possível ser física nuclear, ter carreira internacional e uma carreira de liderança.

O que pretende trazer de novo como presidente?

A SBF tem uma quantidade enorme de ações muito boas tanto para a sociedade quanto para os sócios. Mas um problema em que vou me debruçar é na comunicação. Nossos serviços são muito bons, mas precisamos que as pessoas saibam que eles existem. Assim, teremos retorno do que fazer para melhorá-los.

Outro ponto é que a profissão de física foi reconhecida só em 2018 e não foi regulamentada, o que depende de um projeto de lei que passe no Congresso. Esse é um ponto importante que vai acontecer até julho de 2023.

Como encara a atual presença feminina na ciência?

As mulheres precisam ter mais de incentivo, pois existem muitas barreiras e pequenas agressões diárias que as fazem desistir. Elas têm de ser informadas dessas condições para se prepararem.

Apesar de o Brasil ter um número razoável de pesquisadoras, ainda está aquém do que deveria. Muitas entram no mercado, mas não atingem posição de comando.

No meu canal, a professora de neurociência Karin Calaza tem dois vídeos que mostram os desafios para as mulheres se tornarem cientistas desde meninas.

Além disso, homens levam glória pelo trabalho feito junto com mulheres, enquanto elas ficam invisibilizadas. O filme “Estrelas Além do Tempo” mostra a história de três mulheres negras que trabalharam na Nasa e que, sem elas, homens não teriam chegado à Lua.

Pode citar exemplos de desafios para mulheres se tornarem cientistas que acontecem desde que são meninas?

Tem um estudo feito com crianças em idade pré-escolar em que pediram para elas citarem pessoas que acham inteligentes. As meninas citam mulheres e os meninos citam homens, então existe uma identificação de gênero.

Após dois anos, repetiram a pergunta para essas crianças. Cerca de 90% das meninas já passam a citar homens. Ou seja, existe alguma construção social que indica que homens são mais capazes.

Também é histórico. Nossa primeira lei educacional tirava meninas do estudo da Matemática, como se não precisassem aprender.

Vemos isso também nos brinquedos. Meninos brincam com coisas de montar e carrinhos enquanto as meninas brincam de cuidar. Isso é nefasto para o desenvolvimento das meninas.

Em outro estudo, currículos forjados foram enviados para empresa e, mesmo que fossem iguais, os que tinham nomes de homens eram contratados. Quando os dois eram contratados, homens tinham salário maior. O contratante acha que homens são mais capazes.

O seu canal “Mulheres na Ciência” destaca a presença e o conhecimento feminino. Qual é o seu propósito com ele?

Mostrar que as mulheres podem fazer ciência tão bem quanto homens e também colaborar com o letramento científico do Brasil.

O brasileiro é iletrado do ponto de vista científico. Se perguntamos a pessoas de diferentes escolaridades algo básico, como “por que o céu é azul?”, a maioria não sabe responder. Isso faz com que pessoas não saibam separar o que é fake news do que é verdade.

Como alcançar a equiparação de gênero na área?

É preciso investir em informação desde as meninas sobre a ameaça pelo estereótipo; e orientar os pais que procurem comprar brinquedos mais iguais para haver mudança social já desde cedo.

Educar também meninos para que aceitem que precisa existir equidade de gênero, pois reduzir o ranço machista e misógino é o melhor para toda a sociedade.

É necessário dar ênfase a mulheres que são sucesso. Tem revistas que têm feito isso, como a Forbes, mas ainda é muito pouco.

Precisamos ter políticas de acolhimento das mulheres. Por exemplo, estava olhando regras de um processo seletivo específico no CNPq que menciona que são avaliados os últimos dois anos do profissional. Se teve filho, vai ganhar tempo a mais para ser avaliada.

Temos que tomar cuidado com as pessoas que não entendem o significado da palavra “feminismo”, que pensam que é o machismo ao contrário. Existe o estereótipo que feministas são mulheres que queimam sutiã e não se depilam. A verdade é que é uma luta por direitos iguais.


PERFIL


Débora Peres Menezes

  • Professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina.
  • Graduada em Física, bacharelado e licenciatura, e mestra em Física pela Universidade de São Paulo.
  • Doutora pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e pós-doutora pela Universidade de Coimbra, Portugal.
  • Fez estágio sênior pela Universidade de Sydney, Austrália, e pela Universidade de Alicante, Espanha.
  • Primeira mulher eleita presidente da Sociedade Brasileira de Física, assumirá o cargo no próximo dia 16.

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