“Não salvei meu filho, mas a gente pode salvar o seu”, diz Walkyria Santos
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“Peço a todos os deputados federais e senadores que votem na Lei Lucas Santos em caráter de urgência. Porque, gente (pausa), eu não salvei o meu filho, mas a gente pode salvar o seu”.
O apelo, feito na rede social com a voz embargada de uma mãe que ainda sente a dor da perda de um filho, é da cantora de forró Walkyria Santos, que passou a semana em Brasília conversando com legisladores para que o projeto de lei que pune comentários de ódio na internet fosse aprovado.
A proposta é que a lei leve o nome do filho da cantora, Lucas Santos, de 16 anos, que tirou a própria vida no início do mês depois de ser vítima de comentários maldosos em uma rede social. Na época, Walkyria gravou um vídeo, desabafando e fazendo um alerta aos pais.

“Ele postou um vídeo achando que as pessoas iam achar engraçado, mas as pessoas não acharam engraçado e destilaram o ódio. Estou aqui como uma mãe, pedindo para que vocês fingem e fiquem alerta. Fiquei o que pude”, desabafa aos prantos.
A proposta de Lei que já foi aprovada por unanimidade na Paraíba, onde a cantora mora, foi levada à Brasília pelo deputado federal Julian Lemos e prevê até quatro anos de prisão e multa para haters.
Haters é uma palavra em inglês que significa “os que odeiam” ou “odiadores”. Na internet é usada para indicar pessoas que fazem comentários de ódio, criticam, xingam e discriminam. Semelhante ao cyberbullyng, que é o bullyng cometido na internet.
O advogado Lucas Dias explica que hoje há previsões nos códigos Civil e Penal que podem englobar esses casos.
“A meu ver, apesar das boas intenções, o projeto não traz inovação. Seria mais interessante, por exemplo, um projeto de lei que criasse mecanismos com o objetivo de impedir, ou, pelo menos, diminuir, a criação de perfis falsos, o que facilitaria na hora de verificar quem cometeu o ato de cyberbullyng, já que isto é um dos grandes obstáculos que temos hoje para a responsabilização, pelas normas que já temos, do agente”.
Para o psiquiatra Fábio Olmo, é a dificuldade de identificação que encoraja muitas pessoas ao comentário. “As pessoas agridem porque acham que não serão identificadas e fazem comentários preconceituosos, agressivos, e eles funcionam como bullying, que levam a quadros ansiosos e depressivos”.
Entenda o caso
- Lucas Santos, de 16 anos, filho da cantora de forró Walkyria Santos, foi encontrado morto em seu quarto no último dia 3 de agosto. A cantora postou um vídeo dizendo que o filho tinha tirado a própria vida após receber comentários de ódio na rede social.
- Walkyria transformou a dor em luta. Conseguiu aprovar na Paraíba, onde mora, uma lei contra a prática do ódio nas redes sociais e agora quer aprovar a lei, que leva o nome do seu filho, em âmbito nacional.
A proposta de lei
- A PL 2699/2021 foi apresentada em Brasília pelo deputado federal da Paraíba Julian Lemos (PSL-PB) e está em tramitação.
- A proposta é criminalizar a prática de ódio nas redes sociais, os comentários maldosos, chamado de haters, que causam danos à integridade psíquica da criança e do adolescente.
- a Pena será de um a quatro anos de prisão e multa, sendo os responsáveis responsabilizados, civil e criminalmente.
- A rede social utilizada deverá, imediatamente, por meio de algoritmo ou qualquer inteligência artificial disponível, excluir comentários que causem dano à imagem ou à saúde mental da criança e do adolescente.
Como é hoje
- O advogado Lucas Dias explica que hoje há previsão no Código Civil que pode englobar esses casos, sendo que, de forma específica, a Lei n.º 12.965 de 2014, ao estabelecer o marco civil da internet no Brasil, trouxe a possibilidade de responsabilização, inclusive do provedor de internet.
- Assim, aquele que comete o cyberbullyng pode ser condenado ao pagamento de indenização por danos materiais e/ou morais à vítima, ou no caso em questão, para a família da vítima.
- No âmbito criminal, o Código Penal prevê que a pessoa que comete o cyberbullyng pode incidir em crimes contra honra, quando o usuário de internet atribui algum termo pejorativo a outro, tendo penas que podem chegar a detenção de dois anos. Condutas lgbtqia+fóbicas também são crimes equiparado aos crimes de racismo, independe se o ato foi cometido no mundo real ou virtual.
Fonte: Câmara dos Deputados e advogado Lucas Dias.
Famosos são alvos de mensagens de ódio na rede
Nem mesmo os famosos escapam dos comentários maldosos na rede social, ao contrário, parecem ser os alvos preferido dos chamados haters, que são “aqueles que odeiam”.

Um dos alvos, muito comentado na última semana, é a cantora Luísa Sonza. Ela contou que precisou de ajuda psiquiátrica após ataques nas redes sociais depois que terminou seu relacionamento com o comediante Whindersson Nunes.
“Ainda não sei lidar muito bem com essa situação, dialogar de uma maneira madura, falando para todo o Brasil. É uma agressividade injustificável, foge da realidade. Não considerado que foi apenas haters, foi algo que não podia andar na rua”.
Ela contou que a situação ficou crítica a ponto de ser encontrada pela equipe em posição fetal no chão.
A psicóloga Patrícia Salomon diz que o universo de mídias tem uma metodologia que domina a mente e influência o comportamento.
“Os jovens e adolescentes ainda estão desenvolvendo sua capacidade crítica, logo, tem menor capacidade de análise e senso crítico e ficam mais vulneráveis a essas influências”.
Psicóloga e professora da UVV, Jucineide Wandekoken explica que esperar a validação de outras pessoas não gera depressão.
“Entretanto, uma validação negativa, vinda das redes sociais, pode, associada a outros fatores, tornar o adolescente mais vulnerável a transtornos como a depressão e a ansiedade. Fragiliza o adolescente e o jovem. Por isso, a rede de apoio é importante”.
Música para a vida
Na casa da psicanalista Patricia Rosario Elias, 43 anos, a preocupação é grande com o filho Arthur, de 14 anos. Ela contou que o adolescente não apresentou sintomas de ansiedade ou depressão, mas que está sempre vigilante porque Arthur fica muito tempo online jogando, e com a pandemia, o que já era muito, aumentou.
“Neste momento o computador quebrou e ele está há 15 dias sem jogar. A frustração foi muito grande no início, de ficar sem lugar dentro de casa, mas está tendo oportunidade de fazer outras coisas, como tocar teclado e violão”.
“É errado se comparar”
A analista de marketing Eliza Rebeca Frizzera, 24, contou que já sofre de ansiedade e as redes sociais só estavam contribuindo por causa de cobranças irreais. A jovem disse que, mesmo sem querer, se compara com relação ao outro e suas conquistas.
“As redes sociais pressionam para que as conquistas cheguem rápido, como se tudo fosse fácil. Hoje posso dizer que estou mais equilibrada, administrando o tempo de uso e principalmente entendendo que é errado se comparar, que ninguém é perfeito como mostram”.
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