Ministério da Agricultura quer mudar lista de alimentos saudáveis
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Biscoitos recheados, refrigerantes e macarrão instantâneo. Esses são alguns exemplos de alimentos ultraprocessados que, no atual Guia Alimentar Brasileiro, do Ministério da Saúde, não são recomendados ao consumo, por serem considerados nutricionalmente desbalanceados.

Só que o Ministério da Agricultura quer mudar esse guia. Uma nota técnica da pasta, enviada ao Ministério da Saúde, faz críticas e pede a revisão do “Guia Alimentar para a População Brasileira”, principalmente no que se refere à redução de consumo dos alimentos industrializados.
Para a revisão, é preciso ouvir a indústria de alimentos. De acordo com a nota enviada pelo Ministério da Agricultura, “a classificação definida pelo critério de tipo de processamento não apresenta nenhuma contribuição para um guia alimentar público”.
A nota diz ainda que “a discriminação de alimentos pelo tipo de processamento, afirmando que os alimentos ultraprocessados são 'nutricionalmente desbalanceados' é uma incoerência nesta classificação”.
Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no Estado, a endocrinologista Queulla Garret destaca que, atualmente, as sociedades, como a de endocrinologia e estudo da obesidade, têm como certo basear a alimentação do brasileiro em alimentos mais naturais, como frutas, legumes, arroz e feijão.
“Essa revisão tem uma expectativa de liberar alimentos industrializados que são muito ricos em açúcares, sal e gorduras”.
O médico nutrólogo Roger Bongestab ressalta que alimentos ultraprocessados contêm substâncias que aumentam o risco de doenças como câncer e obesidade. Além disso, seu consumo também pode estar associado à demência, segundo o especialista.
“Os alimentos in natura são mais nutritivos e facilmente metabolizados. Fornecem energia e ajudam na formação de músculos e ossos. Já os ultraprocessados fazem o armazenamento de gordura”, explicou Bongestab.
A pediatra Rachel Mocelin alerta que, cada vez, é mais notório crianças apresentando doenças como hipertensão e obesidade devido à má alimentação. “Alimentos processados têm maior teor de sódio e gorduras saturadas. Em decorrência desse tipo de alimentação, há aumento de obesidade, hipertensão e doenças secundárias”.
Debate está no início, diz governo

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) afirmou, em nota, que a revisão do Guia Alimentar Brasileiro “está sendo debatida internamente, em Câmaras Setoriais do Mapa, tendo como referência princípios científicos”.
“O debate está em estágio inicial e todos os setores da sociedade ligados ao tema serão ouvidos”, disse.
Já a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) esclarece que “apoia a existência do Guia Alimentar para População Brasileira e sua constante revisão, à medida que a ciência avança”.
De acordo com a associação, a industrialização garantiu e continua garantindo a segurança alimentar, fundamental para a evolução da sociedade.
“Na visão da indústria de alimentos e bebidas, não há alimento 'bom ou ruim': é consenso entre especialistas que tudo depende do equilíbrio na dieta”, diz a Abia.
A associação afirma que “todos os produtos alimentícios – caseiros ou industrializados – podem ter alta ou baixa densidade de nutrientes. Mas a atual edição do Guia Alimentar ainda não considera o valor nutricional absoluto de alimentos e bebidas, nem a densidade de nutrientes neles presentes”.
Contra
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) divulgaram uma nota de repúdio à nota técnica do Mapa, afirmando que “não concordam com revisão urgente, nem alteração na classificação de diversos alimentos, como os ultraprocessados”.
GUIA ATUAL
Guia atual
> O Guia Alimentar Brasileiro, de 2014, recomenda o consumo de alimentos in natura (aqueles que são consumidos em seu estado natural).
> O documento diz: “Alimentos in natura ou minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, são a base de uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável”.
> Recomenda ainda que seja limitado o uso de alimentos processados, consumindo-os, em pequenas quantidades, como ingredientes de preparações culinárias.
> O Guia alerta que os métodos e ingredientes usados nos processados alteram de modo desfavorável a composição nutricional dos alimentos dos quais derivam.
> A recomendação é que sejam evitados alimentos ultraprocessados, como biscoito recheado, refrigerante e macarrão instantâneo.
Proposta
Uma nota técnica do Ministério da Agricultura, enviada ao Ministério da Saúde, faz críticas e pede a revisão do Guia Alimentar para a População Brasileira, principalmente no que se refere à redução de consumo dos alimentos ultraprocessados.
Fonte: Guia Alimentar - Ministério da Saúde e pesquisa AT.
OPINIÕES
Orientamos evitar o consumo de ultraprocessados, já que, em excesso, fazem mal para o organismo” - Queulla Garret, endocrinologista
Alimentos ultraprocessados contêm substâncias que aumentam o risco de câncer e obesidade” - Roger Bongestab, nutrólog
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