"Mel gourmet" feito por índios de Aracruz faz sucesso até fora do Estado
Escute essa reportagem

Um mel especial, feito a partir de abelhas sem ferrão, o mel gourmet, já alcança recordes de produção no Espírito Santo e tem ganhado cada vez mais adeptos. Boa parte é produzida em aldeias indígenas no Norte do Estado.
Atentos ao mercado, criadores de abelhas africanizadas, que produzem o mel tradicional, passaram a investir na meliponicultura, a criação de abelhas sem ferrão para a produção do mel gourmet.
Em Aracruz, no Norte, 12 aldeias dos povos guarani e tupiniquim produzem um mel gourmet que tem feito sucesso em restaurantes capixabas e de outros estados.
A produção teve início após a implantação do Plano de Sustentabilidade Tupiniquim e Guarani (PSTG), criado pela Suzano Papel e Celulose em 2012.
Referência nacional em abelhas sem ferrão e coordenador do projeto PSTG, o ecólogo Jerônimo Villas-Bôas frisa que os índios se tornaram os maiores produtores do mel gourmet no Estado.
“Os índios estão conquistando até recorde. Isso tende a crescer muito no Estado. Acho que o Espírito Santo tem um potencial muito grande para o desenvolvimento da meliponicultura, pelas condições climáticas e por conta das espécies disponíveis aqui para a criação”, diz.
Até quatro vezes mais caro do que o tipo tradicional, o mel gourmet possui 10% menos açúcar e é mais líquido.
Coleção

Em Marechal Floriano, na Região Serrana, o apicultor Paulo Cesar Soncini Giera, 42 anos, resolveu investir no mel gourmet. Apaixonado por abelhas desde criança, ele possui uma coleção dos insetos.
As sem ferrão são as mais queridas, por poder aproximar as crianças e os adultos para conhecer o mel diretamente na colmeia.
“Temos nossa produção própria do mel comum, que é produzido, em grande quantidade, pelas abelhas africanizadas. Já o mel produzido pelas abelhas sem ferrão ainda não pode ser comercializado por falta de licença. Enquanto isso, permitimos que as pessoas possam experimentar na colmeia, tomando o mel no canudinho”, conta.
“Como as abelhas não possuem ferrão, não há risco de ataque”, esclarece Paulo Cesar. A Associação de Meliponicultores do Espírito Santo (Ames) estima que são mais de 800 meliponicultores capixabas. Nenhum deles possui autorização para comercialização em supermercados e toda a venda é feita de maneira direta.
Sucesso em restaurantes

Os produtos produzidos pelos índios possuem o mel extraído principalmente da espécie sem ferrão uruçu-amarela. Mais líquido e com menor concentração de açúcar, o mel gourmet se torna mais ácido, o que tem conquistado chefs de cozinha.
O ecólogo Jerônimo Villas-Bôas revela que o mel dos índios é usado por cozinheiros renomados do Espírito Santo, de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. “O mel é fornecido direto para os chefs dos restaurantes”, conta Jerônimo.
Após recorde, índios iniciam vendas pela internet
A Cooperativa de Agricultores Indígenas Tupiniquim e Guarani de Aracruz (Coopyguá) bateu recorde de produção este ano, entre março e abril, quando foram colhidos 725 quilos do mel gourmet, além de 60 quilos de pólen das abelhas nativas e 40 quilos de cera.
Foi a melhor safra desde 2012, segundo o ecólogo e coordenador do projeto, Jerônimo Villas-Bôas. “O projeto começou com três famílias e hoje envolve quase 70 famílias criadoras de abelhas nativas que manejam mais de 1.200 caixas e produziram 725 quilos de mel este ano”, comemora.
A cooperativa já possui uma linha de produtos – a Tupygua – e lançou na última sexta-feira um site, o www.tupygua.com.br, para a venda de produtos de abelha nativa, como mel e pólen.
“Existe um regulamento estadual para os produtos, mas ainda há uma série de entraves em relação à autorização de manejo. A loja virtual é uma forma de chegar às pessoas. Como a escala é pequena, não tem como ir para o supermercado ainda”, explica Jerônimo.
Os produtos são vendidos em pequenos empórios de gastronomia, segundo ele. Jerônimo salienta que o mel dos índios é usado por cozinheiros de restaurantes do Espírito Santo e de outros estados.
“Os chefs de cozinha se interessam muito pelo fato de o mel ser mais ácido e mais líquido, integrando melhor com a receita. O mel é fornecido direto para os chefs em restaurantes de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Brasília e do Espírito Santo”, cita.
Comentários