Leitura de livros pode reduzir pena em presídios do ES
Ao final de cada leitura, as internas fazem resenha, que é avaliada e precisa ser satisfatória. Projeto já rendeu um livro que será lançado em maio
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O hábito da leitura vem ganhando espaço dentro das penitenciárias capixabas, possibilitando aos internos encontrarem na infinitude das palavras alternativa para viver o mundo do outro lado do muro, e consequentemente tendo redução de pena.
Um projeto piloto que iniciou nas unidades prisionais de Colatina, no mês passado, entre a Secretaria da Justiça (Sejus), em parceria com a Secretaria Estadual da Educação (Sedu), intitulado Leitura Para a Vida, agora avalia a resenha feita, resultando em quatro dias a menos na pena.
“Ao final de cada livro as internas fazem uma resenha, e a remição só acontece se a resenha for satisfatória, junto com a avaliação que é aplicada. Elas podem ter visões diferentes dos livros, mas precisam provar através da resenha toda a leitura feita. Uma professora da Sedu se reúne com as internas semanalmente. São 20 internas que hoje participam desse projeto piloto em Colatina, mas nosso objetivo é expandir”, explica a diretora adjunta do Centro Prisional Feminino de Colatina (CPFCOL), Alvanir Magda, conhecida por Mossoró.
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As internas têm 15 dias para ficar com o mesmo livro, podendo ser renovado o empréstimo apenas uma vez. No projeto atual as internas estão lendo o mesmo livro, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, porque há todo um estudo por parte dessa leitura.
“Aqui as mulheres também refletem sobre a vida, sobre o empoderamento feminino e tudo que elas precisam repensar sobre os valores de vida”, cita a diretora.
E foi o projeto de remição pela leitura que já desencadeou até mesmo outra porta, a criação de um livro feito pelas internas, que ganhou o apoio do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
“Nós já temos um projeto dentro do Iema sobre a inclusão da cidadania e trabalhando nesses espaços de ressocialização chegamos até o CPFCOL, onde ocorre a proposta do livro a partir da oficina 'Aconchego Lúdico' nasce esse livro de histórias que é delas”, ressalta Anna Tristão, gerente de educação ambiental do Iema.
O livro “História de Mãe e Filha” será lançado em maio, pelo Iema, Sejus, e Sedu, fora do presídio.
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“O livro reuniu história de vida das internas que já participam do projeto da leitura. A autoestima delas foi trazida por meio desse projeto”, completa a diretora Dayany Rodrigues de Queiroz.
“Quero dar orgulho”
Sem filhos, a Letícia Lopes Bragunci, de 25 anos, condenada a 9 anos por envolvimento com o tráfico, faz parte do projeto remição pela leitura, e participou do livro produzido na prisão. Na parte dela, a história foi inspirada de filha para mãe, ressaltando o quanto a mãe é batalhadora
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“Hoje estou como assistente da pedagoga, e quando cheguei aqui, em 2020, só tinha o ensino fundamental. Decidi terminar o ensino médio aqui e trabalho na biblioteca. Quero dar orgulho para aqueles que lutam por mim”, afirmou.
Elas contam suas histórias...
“Passei a me controlar”
A inspiração para a criação do livro foi a história apresentada por Francielle Félix da Silva, de 30 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas. Ela já estava na prisão quando descobriu que a mãe foi morta por feminicídio.
“Eu não era piedosa, passei a controlar minhas emoções no projeto, que virou um livro. Tenho saudades da minha filha, e quero ser uma nova mãe”.
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“Estou mais ajuizada”
Aos 33 anos e cumprindo pena por tráfico, Mônica da Silva de Sá nunca imaginou que pudesse virar escritora. “Tivemos momentos divertidos e aprendemos a contar a nossa própria história. Isso me transformou”, disse.
“Me sinto mais ajuizada, com novos sonhos. Não é porque estou encarcerada que tenho que desistir. Deixo as lembranças ruins para trás”, completou.
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“Quero abrir um ateliê”
Mãe de três meninos, Glaucieti dos Santos Souza, de 32 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas, contou no livro a história do seu primogênito. “Escrevi sobre meu primeiro filho, que hoje tem 14 anos. O livro me fez uma escritora, e isso é emocionante. Sou costureira e trabalho com artesanato (produz fantoches de feltro). Quero até abrir um ateliê”.
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