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Cidades

Leitura de livros pode reduzir pena em presídios do ES

Ao final de cada leitura, as internas fazem resenha, que é avaliada e precisa ser satisfatória. Projeto já rendeu um livro que será lançado em maio


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O hábito da leitura vem ganhando espaço dentro das penitenciárias capixabas, possibilitando aos internos encontrarem na infinitude das palavras alternativa para viver o mundo do outro lado do muro, e consequentemente tendo redução de pena. 

Um projeto piloto que iniciou nas unidades prisionais de Colatina, no mês passado, entre a Secretaria da Justiça (Sejus), em parceria com a Secretaria Estadual da Educação (Sedu), intitulado Leitura Para a Vida, agora avalia a resenha feita, resultando em quatro dias a menos na pena. 

“Ao final de cada livro as internas fazem uma resenha, e a remição só acontece se a resenha for satisfatória, junto com a avaliação que é aplicada. Elas podem ter visões diferentes dos livros, mas precisam provar através da resenha toda a leitura feita. Uma professora da Sedu se reúne com as internas semanalmente. São 20 internas que hoje participam desse projeto piloto em Colatina, mas nosso objetivo é expandir”, explica a diretora adjunta do Centro Prisional Feminino de Colatina (CPFCOL), Alvanir Magda, conhecida por Mossoró. 

Imagem ilustrativa da imagem Leitura de livros pode reduzir pena em presídios do ES
Alvanir Magda disse que o projeto piloto em Colatina, que hoje reúne 20 internas, tem o objetivo de expandir para outras penitenciárias |  Foto: Roberta Bourguignon

As internas têm 15 dias para ficar com o mesmo livro, podendo ser renovado o empréstimo apenas uma vez. No projeto atual as internas estão lendo o mesmo livro, “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, porque há todo um estudo por parte dessa leitura. 

“Aqui as mulheres também refletem sobre a vida, sobre o empoderamento feminino e tudo que elas precisam repensar sobre os valores de vida”, cita a diretora. 

E foi o projeto de remição pela leitura que já desencadeou até mesmo outra porta, a criação de um livro feito pelas internas, que ganhou o apoio do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). 

“Nós já temos um projeto dentro do Iema sobre a inclusão da cidadania e trabalhando nesses espaços de ressocialização chegamos até o CPFCOL, onde ocorre a proposta do livro a partir da oficina 'Aconchego Lúdico' nasce esse livro de histórias que é delas”, ressalta Anna Tristão, gerente de educação ambiental do Iema. 

O livro “História de Mãe e Filha” será lançado em maio, pelo Iema, Sejus, e Sedu, fora do presídio. 

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Internas, com Dayany Queiroz (à esquerda) e Anna Tristão (à direita), mostram o livro “História de Mãe e Filha” |  Foto: Roberta Bourguignon

“O livro reuniu história de vida das internas que já participam do projeto da leitura. A autoestima delas foi trazida por meio desse projeto”, completa a diretora Dayany Rodrigues de Queiroz.

“Quero dar orgulho”

 Sem filhos, a Letícia Lopes Bragunci, de 25 anos, condenada a 9 anos por envolvimento com o tráfico, faz parte do projeto remição pela leitura, e participou do livro produzido na prisão. Na parte dela, a história foi inspirada de filha para mãe, ressaltando o quanto a mãe é batalhadora

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|  Foto: Roberta Bourguignon

“Hoje estou como assistente da pedagoga, e quando cheguei aqui, em 2020, só tinha o ensino fundamental. Decidi terminar o ensino médio aqui e trabalho na biblioteca. Quero dar orgulho para aqueles que lutam por mim”, afirmou.

Elas contam suas histórias...

“Passei a me controlar”

 A inspiração para a criação do livro foi a história apresentada por Francielle Félix da Silva, de 30 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas. Ela já estava na prisão quando descobriu que a mãe foi morta por feminicídio.

“Eu não era piedosa, passei a controlar minhas emoções no projeto, que virou um livro. Tenho saudades da minha filha, e quero ser uma nova mãe”.

Imagem ilustrativa da imagem Leitura de livros pode reduzir pena em presídios do ES
|  Foto: Roberta Bourguignon

“Estou mais ajuizada”

 Aos 33 anos e cumprindo pena por tráfico, Mônica da Silva de Sá nunca imaginou que pudesse virar escritora. “Tivemos momentos divertidos e aprendemos a contar a nossa própria história. Isso me transformou”, disse.

“Me sinto mais ajuizada, com novos sonhos. Não é porque estou encarcerada que tenho que desistir. Deixo as lembranças ruins para trás”, completou.

Imagem ilustrativa da imagem Leitura de livros pode reduzir pena em presídios do ES
|  Foto: Roberta Bourguignon

“Quero abrir um ateliê” 

Mãe de três meninos, Glaucieti dos Santos Souza, de 32 anos, que cumpre pena por tráfico de drogas, contou no livro a história do seu primogênito. “Escrevi sobre meu primeiro filho, que hoje tem 14 anos. O livro me fez uma escritora, e isso é emocionante. Sou costureira e trabalho com artesanato (produz fantoches de feltro). Quero até abrir um ateliê”.

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|  Foto: Isabella de Paula

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