"Inteligência artificial deve ser usada para potencializar os estudos"
Especialista diz que a ferramenta pode ajudar a formar ideias e a conduzir os alunos, mas não deve substituir o pensamento crítico
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Uma nova ferramenta tecnológica está mudando a forma de aprender em todo o mundo. A Inteligência Artificial (IA) é vista como um facilitador nos estudos, porque pode redigir textos e questões elaboradas em segundos, mas desafia os estudantes a não ficarem acomodados.
Educadores e escolas buscam trazer a IA como ferramenta, e mostrar que a nova tecnologia pode, e deve, ser utilizada para potencializar os estudos.
Essa é a proposta de Pedro Almeida, conselheiro da Hult International Business School, escola de negócios internacional com acreditações norte-americana e britânica.
O conselheiro esteve na Feira de Profissões da Escola Americana de Vitória, onde foram realizados workshops, palestras e oficinas para ajudar alunos do ensino médio a decidirem qual curso de ensino superior irão escolher.
“A pergunta para todos nós, portanto, ao entrarmos nesse novo e corajoso mundo em que a ficção científica se torna realidade, não é 'como podemos mitigar os efeitos dessa tecnologia', mas sim, 'como podemos fazer a IA trabalhar a nosso favor'”, disse Pedro durante palestra, onde abordou os desafios impostos pela IA na atualidade.
A Tribuna - Como a IA pode ajudar os estudantes?
Pedro Almeida - A ferramenta pode ajudar muito, a formar ideias, a conduzir o aluno nos estudos. O estudante pode usar a IA para ter um auxílio na construção da redação para o Enem, por exemplo, pedir quais tópicos podem ser abordados na edição daquele ano.
Isso pode melhorar o uso das habilidades de escrita do próprio estudante, por exemplo. Os jovens já usam a IA para estudar, a questão é como eles devem usar. Eles não devem substituir o pensamento crítico pela IA, eles não devem usar a IA para obter respostas diretas.
O desenvolvimento do pensamento crítico é importante para estudantes. Como a IA pode auxiliar essa capacidade?
Digamos que o aluno esteja se preparando para uma prova da escola. Ele não precisa necessariamente usar uma IA para dar uma resposta a uma pergunta, mas como uma ferramenta.
O aluno pode pedir sugestões de sites confiáveis para os estudos, com informações que ele mesmo possa verificar. Pode pedir até sugestões de formas diferentes de aprender determinado tema.
Isso é usar a IA para aprender, não para receber um resultado. Essa é a diferença. Os estudantes também precisam estudar um pouco sem a IA e as redes sociais.
Eles não podem entender tudo que vem dessas tecnologias como verdade. Precisam saber discernir o que é montagem, o que é construção, e conseguir elaborar as próprias respostas.
Você enxerga riscos no uso da IA para os estudos?
Claro. O aluno tem que usar a ferramenta, e não ser usado por ela. Ele não pode pegar uma redação feita pela IA e assinar com o nome dele, porque não foi ele quem fez. Porém, alguns alunos sempre encontram uma forma de colar, de trapacear. Pode ser usando IA, Google, escrevendo em borrachas ou na perna, sempre vão encontrar maneiras. A IA é só mais uma novidade para quem não se aplica aos estudos de fato.
Existem formas de identificar caso um aluno use uma IA para responder questões como se fosse ele próprio?
Sim, vou dar um exemplo. Na Hult International, por exemplo, temos uma redação que se chama personal statement, algo como uma descrição pessoal. Quando o aluno faz o texto inteiro utilizando uma IA, como o ChatGPT, por exemplo, possuímos um sistema automatizado que verifica o uso da IA, e o aluno é automaticamente rejeitado.
Você acha que a IA está mudando a forma de estudar?
Sim, mas isso sempre muda. Antigamente, estudávamos apenas com livros. Depois, aproveitávamos a internet. E agora, usamos a IA. A forma de estudar vai sempre mudar. É importante saber lidar com isso, principalmente educadores.
A solução é como os profissionais pedagógicos abordam o uso da IA nos estudos. Porque a tecnologia sempre vai ser mais fácil e rápida para obter respostas. É necessário encontrar um método de estudo para que os alunos de fato busquem se empenhar enquanto estudam com a ajuda da Inteligência Artificial.
Na sua opinião, a IA vai mudar o mercado de trabalho a partir de agora?
Eu vejo cargos crescendo na área de tecnologia. Temos uma unidade da Hult em São Francisco (EUA), em uma região conhecida como Vale do Silício, onde várias empresas internacionais de tecnologia têm unidades também, e com profissões ligadas ao uso de IA que estão crescendo muito.
Isso, inclusive, é uma oportunidade para brasileiros que buscam oportunidades de trabalho fora. Porque países como os Estados Unidos não têm mão de obra o suficiente, inclusive em áreas como tecnologia.
Você enxerga que as novas tecnologias, como a IA, podem substituir pessoas no mercado de trabalho?
Temos alunos com esse medo, de que a IA se torne uma ferramenta com um poder incontrolável. Mas eu respondo que as coisas acontecerão assim como foi com o surgimento da internet.
Todos pensaram que os empregos acabariam, mas o que aconteceu foi que novas posições surgiram. A internet virou uma ferramenta, ela não substitui as pessoas. Com a IA as coisas vão ser similares, há muitas formas de utilizar essa ferramenta de forma benéfica.
Essa avalanche de novas tecnologias pode deixar estudantes preocupados com o futuro. O que você diria para eles?
Sempre repito aquela clássica frase: O barato sai caro. Nada vem de graça, nada é fácil. Quando a gente substitui nosso trabalho com IA, criando coisas fáceis e rápidas, estamos perdendo a nossa autenticidade, sabotando o nosso intelecto.
O que eu recomendo é usar a tecnologia, a IA como ferramenta, não como solução. Não podemos ter preguiça de fazer as coisas, de estudar, de redigir textos. Precisamos executar nossas obrigações com empenho.
Perfil
Pedro Almeida
É conselheiro na Hult Internacional Business School, faculdade internacional de negócios com acreditações americana e britânica, e quatro campus: Dubai, Londres, Boston e São Francisco (EUA).
Completou o bacharelado de 4 anos presencialmente em 3 cidades: San Francisco, Londres e Boston, onde foi certificado com um duplo diploma de bacharelado de Administração de Empresas especializado em Finanças e Economia, ambos reconhecidos pelas autoridades institucionais dos EUA e do Reino Unido.
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