Gastos com saúde: médicos explicam alta de casos de autismo no País
País tem cerca de 5 milhões de autistas. Pesquisa aponta que uma em cada 36 crianças recebe diagnóstico até 8 anos
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Pesquisas comprovam o que médicos e outros profissionais da saúde têm vivenciado em seu dia a dia. O aumento dos casos de autismo no Brasil.
O relatório do Centers for Diseases Control and Prevention (CDC), publicado no ano passado, mostra que uma em cada 36 crianças é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos 8 anos de idade.
Ao relacionar esse dado para o Brasil, com uma população estimada em 203 milhões (Censo 2022), o País teria cerca de 5,6 milhões de autistas. Esse número representa um aumento de 22% em relação ao estudo anterior, feito em 2018 e que estimava que uma em cada 44 crianças apresentava TEA naquele ano.
Para a médica neurologista Mariana Grenfell, o que se acredita é que o aumento nos diagnósticos pode refletir uma combinação de maior conscientização, mudanças nos critérios diagnósticos e uma compreensão aprimorada do TEA. “Isso não necessariamente indica um aumento real nos casos, mas sim uma melhoria na identificação”, avalia.
O neuropediatra Raphael Rangel observa que, nos últimos anos, em especial na última década, houve um aumento notável nos casos de autismo em todo o mundo. Ele destaca que esse fenômeno complexo tem desafiado famílias, profissionais de saúde, educadores e políticas de saúde pública.
“Parte desse aumento pode ser atribuída a uma maior conscientização e melhorias nas práticas diagnósticas. Uma outra parte secundária se deve a uma mudança na classificação do autismo em 2013, tornando o diagnóstico um 'espectro', além da melhor difusão das informações principalmente com o avanço das redes sociais”.
O especialista destaca ainda o que ocorreu durante a pandemia de covid-19. “Com a maior presença dos pais no dia a dia dos seus filhos, muitas famílias conseguiram conhecer e perceber sinais de que algo não estava adequado no desenvolvimento das crianças”.
O especialista enfatiza a importância do diagnóstico precoce, para que essas crianças possam receber de forma adequada um tratamento precoce, visando uma boa adaptação em sua vida adulta.
Mariana Grenfell afirma que o diagnóstico do TEA pode ocorrer em diferentes idades, mas é comum identificar sinais precoces em crianças. “O aumento da conscientização e pesquisa têm levado a diagnósticos mais precoces, permitindo intervenções mais eficazes. Identificar e intervir durante os primeiros anos de vida pode ter impactos significativos no desenvolvimento”, diz a neurologista.
Saiba mais
Sinais do autismo
- Atraso na Linguagem
Falta de interesse em desenvolver a fala
Atraso significativo na linguagem.
- Dificuldades na Comunicação Social
Falta de contato visual.
Dificuldade em compreender ou usar expressões faciais e gestos.
Pouco interesse em interações sociais.
- Comportamentos Repetitivos
Repetição de movimentos, como balançar as mãos ou o corpo.
Fixação em padrões específicos de brincadeiras.
- Resistência à Mudança
Dificuldade em lidar com mudanças na rotina.
Reações intensas a pequenas alterações no ambiente.
- Interesses Intensos e Específicos
Foco intenso em temas específicos, muitas vezes incomuns para a faixa etária.
Repetição constante de determinados padrões de comportamento ou interesses.
- Dificuldades na Interação Social
Falta de habilidades sociais apropriadas para a idade.
Dificuldade em entender ou responder a emoções de outras pessoas.
“É importante observar que esses sinais podem variar em intensidade e que cada criança é única. Se houver preocupações sobre o desenvolvimento da criança, é aconselhável procurar a avaliação de profissionais de saúde especializados”, destaca o neuropediatra Raphael Rangel.
Importância do diagnóstico
- Intervenção Precoce
O diagnóstico precoce permite o início imediato de intervenções e terapias especializadas. Intervenções precoces têm o potencial de melhorar significativamente o desenvolvimento da criança, especialmente em áreas como linguagem, comunicação e habilidades sociais.
- Acesso a Recursos e Apoio Adequados
Facilita o acesso a recursos educacionais e de suporte específicos para atender às necessidades da criança. Isso inclui programas educacionais especializados, terapia comportamental e outros serviços voltados para o desenvolvimento.
- Compreensão da Família e da Escola
Proporciona uma compreensão mais profunda das características e necessidades individuais da criança. Isso ajuda as famílias a lidar melhor com os desafios e permite que educadores adaptem estratégias para promover o sucesso acadêmico e social.
- Planejamento de Longo Prazo
Profissionais de saúde e educadores podem colaborar com as famílias para criar planos de tratamento e educação de longo prazo. Isso ajuda a estabelecer metas realistas e a ajustar estratégias à medida que a criança cresce.
- Redução do Estigma
Reduzir o estigma associado ao autismo. Isso promove uma maior compreensão, tanto na comunidade quanto na escola, contribuindo para um ambiente mais inclusivo.
Fonte: Raphael Rangel, neuropediatra.
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“Eles balançavam as mãos, pararam de falar, de apontar, de olhar nos olhos, e não respondiam quando a gente chamava”.
Ela conta que, após passar por uma pedriatra, uma neuropsicóloga e o neuropsocólogo que os acompanha há oito anos, o diagnóstico foi fechado.
“O diagnóstico precoce ajudou muito na verbalização e na comunicação”."
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