Fóssil de aranha que faz homenagem a Pabllo Vittar é devolvido pelos EUA ao Brasil
O fóssil havia sido alvo dos traficantes de fósseis que atuam na região da Chapada do Araripe há décadas
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O legado da cantora Pabllo Vittar não se limita apenas à música: o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, no Ceará, recebeu nesta quinta-feira (21), o fóssil da aranha Cretapalpus vittari, que homenageia a artista.
Durante a solenidade que aconteceu na manhã desta quarta, o museu recebeu outras 35 peças da coleção de fósseis de aranhas cearenses presentes da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos.

As peças chegaram ao Ceará no último dia 15, mas foram devolvidas oficialmente ao equipamento nesta quarta. A Universidade Regional do Cariri (Urca) celebrou o retorno em solenidade com pesquisadores nesta manhã.
A aranha da espécie Cretapalpus vittari viveu na Chapada do Araripe, na região do Cariri cearense, há 122 milhões de anos. A peça é considerada pelos pesquisadores como o exemplar mais velho já registrado nas Américas.
Segundo informou o G1, em junho, o Ministério Público Federal (MPF) já investigava se o fóssil havia sido mais um alvo dos traficantes de fósseis que atuam na região da Chapada do Araripe há décadas. O g1 já relatou como funciona o contrabando para outros estados e países em uma série especial publicada em abril deste ano. Alguns espécimes chegam a ser vendidos por R$ 150 mil.
O holótipo (peça única) da aranha saiu ilegalmente do Brasil e está em "excelente estado de conservação", segundo pesquisadores da Universidade de Kansas, nos Estados Unidos. Eles descreveram o fóssil e resolveram repatriá-lo após questionamentos de paleontólogos e do MPF.
'Ação rara', diz pesquisador
De acordo com o professor Allysson Pontes, diretor do Museu da Urca, os pesquisadores estadunidenses constataram que as peças saíram do Brasil de forma irregular e resolveram, espontaneamente, entregá-las ao Ceará.
"Quando eles perceberam que teriam materiais que de alguma forma estariam infringindo alguma regra, legislação, na mesma hora não questionaram para devolver. É um exemplo de como deve ser a conduta de um museu, um exemplo de ética e pesquisa, e respeito aos regramentos internacionais", afirmou o pesquisador ao site G1.
O paleontólogo classifica a ação da Universidade de Kansas como rara, pois a maioria dos fósseis sobre os quais há notícia de terem saído ilegalmente precisam de uma ação judicial internacional para a repatriação. Como o caso do dinossauro Ubirajara jubatus, que saiu ilegalmente do País, e um museu alemão se recusa a devolver a peça.
"Tem toda uma simbologia: um holótipo ser devolvido espontaneamente para o Brasil, reconhecendo que é um patrimônio brasileiro e ainda mais carregando o nome de um cidadão brasileiro, reconhecido por brasileiros e estrangeiros. São movimentos únicos e muito difíceis de acontecer", acrescenta.
O estudo científico que analisou o fóssil em questão foi publicado pelos pesquisadores Matthew Downen e Paul Selden no The Journal of Arachnology, em 11 de maio deste ano.
A pesquisa aponta que poucas aranhas oriundas da Chapada do Araripe foram formalmente descritas, apesar de ser um grande berço fossilífero de artrópodes. Segundo os estudiosos, a Cretapalpus vittari vivia no solo e tinha patas dianteiras nitidamente robustas.
O fóssil foi encontrado escondido dentro de uma matriz rochosa, com o lado dorsal preservado. A aranha teria oito olhos com os pares laterais extremamente próximos e uma patela incomum na primeira perna semelhante a um espinho.
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