Ex-fisiculturista vende doces no semáforo para realizar sonho de fazer faculdade
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“Antes de trabalhar na rua, eu tinha a crença de que todas as pessoas eram egoístas. Mas, agora, percebi que existe bondade no mundo”. Foi o que afirmou o jovem Wenderson Rodrigues, de 28 anos, que vende doces nos semáforos da capital para realizar o sonho de virar enfermeiro.
Ele conta com a solidariedade de motoristas e pedestres para pagar o curso técnico de enfermagem e sustentar a família. Sua história de lutas, no entanto, começou lá atrás, quando ainda exercia outra profissão.
Dos 14 aos 22 anos, o vendedor ganhava a vida como fisiculturista. Ocupou o primeiro lugar em diversos campeonatos estaduais. O sucesso foi tanto que ele foi para São Paulo, em 2016, disputar um prêmio nacional pelo Espírito Santo. No entanto, não trouxe nenhuma medalha para casa.

Com a frustração, passou a frequentar baladas, consumir muita bebida alcoólica e usar cocaína. Até tentou assaltar um carro, mas foi flagrado por populares, que o lincharam no meio da rua. Eles seguraram Wenderson até a chegada da polícia.
Durante os três meses em que ficou preso, o ex-fisiculturista conta que se arrependeu do que havia feito. “Saí com o propósito de mudar de vida. Também conheci Jesus, e Ele me deu forças”, diz.
Assim que deixou a cadeia, ele terminou o ensino médio e decidiu seguir um dos seus maiores sonhos: ser enfermeiro. “O principal motivo de eu ter escolhido essa carreira é pelo fato de poder ajudar as pessoas”, afirmou.
Mas, para alcançar essa meta, ele precisava de novas fontes de renda. Tentou alguns serviços formais, mas todos o recusavam. "Foi difícil arrumar emprego depois da cadeia, ninguém me aceitava”, conta.
Por isso, há três meses, optou por recorrer a uma placa com a frase “Me ajude a virar enfermeiro” para chamar a atenção entre os carros. “Já tive vergonha, mas, agora, sou capaz de fazer tudo pela minha família e pela minha profissionalização”, declara. E completa: “Todo o carinho das pessoas também faz valer a pena”, diz.
Segundo a psicóloga Isabella Rossetti, Wenderson é um exemplo a ser seguido para quem pensa em seguir um sonho. “Respeite os seus próprios limites e dê um passo de cada vez”, avaliou.
Músico consegue comprar carro após vendas nos semáforos
Sem fazer shows devido à pandemia, o músico Kleber Simpatia, 45 anos, também precisou de novas fontes de renda para realizar dois sonhos: comprar um carro e levar seu trabalho para todo o Estado. Em agosto de 2020, saiu para vender exemplares do seu CD “Kaloptus” nos semáforos de Vila Velha e da capital.

Logo no início, Kleber relata que algumas pessoas o evitavam, pois o tempo era curto e o distanciamento social prejudicava o contato. Para driblar a desconfiança, o artista passou a usar uma blusa que o identificava e falava do intuito do projeto.
“Algumas pessoas até fechavam a janela do carro quando eu me aproximava. Pensei diversas vezes em desistir, mas, em três meses, zerei o estoque do CD. Em certo momento, ainda passei a distribuí-lo”, comemora.
Outra pessoa que busca melhores condições financeiras no trânsito é o venezuelano Alfredo Arich, 27. Há quase um mês no Espírito Santo, ele veio para o Brasil à procura de emprego, ao lado de mais 10 familiares.
Seu maior sonho é poder trazer os outros familiares que permaneceram na Venezuela e, por isso, tenta angariar fundos nos principais sinais de Guarapari. “Ainda não tenho o dinheiro todo, mas estou me sentindo acolhido no País”, afirmou.
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