Estado tem 342 mil pessoas com depressão, diz IBGE
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O Brasil tem 16,3 milhões de pessoas diagnosticadas com depressão. É o que mostra a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso equivale a 10,2% da população com mais de 18 anos que receberam diagnóstico da doença por um profissional de saúde mental.
No Estado, a estimativa do IBGE é de que 11,3% das pessoas de mais de 18 anos foram diagnosticadas com o distúrbio, o equivalente a 342 mil pacientes.
Ao contrário do que muitos pensam, a depressão não significa estar triste. A doença vai muito além disso e é grave.
De acordo com especialistas, sintomas como diminuição do interesse ou do prazer em atividades físicas, perda ou ganho de peso sem estar em dieta, cansaço ou redução de energia, sentimentos de inutilidade, de culpa excessiva e capacidade diminuída para pensar ou se concentrar são um alerta, pois indicam um quadro depressivo.
“É uma doença com múltiplas causas. Elas vão variar entre fator genético, traumas e acontecimentos importantes na vida, estilo de personalidade e de vida. O indivíduo não precisa ter só um sintoma. Às vezes, é o somatório de uma ou duas dessas causas que vai deflagrar a depressão”, explicou a psiquiatra Laís Fardim.
Segundo Laís, a depressão é uma doença provocada por um desequilíbrio químico no cérebro, causado por esses fatores.
Saber quais são os fatores de risco para a depressão pode permitir que a pessoa mude hábitos e diminua as chances de desenvolver a doença, diz a psiquiatra. “A gente tem como melhorar vários riscos ambientais e reduzir as chances”.
Médicos ainda alertam para a importância da presença familiar, atenção aos sinais de depressão e o apoio no momento do diagnóstico. Muitos pacientes precisam lidar com o medo do preconceito e, por conta disso, evitam pedir ajuda.
“O primeiro ponto é acolher a pessoa e incentivar o tratamento. Ter empatia, se colocar no lugar do outro, entender que aquilo é uma doença que causa uma série de sintomas”, orientou o psiquiatra Jairo Navarro.

Doença após abuso sexual na adolescência
Uma universitária, de 23 anos, contou que foi diagnosticada com depressão na adolescência. Falando sob condição de não ser identificada, ela relatou que, aos 14 anos, depois de ser vítima de abuso sexual, passou a chorar muito, se automutilar e não querer sair de casa.
“Foi quando caiu a ficha e vi que precisava falar com meus pais. Além do trauma do abuso, tinha a mudança de Minas Gerais para o Espírito Santo, que foi traumática”.
A estudante buscou ajuda médica, mas não conseguia manter o tratamento corretamente porque estava sempre se mudando, por conta do trabalho do pai.
Hoje, a doença está estabilizada, segundo ela. “Minha depressão é bem severa, não posso ficar sem tratamento. Meus pais têm dificuldades em entender e aceitar, mas nunca me negaram tratamento. Desde que conversei com eles, me levaram ao psiquiatra e iniciei as medicações e a terapia”, disse a jovem.
SAIBA MAIS
Dados
- No Espírito Santo, a estimativa é de que 11,3% das pessoas de 18 anos ou mais de idade receberam diagnóstico de depressão por profissional de saúde mental, isto é, 342 mil pacientes. Desses, menos da metade usava medicamentos para depressão (49,4%).
- Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, no Espírito Santo, em parceria com o Ministério da Saúde. Eles foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Doença
- O transtorno depressivo maior, como é chamado por médicos, trata-se de distúrbio mental caracterizado por perda de interesse em atividades, prejudicando significativamente o dia a dia.
- Diferente da tristeza passageira, que é normal e afeta as pessoas ao longo da vida, a depressão se trata de um estado permanente de tristeza e melancolia.
- É uma doença com múltiplas causas que incluem uma combinação de origens biológicas, psicológicas e sociais de angústia.
- Indicam um quadro depressivo sintomas como diminuição do interesse ou prazer em atividades físicas, perda ou ganho de peso sem estar em dieta, cansaço ou redução de energia, sentimentos de inutilidade e culpa excessiva, e capacidade diminuída para pensar ou se concentrar.
Tratamento e cura
- Há cura, tratamentos e como prevenir a depressão. A melhor forma de combater o transtorno antes do mesmo dar os primeiros sinais é cultivando um estilo de vida saudável, praticando exercícios físicos e cuidando da mente.
- O tratamento vai depender do grau depressivo do paciente.
- Depressões leves podem não precisar de medicamentos, somente acompanhamento psicológico.
- Depressão moderada e as graves vão depender de medicamentos e de acompanhamento.
Fonte: Especialistas consultados.
Maioria diz ter boa saúde, mas não pratica exercícios

Os dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, apesar de apenas 29,4% dos capixabas com 18 anos ou mais afirmarem que praticam alguma atividade física, a maioria diz que tem boa saúde.
Do total de entrevistados, 66,6% autoavaliaram sua saúde como boa ou muito boa. Para a cardiologista Kátia Vasconcellos, porém, não é possível dizer que se é saudável sem a prática de atividade física.
“O exercício físico ajuda a regular os níveis de pressão arterial e diminui o processo inflamatório no corpo. Já a falta de atividade física gera estresse, aumento de pressão, dos níveis de insulina e, com o tempo, pode gerar uma diabetes, por exemplo”, observou a cardiologista.
O percentual de pessoas que tiveram o consumo recomendado de frutas e hortaliças foi de 15,7%. Em relação à bebida alcoólica, 26,7% dizem consumir álcool uma ou mais de uma vez por semana.
Já o consumo abusivo de álcool (cinco ou mais doses em uma mesma ocasião), nos últimos 30 dias, foi admitido por 18,2% da população adulta.
Medicamentos são usados por 49% dos pacientes

Uma outra realidade apontada pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é da quantidade de pessoas no Estado que tomam medicação para o tratamento da depressão.
Dos que confirmaram que já foram diagnosticados com a doença, 49,4% afirmaram que usavam medicação para tratamento, ou seja, mais de 160 mil pessoas no Espírito Santo.
Outro dado que chama a atenção é que, dentro da população que afirmou ter tido diagnóstico de depressão, apenas 23% faziam psicoterapia, enquanto 50,3% receberam assistência médica para depressão nos últimos 12 meses anteriores à data da entrevista.
O médico psiquiatra Jairo Navarro explicou que, hoje, o mais indicado para o tratamento da depressão moderada e grave é o uso da medicação, associado à psicoterapia.
“O que mais preocupa nos dados apresentados é a baixa incidência de pessoas que estão fazendo a psicoterapia entre os pacientes deprimidos. Se há 49,4% das pessoas usando medicação e 23% fazendo psicoterapia, então temos um grupo grande de pessoas sem um tratamento, e isso chama a atenção”.
Ele alertou ainda que uma das preocupações hoje é com o uso de medicamentos de forma indiscriminada ou inadequada. “Muitas pessoas interrompem o uso no meio do tratamento, além de outras conseguirem medicamentos sem indicação médica. Há riscos”.
Presidente da Associação Psiquiátrica do Espírito Santo, o médico psiquiatra Valdir Campos ressaltou que a depressão é uma doença incapacitante, se não tratada, mas parece haver preconceito em relação ao tratamento medicamentoso ou com psiquiatra.
“O tratamento com medicamentos é fundamental para quadros depressivos moderados e graves. Os antidepressivos melhoram quadros em torno de quatro semanas”.
Já o médico psiquiatra Valber Dias afirmou que os dados apontam a dificuldade de acesso que muitas pessoas têm ao tratamento, principalmente à psicoterapia. “As recaídas em caso de depressão são comuns, e a psicoterapia ajuda muito os pacientes”.
Ele revelou que uma outra pesquisa, da Organização Mundial da Saúde (OMS), também mostrou que 49% dos pacientes com depressão não tratavam a doença. “Das pessoas que tratavam, metade não o fazia de forma adequada”, destacou o psiquiatra.
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