Espírito Santo tem uma tentativa de fraude a cada 2 minutos
Entre os golpes mais comuns estão as transações com cartão de crédito não autorizadas, cobrança de boletos e via Pix
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O Espírito Santo registrou 62.741 tentativas de fraude no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 23,6% em relação ao mesmo período do ano passado – e 0,7 ponto percentual acima da média nacional.
O número de ocorrências equivale a 1,8% do total nacional, segundo o gerente-executivo de Prevenção a Fraudes do Serasa Experian, Luiz Filipe Morra. “No Espírito Santo, são 29 tentativas por hora, o que equivale a uma a cada 2 minutos”, destacou.
O Sudeste é a região mais visada pelos golpistas, concentrando 47,2% de todas as tentativas de fraude no País, com São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais liderando o ranking.
Ele revela que a fraude mais comum é a chamada transacional com cartão de crédito não autorizado, seguida por pagamentos de boletos e transações via Pix.
“Cerca de 41,9% de todas as fraudes que observamos no Brasil estão relacionadas a pagamentos on-line com cartão de crédito dos quais o titular não tinha conhecimento. Na sequência, as transações por Pix, que são feitas para contas de laranja ou contas de destino fraudulento, e o pagamento de boletos falsos”, detalhou.
O titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), delegado Brenno Andrade, citou outros crimes recorrentes, como o golpe do WhatsApp, o golpe do falso advogado e fraudes com o uso de inteligência artificial — todos com a finalidade de obter vantagens ilícitas fraudulentas.
Eduardo Pinheiro, especialista em crimes cibernéticos, reforçou que a melhor forma de se proteger é desenvolver uma cultura de segurança digital, adotando hábitos seguros no uso da internet e das tecnologias, além de se manter sempre informado sobre os golpes mais comuns e as novas táticas utilizadas pelos criminosos.
Para quem foi vítima, ele orienta que é fundamental reunir todas as provas disponíveis — como prints de conversas, e-mails, comprovantes de transações e números de telefone utilizados pelos golpistas.
“Com esse material em mãos, a vítima deve imprimir os documentos e comparecer à delegacia mais próxima de sua residência para registrar a ocorrência e formalizar a denúncia do crime”, recomendou.

Problema na emissão de identidade foi reduzido
Quanto aos números informados pelo Serasa, o perito oficial criminal do Instituto de Identificação, Eric Vinicius Santa Clara Silvano, destacou que a quantidade de fraudes não tem relação com a emissão de documentos oficiais de identidade pela Polícia Científica.
Segundo ele, com a implementação do Sistema Automatizado de Identificação Biométrica (ABIS) pela Polícia Científica em 2023, a possibilidade de fraude na emissão da carteira de identidade foi reduzida, pois ela é confrontada com todo o banco de dados da identificação civil, passando ainda pela análise dos Peritos Oficiais Criminais do Instituto de Identificação.
Desde a época, a Polícia Científica produziu 95 laudos relacionados a tentativas de fraude na emissão de carteira de identidade. “Com o avançado do sistema, aliado ao trabalho dos peritos, a chance hoje de uma pessoa ter duas carteiras de identidade com nomes diferentes e os mesmos dados biométricos (fotografia e impressões digitais) no Estado é bastante reduzida”.
Entretanto, ele alertou para o avanço da criminalidade digital, com o uso de dados pessoais vazados — como documentos, CPF, endereço, e-mails e senhas — vendidos na deepweb.
“Com essas informações e fotos, criminosos utilizam técnicas sofisticadas, incluindo inteligência artificial, para burlar sistemas de verificação facial (liveness check), considerados menos seguros que a identificação por impressões digitais”.
Outro ponto que merece ser destacado está relacionado com os crimes que envolvem a falsificação de assinaturas. É no Departamento de Documentoscopia e Merceologia Forense que se realiza o exame grafotécnico, o qual inicialmente é utilizado para verificar a autenticidade de uma assinatura presente em documentos de contrato, como os usados em operações de crédito ou financiamento, quando suspeitos de fraudes.
“O objetivo é determinar se a assinatura foi realmente feita pela pessoa a quem é atribuída ou se houve falsificação, imitação ou adulteração. Caso se confirme a falsidade, é realizado o exame de autoria com o intuito de descobrir o verdadeiro autor do delito”, disse a chefe do Departamento de Documentoscopia e Merceologia do Instituto de Criminalística, Camila da Cunha Oliveira Viana.
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Saiba mais
As principais fraudes
Com cartão de crédito
O fraudador obtém os dados do cartão de crédito — geralmente por meio de clonagem ou vazamentos de informações — e faz compras em nome da vítima, sem autorização.
Boletos falsos
Os criminosos emitem boletos muito semelhantes aos legítimos — com CNPJ, logotipo e código de barras — ou enviam links falsos de Pix. As vítimas geralmente recebem essas cobranças por WhatsApp, e-mail ou SMS e efetuam o pagamento acreditando se tratar de uma cobrança verdadeira.
Débitos não autorizados
São cobranças recorrentes que surgem sem o consentimento da pessoa — como serviços de assinatura ou mensalidades debitadas automaticamente, sem que a vítima tenha autorizado previamente.
Golpe do WhatsApp
O “VELHO” golpe do WhatsApp continua sendo uma fraude frequente. Em um dos exemplos, por meio de sites de compra e venda, golpistas acessam os anúncios e o número de telefone dos anunciantes.
Fingindo ser funcionários da plataforma, entram em contato com a vítima e solicitam um código sob o pretexto de ativar o anúncio — na verdade, trata-se do código de verificação do WhatsApp.
Ao digitá-lo, a vítima perde o acesso ao aplicativo, pois os criminosos ativam sua conta em outro aparelho celular. Com isso, recuperam o histórico de conversas, acessam os contatos e passam a pedir dinheiro a parentes e amigos da vítima, se passando por ela.
Uso de inteligência artificial
Vídeos falsos criados com o uso de inteligência artificial têm sido divulgados por criminosos nas redes sociais com o objetivo de enganar vítimas e obter vantagens ilícitas.
Uma das estratégias envolve o uso de deepfakes — tecnologia que permite manipular rostos e vozes de figuras públicas para que pareçam dizer algo que nunca disseram, promovendo, por exemplo, anúncios falsos e campanhas fraudulentas.
Golpe do falso advogado
Os golpistas acessam virtualmente dados de processos que são públicos e estão em tramitação na Justiça. De posse de informações, eles entram em contato com os clientes se passando pelo advogado contratado ou pelo respectivo escritório de advocacia.
Como parte do plano, eles pegam uma foto do advogado geralmente nas redes sociais, em contas que são abertas, e, com essa imagem, criam uma conta no WhatsApp.
Se passando pelo advogado, entram em contato com a vítima por mensagem e afirmam que ganharam a ação judicial, o que é mentira. Na sequência, passam dados do processo e falsificam documentos da Justiça na tentativa de provar a veracidade da informação.
No contato, alegam que é necessária fazer uma transferência bancária via Pix ou pedem para o cliente pagar um boleto alegando que isso vai agilizar o recebimento da indenização, por exemplo. Após a transferência, bloqueiam o contato da vítima.
Fonte: Serasa Experian e Polícia Civil.
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