Especialistas afirmam que cálculo para definir peso ideal está ultrapassado
Para especialistas, o IMC deve ser revisto, por só considerar peso e altura da pessoa e não levar em conta gordura, massa e estrutura óssea
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Muito utilizado entre as pessoas para saber se possuem o “peso ideal”, o índice de massa corporal (IMC) pode estar com os dias contados. Por apresentar algumas inconsistências, especialistas já o consideram um método ultrapassado.
O IMC é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um padrão de medida, cujo cálculo é feito dividindo os quilos do paciente pela sua altura.
Porém, embora tenha relevância internacional, o IMC desconsidera características importantes para a avaliação corporal dos pacientes, conforme explica a endocrinologista Gisele Lorenzoni.

“Levando somente duas variantes em conta – peso e altura –, outros parâmetros são esquecidos, como massa muscular, gordura e estrutura óssea”, afirma.
Ela compara, por exemplo, os IMC de um atleta saudável, fisiculturista e o de uma pessoa com obesidade. “Há uma chance de as duas possuírem o índice igual, mas não quer dizer que o atleta está em sobrepeso. Nesse caso, seria só um excesso de músculos, o que naturalmente pesa mais na balança”, comenta.
Além disso, a medida também mostrou-se ineficiente ao tentar “prever” a saúde de uma pessoa. Em 2016, um estudo feito nos Estados Unidos comparou o IMC de 40 mil adultos e, ao mesmo tempo, a propensão de desenvolverem doenças.
Quase metade dos classificados com sobrepeso e cerca de um quarto dos obesos eram metabolicamente saudáveis. Por outro lado, 31% das pessoas com índice “normal” não eram saudáveis.
A nutróloga Mariana Comério ressalta que, entre os principais prejuízos que esse cálculo pode trazer estão as classificações equivocadas do perfil de cada pessoa.
“Se um paciente saudável tenta uma vaga de policial, por exemplo, e está classificado como obeso, ele pode até ser desclassificado. Traz um estereótipo que não é fidedigna e prejudica o paciente”.
O mesmo é defendido pela nutróloga Amanda Weberling, que destaca os riscos de pacientes com o índice “bom” – mas que não praticam exercícios físicos e comem mal – acharem que estão com a saúde em dia. “Um IMC normal não significa que a pessoa está livre de doenças. O índice não é um vilão, mas precisamos, sim, repensá-lo”.
Índice é utilizado para liberar cirurgias bariátricas
Embora já não seja tão aplicado por médicos dentro dos consultórios, o índice de massa corporal (IMC) ainda é um fator obrigatório para permitir a realização de cirurgias bariátricas.
Uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), publicada em 2016, prevê que só podem recorrer ao procedimento os pacientes que tenham IMC superior a 35 kg/m2 e que sejam afetados por ao menos uma comorbidade.
Entre algumas das doenças listadas pela medida, e que são classificadas como “ameaça à vida”, estão: diabetes, hipertensão arterial, asma grave não controlada, osteoartroses, hérnias, refluxo e outros.
“Diante do caso de alguém que deseja fazer a cirurgia, calculamos o IMC para diagnosticar se ele é obeso e, caso seja, qual o grau. Dependendo do resultado, isso interfere nas medidas que iremos tomar”, explica a endocrinologista especialista em Medicina Esportiva Gisele Lorenzoni.
Além disso, o cálculo também é feito para avaliar a necessidade da pessoa precisar, de fato, recorrer ao procedimento médico, já que ele possui alta complexidade e muitos riscos.
SAIBA MAIS
Como é o cálculo do IMC?
o índice de massa corporal (imc) é medido dividindo o peso da pessoa pela sua altura ao quadrado (peso / altura x altura).
Exemplo de uma pessoa de 80 kg e 1,75m de altura: multiplica-se 1,75 x 1,75, que dá 3,06. Depois, divide-se 80 por 3,06. O resultado dessa conta (26,1) é o IMC da pessoa.
O resultado classifica as pessoas em: baixo peso (IMC menor que 18,5), peso normal (18,5 a 24,9), sobrepeso (25 a 29,9) ou obeso (30 ou mais).
Quando surgiu?
o método foi desenvolvido pelo belga Lambert Quételet no fim do século 19, mas só se popularizou na década de 1970 pelo fisiologista de Minnesota Ancel Keys.
Na época, o médico queria mudar a forma como a avaliação corporal das pessoas era feita – comparando o peso “ideal” de alguém com os pesos médios de outros pacientes da mesma altura, idade e gênero.
Por que deve cair em desuso?
se comparar o imc de um fisiculturista com a de uma pessoa obesa, por exemplo, é possível que tenham o mesmo resultado. Porém, isso não significa que os dois possuem a mesma qualidade de saúde, o que pode interferir no acompanhamento médico.
O mesmo vale para pessoas com IMC “bom” e que não são saudáveis, seja por terem uma má alimentação, ou não praticarem exercícios, mas acreditam estar com a saúde em dia.
Para que ainda é utilizado?
essa medida é fator obrigatório para permitir a realização de cirurgias bariátricas, segundo resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM).
Há benefícios?
De acordo com a nutróloga Amanda Weberling, o IMC ajuda a embasar estudos científicos que analisam grandes populações, por serem de fácil acesso e pouco complexos.
Além disso, também auxilia na elaboração da dieta de pacientes que estão internados nos hospitais e não são pesados.
Qual seria a medição ideal?
Incluindo massa muscular, gordura corporal e estrutura óssea dos pacientes. Para isso, são usados dois instrumentos: o adipômetro (mede a quantidade de gordura em algumas partes do corpo) e o exame de bioimpedância (feito em balanças especiais).
Fonte: Especialistas consultados.
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