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Cidades

"Ele poderia ter nos procurado", diz padre sobre morador que denunciou barulho de sino

Reclamação virou denúncia contra paróquia de Guarapari


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Imagem ilustrativa da imagem "Ele poderia ter nos procurado", diz padre sobre morador que denunciou barulho de sino
padre Diego Carvalho disse que está à disposição dos órgãos competentes para dialogar a respeito dos sinos |  Foto: Roberta Bourguignon

Incomodado com o som alto do sino da igreja Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Guarapari, um morador do  Centro do município denunciou no Ministério Público do Espírito Santo (MPES) o barulho causado pelas batidas do instrumento.

Segundo o cidadão, o ruído emitido é extremamente alto todos os dias e ocorre em horários diversos. O objetivo com a reclamação é que o volume do sino diminua. 

O sino, que é eletrônico, bate cinco vezes por dia, por um minuto. As batidas ocorrem às 6h, 9h, 12h, 15h e 18h. Esses horários correspondem às horas Canônicas, conforme história da Igreja.

Ao jornal A Tribuna, familiares do denunciante explicaram que o pedido não é pelo fim do sino, e sim pela revisão do volume das batidas. 

“Ele está sofrendo ataque de todos os lados e foi mal interpretado. Ele não está processando o padre. O que ele fez foi uma denúncia no Ministério Público pedindo para o órgão competente averiguar o volume das batidas do sino”, explicou um dos familiares, acrescentando que a família é católica.

Descontente com a denúncia, o pároco da igreja, o padre Diego Carvalho, afirmou que o sino  está no local desde a fundação da igreja e é um marco para a cidade. 

O padre disse, ainda,  que se os sinos estão com os decibéis acima do permitido pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), a Igreja irá acionar a empresa responsável pela manutenção.

“Coloco-me à disposição dos órgãos competentes para dialogarmos a respeito dos sinos, como qualquer outro assunto que envolva a Paróquia Nossa Senhora da Conceição”, finalizou o padre. 

A Prefeitura de Guarapari informou que o morador  também fez um registro no  Disque Silêncio do município. “Vale ressaltar que de acordo com a lei municipal não  há impedimento para o funcionamento do sino, uma vez que trata-se de manifestação religiosa”.

Já o MPES  informou que instaurou procedimento para apurar os fatos e solicitou à prefeitura informações sobre os horários e a altura do som do sino. “O MPES ressalta que não ingressou com ação judicial referente ao caso, até porque os fatos ainda estão em apuração”.

Procurada, a Arquidiocese de Vitória não se pronunciou até o fechamento desta edição.

“Ele poderia ter nos procurado”

 Descontente com a denúncia, o pároco da igreja, o padre Diego Carvalho, desabafou com os fiéis durante a missa, e disse em entrevista ao jornal A Tribuna que o morador poderia ter procurado a igreja para a reclamação, já que é a primeira vez que ouve algo sobre o assunto. 

A Tribuna – O senhor acredita que a denúncia poderia ter sido feita na igreja? 

Padre diego carvalho – Causou um certo descontentamento para mim, porque o sino da matriz está ali desde a fundação daquela igreja, que é um marco para a cidade. Acabei ficando muito triste com a situação toda, e expondo para a comunidade meu descontentamento. Esse tipo de ação, antes de ir para outra instância, deveria ter nos procurado.

O senhor não foi procurado?

Ninguém nunca me procurou para reclamar a respeito do barulho de um sino, ou de um mal que o sino possa causar à família ou à pessoa. Esse tipo de ação deveria passar pelas vias do diálogo, do respeito.

 Nós vivemos em uma sociedade onde, amparados pela constituição, cada um pode professar a fé que deseja, cada um pode pensar do seu jeito e viver do seu jeito, do jeito que seu coração pede. Se o sino causa um mal-estar a alguém, procure os responsáveis pela comunidade. O padre administra a comunidade com tantos outros leigos. 

O sino tem um significado especial?

Nós católicos, quando escutamos o barulho dos sinos, nós sempre pensamos na voz de Deus. Os sinos têm um sinal pedagógico, na história das cidades, da civilização, para catequizar, chamar atenção e até mesmo para avisar de algo que aconteceu ou estaria para ocorrer. 

Acredito que o barulho dos sinos é algo tão pequeno em uma cidade onde nós temos tantas pessoas nas ruas, crianças no semáforo pedindo coisas para sobreviver, pessoas em vulnerabilidade social.

Sino com função social e religiosa

Inventado há cerca de 4.600 anos, com primeiros registros de uso na China, o sino, no início, tinha como principal objetivo anunciar acontecimentos religiosos e sociais de uma comunidade.

 O instrumento está entre as mais primitivas formas de comunicação da sociedade, segundo  o historiador José Amaral Filho.  

“Em algumas cidades, principalmente sedes de bispados, eles funcionavam como um veículo de comunicação em massa, como uma espécie de rádio, em que tipos de toques davam o ritmo de vida das vilas e cidades”, explicou.

“Era por eles que se sabia quem morreu, nasceu, foi batizado, alguma tragédia, alguma festividade, se chamavam reuniões, invasões, vitórias”, completou o historiador. 

Em cidades mais tradicionais, como Roma, a cultura mantém viva até hoje a tradição dos sineiros – tocadores que conhecem a linguagem dos sinos e a executam todos os dias.  

Com a modernidade e o surgimento da imprensa, no fim do século XIX e início do século XX, os sinos deixaram de lado a função social e passaram a ter mais a função religiosa, segundo o padre Kelder José Brandão Figueira.

 Geralmente, o sino toca às 6h, às 9h, às 12h, às 15h e às 18h, mas varia conforme a comunidade. “Há muitas igrejas que não têm mais o uso do sino. É mais tradição, faz parte da estética e da identidade católica cristã”, explicou o padre.

Católicos e evangélicos vão fazer protesto amanhã

Católicos e evangélicos irão se reunir contra a reclamação sobre o sino da igreja, em Guarapari, feito por um morador e vizinho da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Centro da cidade. Eles  realizarão um protesto amanhã, às 17h30, na frente da igreja. 

O vigilante Jucimar Batista, 38, que está à frente do ato, declarou que se calar neste momento seria uma covardia. “Não sou católico, sou evangélico, e estamos tristes com essa situação. Não é questão de religião, é questão de intolerância religiosa. É hora de nos unirmos em prol dessa causa”, disse. 

A auxiliar de produção Manuela Saith, 38, que também organiza o protesto, afirmou que vê com tristeza a atitude do morador. 

 “Traz uma mistura de tristeza e revolta, de saber que um morador quer o fim do sino da igreja. Vemos que é o que estamos vivendo cada vez mais”, afirmou.

“Hoje, as igrejas estão sendo muito perseguidas. Quem mora no Centro ouve diferentes tipos de barulho, e agora o sino vem incomodar? Não pode ser assim”, completou Manuela.

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