Dois em cada três estudantes precisam de reforço escolar
Escolas elaboram estratégias para compensar as lacunas educacionais decorrentes dos desafios do ensino remoto
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Com a retomada do ensino presencial após um longo período de educação remota, as famílias brasileiras percebem um novo desafio: compensar as lacunas de aprendizagem.
Dois em cada três estudantes precisam de reforço escolar em Matemática e Português, apontam pais e responsáveis de estudantes de escolas públicas de ensino fundamental e médio.
Os dados são da pesquisa “Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e Suas Famílias”, realizada pelo Datafolha a pedido do Itaú Social, da Fundação Lemann e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgada em fevereiro de 2022.
A doutora em Educação Cleonara Schwartz analisa que os conteúdos programáticos trabalhados durante o ensino remoto deixam lacunas de aprendizagem aos alunos, principalmente pela mudança na relação aluno-professor e pela desigualdade social.
“O reforço escolar é fundamental, com revisão dos conteúdos trabalhados no ensino remoto. Só assim pode ser feita uma introdução gradativa de novos conteúdos. A educação remota na pandemia cumpriu um papel de manter o vínculo do aluno com a escola, mas a efetividade do aprendizado é questionável”.
A gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, argumenta que outros métodos educacionais precisam ser aliados com o reforço escolar.
“O reforço é importante e deve ser adotado com outras estratégias educacionais, como um trabalho constante de avaliação de aprendizagem, monitoramento de avanços e desafios, e formas de ensino que engajem os estudantes”.
Além do reforço escolar para conteúdos programáticos, o presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Moacir Lellis, reforça a necessidade de compensar as lacunas socioemocionais.
“As nossas crianças estão psicologicamente afetadas, após os dois anos anteriores da pandemia. Elas precisam de apoio emocional com a retomada presencial”.
Segundo a pesquisa do Datafolha, 2 em cada 10 estudantes corriam o risco de abandonar a escola, na percepção das famílias.
Escolas buscam estratégias
As escolas do Estado elaboram estratégias para compensar as lacunas educacionais decorrentes dos desafios do ensino remoto durante a pandemia. Além de reforço programático, há projetos de intervenção socioemocional.
Nas escolas estaduais foram implementadas aulas de nivelamento nas disciplinas de Matemática, Português e nas áreas Ciências da Natureza e Ciências Humanas.
São feitas, também, aulas de reforço e recuperação em todas as escolas, em Matemática e Português, de acordo com a Secretaria do Estado de Educação (Sedu).
O Colégio Salesiano de Jardim Camburi faz uma análise de rendimento dos alunos para traçar estratégias de intervenção específicas para cada realidade.
A professora Geliane de Souza Lima, por exemplo, atua no acompanhamento de alfabetização dos alunos, em contraturno, como o pequeno Vitor Barreto de Barros, do 1º ano do Ensino Fundamental.
A supervisora pedagógica da instituição, Gyselle Massini, explica que a análise de rendimento torna a intervenção pedagógica mais efetiva.
“Entendemos as necessidades de cada aluno e, assim, conseguimos agir para desenvolvê-los e preencher as lacunas, de acordo com o processo de cada um”.
Já o Centro Educacional Leonardo da Vinci realiza momentos individuais entre aluno e professor para reforço dos conteúdos, além de apoio pedagógico em Matemática e Português e da retomada presencial de outros projetos, como as viagens acadêmicas, por exemplo.
No Colégio Sagrado Coração de Maria, há recuperação do conteúdo programático e um projeto de acolhimento socioemocional em sala de aula.
O Centro de Ensino Charles Darwin implementou um plano de revisão de conteúdos e oficinas de reforço para estudantes.
Alfabetização mais afetada
Com a relação aluno-professor e o convívio social como partes fundamentais do processo educacional, a alfabetização de crianças foi a área mais afetada pela pandemia, avaliam especialistas.
As lacunas na alfabetização fazem, inclusive, com que as crianças iniciem o domínio da linguagem escrita mais tarde.
A doutora em Educação Cleonara Schwartz explica que a mediação do professor de educação infantil é ainda mais importante, justamente pelo papel em construir um ambiente social afetivo para que a criança se aproprie dos aprendizados.
“As crianças precisam de uma mediação mais específica dos professores e, durante o ensino remoto, tivemos as maiores perdas na alfabetização. Foi a área mais afetada e muitos alunos chegam ao terceiro ano sem terem sido efetivamente alfabetizados”.
O presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe-ES), Moacir Lellis, destaca que a educação remota tem especificidades que afetam mais as crianças em alfabetização.
“As crianças em alfabetização precisam do convívio social. Elas foram as mais afetadas. Uma criança não mantém atenção em frente a uma tela por horas”.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 40% das crianças brasileiras com 6 ou 7 anos de idade não sabiam ler ou escrever em 2021.
SAIBA MAIS
Opinião das famílias
- 71% dos estudantes precisam de apoio em Matemática
- 70% dos estudantes precisam de apoio em Português
- 86% dos alunos que retornaram às atividades presenciais estão mais animados.
- 80% dos alunos que retornaram às atividades presenciais estão mais otimistas com o futuro.
- 76% das crianças em alfabetização precisam de mais atenção das escolas.
- 83% dos estudantes que retornaram às atividades presenciais estão evoluindo no aprendizado.
Fonte: Pesquisa “Educação Não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e Suas Famílias”
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