Doenças “invisíveis”: Pacientes esperam até 10 anos para ter diagnóstico
Sintomas silenciosos dificultam diagnóstico
Escute essa reportagem
Por causa da falta de sinais ou o silêncio dos sintomas, o diagnóstico das doenças “invisíveis” é um desafio para os médicos. De acordo com estudos, os pacientes chegam a ficar até 10 anos sofrendo com o problema sem conhecer as suas causas.
Um exemplo, segundo a ginecologista e obstetra Anna Carolina Bimbato, é a endometriose. “É uma doença de difícil diagnóstico. A média é de 10 anos entre o início dos sintomas e o diagnóstico. Apesar de apresentar muitos sintomas, a demora está em encontrar algum exame que acuse a patologia”.
A médica ressalta que a demora no diagnóstico agrava a doença e pode afetar a capacidade de ter filhos. “Além disso, a cólica menstrual pode ser intensa, a ponto de atrapalhar no trabalho ou nos estudos. Sem o diagnóstico, as queixas e ausências, devido à dor, podem soar como 'frescura'”.
Membro da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (SBED), a fisioterapeuta Juliana Barcellos de Souza salienta que, no caso da fibromialgia, a estimativa mundial é de que o paciente espera em torno de seis anos até o diagnóstico.
“O prazo é contado a partir da procura por tratamento. Antes disso, o paciente já está sentindo dor há um tempo”, pontua.
Em casos de doenças “invisíveis”, a reumatologista Ketty Lysie Machado explica que, para ter o diagnóstico, é necessário fazer a avaliação de diversos fatores.
“Ouvir com atenção o paciente, fazer avaliação clínica minuciosa, exame físico e, quando necessário, realizar exames complementares laboratoriais e de imagens. Muitas vezes, o exame sozinho pode não fazer o diagnóstico preciso, como muitas pessoas esperam. Por isso, é necessário haver uma relação médico-paciente de confiança”.
Um dos problemas que dificultam a identificação das doenças invisíveis é que os sintomas de muitas delas podem se confundir com os de outras patologias, como lembra o neurologista e pesquisador do Instituto D´Or Gabriel de Freitas.
“Esse é o desafio. São sinais e sintomas que não são específicos. Os exames complementares não chegam alterados e não há marcadores para essas doenças. Então, o diagnóstico é basicamente clínico, com exames excluindo outras doenças”.
Por vezes, a doença não apresenta sintomas já conhecidos para aquela patologia, como é o caso da depressão atípica, segundo o psiquiatra Valber Dias. “Nesse caso, o que confunde é o fato de o choro não ser o sintoma mais comum, por exemplo. Em vez de perder o apetite, o paciente engorda”, cita.
“Me chamam de 'Maria das Dores'”

A comerciante e artesã Eva Maria de Jesus Rodrigues, de 57 anos, convive com a dor há alguns anos. Ela sente várias dores, relacionadas à artrose, e foi diagnosticada com fibromialgia.
Mesmo com alto-astral, Eva diz que, às vezes, se sente solitária. “Sinto que as pessoas não têm ideia do que passo. Me chamam de ‘Maria das Dores’ porque sempre falo que está doendo. Com as medicações, melhora, mas é uma dor crônica”.
Só acho trabalho temporário”

A promotora de eventos Diany Ribeiro de Souza, de 24 anos, sofre com lúpus eritematoso sistêmico (LES) há seis anos e diz ser difícil conviver com as dores que a doença causa. O alívio, segundo ela, vem com o tratamento.
A jovem conta que, por causa da enfermidade, enfrenta dificuldades de arranjar emprego.
“É bem difícil, pois, no meu caso, vou precisar de um transplante. Desde que fui diagnosticada, só consigo achar trabalhos temporários, e isso dificulta ainda mais o tratamento”.
Ela diz que também costuma passar por prejulgamentos. “Várias vezes, ouvi as pessoas menosprezarem a minha dor, a doença. Elas dizem: 'mas nem parece que você tem nada!' Isso é muito ruim”.
Comentários