Descobertos novos vilões da mente
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Pesquisadores em saúde mental publicaram relatório com novos fatores de risco para a demência neurodegenerativa, quadro clínico que atinge 1,4 milhão de pessoas no País.
A demência apresenta sintomas que estão ligados à memória e à lucidez, envolvendo doenças como Alzheimer e Parkinson.
Publicado na revista científica The Lancet, o relatório trouxe três novos vilões para uma mente saudável: o consumo excessivo de álcool, o trauma craniano e a poluição do ar.
Esses três se juntam aos outros já publicados pelos cientistas: obesidade, fumo, depressão, baixo nível educacional, perda auditiva, hipertensão, baixo contato social, inatividade física e diabetes.
O estudo foi redigido por 28 especialistas da Comissão Lancet para Prevenção, Intervenção e Assistência à Demência. Segundo eles, ao evitar esses 12 fatores de risco, é possível reduzir ou prevenir 40% dos casos de demência.
Dentre os novos fatores, o mais reconhecido pelos especialistas é o trauma craniano. Segundo o geriatra Roni Chaim Mukamal, esse tipo de lesão resulta em menos “reserva cognitiva”, aumentando o risco de demência com o tempo.
“Os boxeadores e lutadores, por exemplo, apresentam traumas contínuos e acabam tendo lesões cerebrais, que, acumuladas, podem propiciar a demência”, explicou.
No caso do consumo de álcool, um dos problemas é a atrofia cerebral, segundo o neurocirurgião Alexandre Teixeira.
“O álcool é tóxico, e o excesso dele acelera o processo de atrofia, evoluindo para o quadro de demência”, disse. É tanto que existe uma demência diretamente ligada a esse fator: a demência alcoólica.
Apesar dos sintomas, em 1,4 milhão de brasileiros, mais da metade dos casos de demência não são notificados, de acordo com o neurologista Ivan Okamoto. “Ainda há a crença de que todo idoso vai ficar demente, mas temos de diferenciar o envelhecimento normal daquele que ocorre com demência”.
No relatório, os cientistas ressaltaram que “muitos fatores de risco se agrupam em torno das desigualdades, que ocorrem, principalmente, em grupos étnicos negros e minoritários”.
Poluição do ar é a principal novidade entre fatores de risco
A poluição do ar foi a grande novidade entre os novos fatores de risco para a demência. Estudos recentes levantaram a suspeita de que a inalação de partículas finas podem acelerar o declínio cognitivo, além de problemas já comprovados, como asma e câncer de pulmão.
Um estudo feito nos EUA com pacientes, por 11 anos, concluiu que mulheres mais velhas que moravam em lugares com índices de poluição altos apresentaram o dobro de casos de demência.
“O ar poluído possui substâncias tóxicas que podem comprometer o pulmão e o cérebro”, afirmou o geriatra Roni Chaim Mukamal.
SAIBA MAIS
O que é demência?
- A demência neurodegenerativa não possui cura e não pode ser revertida, apesar dos medicamentos capazes de controlar os sintomas da doença.
- Ela atinge o cérebro de pessoas idosas e está ligada a doenças como Alzheimer e Parkinson.
- No Brasil, a demência atinge 1,4 milhão de pessoas.
Pesquisa
- Um grupo de 28 especialistas publicou um relatório na revista científica britânica The Lancet, com fatores de risco para demência.
- Os cientistas fazem parte da Comissão Lancet para Prevenção, Intervenção e Assistência à Demência.
- Ao todo, são 12 fatores, sendo que três são novos.
Os 3 novos fatores
- Poluição do ar
- Consumo excessivo de álcool
- Trauma craniano
Os outros fatores
- Obesidade
- Fumo
- Depressão
- Baixo nível educacional
- Perda auditiva
- Hipertensão
- Baixo contato social
- Inatividade física
- Diabetes
Fonte: Revista The Lancet e especialistas consultados.
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