Crianças indígenas que escaparam da morte viram tema de documentário
Cineasta capixaba lançou filme sobre recém-nascidos e crianças mortos em tribos por serem deficientes ou gêmeos
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Crianças indígenas que escaparam da morte são protagonistas no documentário do cineasta capixaba João Luiz de Oliveira. O filme foi lançado no canal do YouTube do cineasta.
Pelo menos 13 tribos no País, segundo o cineasta, mantém a tradição de sacrificar bebês filhos de mães solteiras ou fruto de adultério, gêmeos e portadores de deficiências físicas e mentais.
Essas crianças são vistas como amaldiçoadas e acabam sendo envenenadas, enterradas viva ou abandonadas pela família para morrerem desnutridas.
“Não é todo mundo que sabe do infanticídio que ainda acontece nas tribos. As pessoas ficam chocadas com os documentários e dizem que isso precisa ser mais falado, debatido, para chegar ao fim”.
João Luiz se interessou em falar sobre o assunto após uma reportagem sobre a morte de 40 bebês na cidade de Caracaraí, Roraima.
“Em 2014, no mapa da violência do Brasil, foi descoberto que a cidade mais violenta não estava em São Paulo ou Rio de Janeiro, normalmente o eixo da violência. Era Caracaraí. A reportagem foi até lá e descobriu que a violência consistia na morte de crianças das tribos Yanomamis. Em um ano, quase 40 bebês foram sacrificados”.
Na tribo Suruwahá, no Amazonas, o cineasta conheceu a história de Kanani Hakani Suruwahá, condenada à morte aos 3 anos, após apresentar problema de crescimento. Os pais da índia se mataram para não ter de assassinar a própria filha. Mas, ainda sim, outros familiares deveriam matar a menina.
“Depois que os pais se mataram, o avô teve de assumir a responsabilidade de matar Kanani. O avô tentou flechar, e a flecha pegou no ombro dela. Ela tem a cicatriz até hoje. Kanani desmaiou e, quando acordou, antes de ser enterrada, começou a gritar e foi salva pelo irmão, que a pegou nos braços e a levou até um casal de pesquisadores que faziam estudos na região”.
A índia ficou sob os cuidados do casal Márcia Suzuki e Edson Suzuki, que mais tarde conseguiram adotar a menina, que hoje tem 26 anos e mora nos Estados Unidos.
Projetos de lei, como o 119/2015, conhecido como Lei Muwaji, são debatidos no Senado, após aprovação na Câmara dos Deputados, e preveem que a Justiça poderá determinar a retirada provisória de crianças da tribo, caso haja suspeita de que elas serão mortas.
João luiz de oliveira “Há muitos índios que não aceitam mais essa situação”
A Tribuna — Como foi ver essa realidade de perto?
João luiz de oliveira — Há muitos índios que não aceitam mais isso e fazem por pressão da tribo, não por escolha. Muitas famílias não querem matar as criança. As tribos que praticam o infanticídio, que não são todas, fazem isso por tradição.
O documentário aborda quais histórias?
Temos a história de quatro sobreviventes, e a história da Kanani é a principal. São os pais que adotaram ela que contam como tudo aconteceu. Depois de ter sido resgatada e levada ao médico, descobriu-se que Kanani não era portadora de doença física. Ela tem hipotireoidismo, e como não foi tratada, quando ela tinha 3s anos, era do tamanho de um bebê de oito meses, e não desenvolveu a fala. Mas depois dos tratamentos não apresentou sequelas físicas.
Teve a criança enterrada viva?
O Amalér foi enterrado vivo. A índia que o salvou foi avisada do fato e correu para o local. Ela levou duas horas para encontrar o lugar, e o desenterrou. Outra criança foi salva por um missionário que foi avisado há quilômetros de distância de uma criança deixada na plantação de abacaxi.
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