Conheça a Ilha dos Franceses, local que abriga 1.200 cobras no ES
Localizada em Itapemirim, litoral Sul do Estado, a Ilha dos Franceses virou morada de espécies raras e venenosas
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Um arquipélago de 2 mil m², a 4 km da orla de Itapemirim, litoral Sul do Estado, esconde 1.200 cobras entre as copas das árvores, as plantas rasteiras e as folhas no chão. A visitação à Ilha dos Franceses, que já era proibida por ser propriedade da Marinha do Brasil, agora passa a ser perigosa por ter se tornado morada de espécies venenosas, o que rendeu ao local o título de ilha das cobras.
Das 410 espécies de serpentes catalogadas no Brasil, 79 foram identificadas no Espírito Santo.
Do total, cinco espécies pertencentes ao gênero bothrops (as famosas jararacas) vivem apenas em ilhas, sendo quatro em ilhas de São Paulo, e uma, a bothrops sazimai, é restrita à Ilha dos Franceses, explica a coordenadora do programa de conservação da jararaca da Ilha dos Franceses, a bióloga Jane de Oliveira.
Na cidade, moradores explicam que essa ilha já foi acessível no passado, e os banhistas podiam visita-lá caminhando no período de maré baixa.
A pesquisadora acredita que, com a subida dos oceanos, algumas cobras ficaram isoladas na ilha que se formou e, por sofrerem modificações ao longo dos tempos, se tornaram diferentes da jararaca comum, a ponto de serem consideradas uma nova espécie.

Com a descoberta da nova jararaca que só existe na chamada “ilha das cobras”, veio também a confirmação de que se trata de uma espécie ameaçada de extinção.
A avaliação de ameaça é feita de acordo com critérios internacionais que incluem tamanho da área de ocorrência, conservação do ambiente, declínios e flutuações na população, entre outras especificações.
Mas a principal delas é por existirem apenas em um local e estarem sujeitas a desaparecer mediante qualquer distúrbio no ambiente em que vivem.
Diante da preocupação pelo fim da espécie, duas delas foram recolhidas da ilha como amostra e levadas para o Instituto de Pesquisa Científica Butantan, em São Paulo.
Jane de Oliveira, bióloga e coordenadora do programa
“Veneno para remédios e cosméticos”
As toxinas presentes no veneno das serpentes peçonhentas podem servir para a produção de remédios, cosméticos e cicatrizantes, além do soro antiofídico, diz a bióloga e coordenadora do programa de conservação da jararaca da Ilha dos Franceses, Jane de Oliveira.
- A Tribuna: O veneno das jararacas é usado em que tipo de produto?
Jane de Oliveira: As toxinas presentes no veneno das serpentes peçonhentas podem servir para a produção de diversos medicamentos, cosméticos e cicatrizantes e também do soro antiofídico.
- Como as cobras da Ilha dos Franceses são mapeadas?
Estamos usando uma tinta chamada tecnicamente de elastômero para marcar as cobras já analisadas. A tinta brilha no escuro e possibilita um melhor acompanhamento da vida delas na ilha.
- Ainda é uma estimativa de que tenha 1.200 cobras, ou esse número foi confirmado?
É natural que este número de indivíduos de uma espécie seja dado como estimativa por ser, na prática, impossível contabilizar todos. Então é feita uma amostragem da população e este número é estimado através de análises estatísticas.
- Duas espécies foram levadas para o Instituto Butantan. Qual o objetivo?
Ligia Amorin, que pertence à nossa equipe, está desenvolvendo a tese de doutorado dela com a reprodução desta espécie, e no Butantan ela pode fazer avaliações mais aprofundadas com equipamentos que só são possíveis em laboratório, como, por exemplo, o raio x para verificar se a fêmea está grávida.
Além disso, em laboratório é possível desenvolver estudos de comportamento importantes para a ciência.
- De que forma a Ilha dos Franceses ficou conhecida como a ilha das cobras?
A descoberta da espécie bothrops sazimai foi feita em 2016 por pesquisadores do Butantan. Em 2018 iniciei o projeto de monitoramento da espécie pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
- Como o projeto é desenvolvido em campo?
Nós desenhamos um projeto para entender as relações e as exigências ecológicas da espécie. Para isso, estudamos informações como abundância e densidade, distribuição dos indivíduos na ilha, uso do habitat, potenciais ameaças, além das já conhecidas, como reprodução, prováveis vírus que possam estar presentes no corpo da espécie, entre outras.
Há perigo em visitar a ilha?
- A visitação é proibida por ser propriedade da Marinha do Brasil, nem mesmo o desembarque é autorizado. As cobras são venenosas.
- Há outros animais raros nesse habitat?
Sim. Em breve publicaremos um artigo científico apresentando uma nova espécie encontrada.
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