Casal escolhe ruínas da Igreja de Queimados na Serra para celebrar casamento
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Estava tudo pronto para o casamento dos sonhos dos noivos Jade Sodré e Charle Nunes, moradores da Serra. Veio a pandemia do coronavírus e eles precisaram adiar a cerimônia que idealizaram, mas uma ideia a deixou super especial!
De forma intimista e respeitando os protocolos de segurança para evitar o contaminação pela Covid-19, os apaixonados se casaram nas ruínas da Igreja de Queimados, restaurada recentemente.
“Eu nasci em Serra Sede e falei para minha noiva que eu tinha um único desejo: casar na Serra. Como a igreja foi restaurada, tive a ideia de fazer o casamento lá. Conseguimos a liberação e realizamos nosso sonho no sábado (19)”, contou o noivo.

A cerimônia contou apenas com o pastor, os pais e irmãos dos noivos e duas testemunhas. Já o casamento com a presença dos padrinhos está previsto para julho de 2021, um ano depois da data que aconteceria a união se não fosse a pandemia.
Ensaio fotográfico
O responsável por registrar o momento foi o fotógrafo, Vinicius Aredes, 30 anos, que trabalha com fotografias de casamento e moda desde 2014.
O profissional contou que assim que os noivos falaram pra ele sobre a mudança do local da celebração e o que tinham pensado em fazer, ele aceitou no mesmo instante.
"Antes da pandemia, o casal havia se programado para celebrar o casamento em outro local. A única exigência do noivo era que fosse em um lugar na Serra, pois ele é morador do município há anos e tem paixão pelo local. Com a pandemia e todas as exigências e mudanças no âmbito das festas de casamento, surgiu a ideia de fazerem a cerimônia nas ruínas da igreja de Queimado, na Serra. Assim que os noivos me contaram, eu adorei a ideia eu disse logo de cara que aceitava", lembrou Aredes.

O fotógrafo orientou como o casal poderia ornamentar o lugar, para que os registros do momento ficassem como eles desejavam.
"Quando escolhemos o lugar pensamos em um local que provocasse este sentimento de amor pelos moradores da Serra, que pudesse ter a cerimônia religiosa, pois os noivos são evangélicos, que fosse ao ar livre devido a pandemia e que fosse bonito e bucólico como são as ruínas. Além disso, eles queriam que causasse uma experiência diferente tanto para os noivos quanto para os convidados. Deste modo, eu passei dicas de ornamentação, onde deveria ficar o altar e até falei com eles quais eram os melhores horários para que todo o momento ficasse registrado no estilo que eles queriam", explicou ele.

Aredes lembrou ainda que os convidados ficaram impressionados com a beleza do lugar.
"O local tem todo uma história por trás e mesmo que algumas pessoas já utilizassem as ruínas para ensaios fotográficos, ninguém nunca tinha pensado na possibilidade de fazer um casamento ali. Até então, era um lugar abandonado e inacessível. Os convidados ficaram admirados pela beleza do lugar e como a decoração combinou com todo o momento. Muitos deles relataram pra mim que não imaginaram como o local daria tão certo para um casamento", disse.
Como reservar o espaço para casamentos

A Prefeitura da Serra, por meio da Secretaria de Turismo (Setur), informou que após a restauração, é o primeiro casamento realizado nas ruínas da igreja de Queimados.
O casal que desejar utilizar o espaço para realizar o casamento, é necessário seguir os seguintes procedimentos:
Abrir um pedido no Protocolo Geral da Prefeitura, informando os seguintes dados:
- Data pretendida;
- Informar como acontecerá a cerimônia;
- Horário;
- Quantidade convidados;
Esses dados serão enviados para a Setur, que vai analisar a possibilidade de acontecer o casamento no local. Após isso, os interessados são orientados sobre a preservação do patrimônio histórico, e instruídos sobre limpeza da área, responsabilidade ambiental e poluição visual, com o objetivo de proteger o local e história.
História das ruínas do Queimado
As ruínas da igreja de São José do Queimado, são um importante monumento de resistência à escravidão no Espírito Santo, localizadas em Serra-Sede. Elas foram restauradas e estão prontas para receber a visita dos capixabas, assim que as autoridades em saúde determinarem.
Palco da Revolta do Queimado, quando, em 1849, negros escravizados se rebelaram por não receber a alforria prometida pelo trabalho de construção da Igreja de São José do Queimado, este local se tornou um dos mais importantes marcos da luta dos escravos pela liberdade no Espírito Santo.
São heróis desta insurreição Chico Prego, João da Viúva e Elisiário, entre outros negros que, na metade do século XIX, lideraram o grande levante, só debelado com reforços vindos do Estado do Rio de Janeiro.
Após conter a revolta, cinco negros foram condenados à morte. Entre eles estavam os principais líderes do movimento, mas, apenas um deles, Elisário, conseguiu fugir e desaparecer nas matas do Morro do Mestre Álvaro.
O projeto de restauração teve como objetivo resgatar o monumento, um museu a céu aberto, que guarda a sofrida história de segregação e desumanidade do Queimado.
Com sua conclusão, o sítio se torna ponto de inclusão e educação histórico, antropológico, patrimonial, ambiental e cultural, tendo em vista os marcos da trajetória e da memória do Queimado.
O propósito é atrair visitantes, esportistas, estudantes e pesquisadores ao local e constituir um espaço cultural público, democrático e inclusivo. O sítio inclui a Igreja e todo o seu entorno, além do cemitério antigo e paisagismo.
O trabalho de resgate do sítio histórico, uma demanda antiga do movimento negro capixaba e de toda sociedade, foi realizado pelo Instituto Modus Vivendi a partir de um acordo de cooperação técnica e financeira assinado entre a Prefeitura da Serra e o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades).
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