Bebês da pandemia precisam de mais atenção, diz estudo
Distância do convívio social e uso excessivo de tecnologia fizeram o desenvolvimento dos pequenos ser prejudicado
O sorriso é uma das formas mais puras e sinceras de conexão entre as crianças. Entretanto, com o isolamento social e o uso de máscaras, ficou mais difícil estabelecer essas interações.
O afastamento do convívio social, causado pelo medo da covid-19, aliado ao uso excessivo de tecnologia nesse período, provocou vários problemas para os pequenos, segundo estudos. Entre eles, estão dificuldades no desenvolvimento cognitivo, motor, da fala e até o medo de socialização.
Para a pediatra Fabiana Frasson, a falta de uma rede de apoio ao redor da criança é fator crucial. “Ela não brinca direito, não interage e isso acaba limitando o desenvolvimento do cérebro e até a coordenação motora”.
Para o coordenador da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Rodrigo Aboudib, o isolamento social sobrecarregou os pais, e muitos deles recorrem à tecnologia, que é prejudicial nesse contexto.
“Crianças e adolescentes usam de forma excessiva aparelhos como celulares, tablets e até a própria televisão. Com a pandemia, isso aumentou muito e já existem estudos que mostram a ligação do aumento do uso de telas com o suicídio infanto-juvenil”.
Fabiana afirma que a falta de estímulos e o contato excessivo com a tecnologia refletem no diagnóstico do pediatra.
“Nós, que conversamos diretamente com elas, vemos que tiveram problemas até com a fala. Se expressam muito pouco e isso pode até confundir a avaliação, pois há muita similaridade com o autismo. Costumo recomendar aos pais para que limitem o acesso à tecnologia. Um mês depois, a gente nota a diferença. Voltam mais comunicativas”, observa.
A SBP orienta que os pais evitem expor menores de 2 anos às telas. Para as crianças com idades entre 2 e 5 anos, o máximo recomendado é de uma hora por dia. Entre 6 e 10 anos, é aconselhado até duas horas por dia.
Para a pediatra Laís Fraga, a vacinação se torna fundamental para ajudar essas crianças a interagir mais com o mundo exterior.
“Traz mais segurança para os pais e para as crianças voltarem ao novo normal. É muito importante que a gente consiga uma cobertura vacinal, para que os filhos voltem a interagir na creche e no parquinho, sempre respeitando os protocolos da pandemia”.
Dificuldades de adaptação na creche
Os empresários Dhiego Rodrigues, de 39 anos, e Ana Paula Braun, de 34, têm dois filhos: Valentina, de 3 anos, e Vittório, de 11 meses, nascido durante a pandemia.
Segundo a mãe, a gravidez, aliada à pandemia, acabou impactando na vida de Valentina. “Nos isolamos totalmente e ela tinha convívio apenas com adultos. Agora que o Vittório nasceu, ainda tenho dificuldades, pois ela não consegue desgrudar de mim, nem interagir”.
Ana Paula crê que terá um processo árduo até a filha se adaptar.
“Matriculei a Valentina em uma creche, mas ela ainda não conseguiu entrar na sala. Exige muita paciência. É cansativo para nós, pais, mas estamos exercitando isso até ela se aclimatar de vez”.
SAIBA MAIS
Recomendações
- A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) defende que as escolas precisam se estruturar para que pais e filhos tenham a segurança necessária para o retorno às aulas presenciais diante da pandemia de covid-19;
- A SBP defende prioritariamente o direito das crianças em brincar e ter o convívio externo, ao ar livre e em contato com espaços naturais diversos e acolhedores, para a recuperação de sua saúde e bem-estar;
- Especialistas orientam que crianças e adolescentes devam ter, pelo menos, uma hora para brincar e conviver com a natureza, respeitando todos os cuidados com a pandemia.
- Fonte: SBP e especialistas consultados.
Pediatra viu filho passar por mudança de comportamento
A pediatra Ana Cláudia Bastianello, de 37 anos, sente na pele as dificuldades geradas pela pandemia do novo coronavírus para a criação dos filhos.
Ela é mãe de dois meninos: João Vicente, de três anos e dez meses, e Gabriel, de um ano e nove meses de vida.
Ambos estão crescendo em meio às restrições impostas pela pandemia, como distanciamento de familiares e amigos, além dos cuidados com a higienização, para evitar uma contaminação.
“João Vicente frequentava a escola quando a pandemia começou. Com o isolamento ficando mais rígido, ele ficou bastante agressivo”, conta a pediatra.
Ana Cláudia crê que os problemas provocados pela pandemia para as crianças vão além e ainda podem durar alguns anos.
“A gente tem vivido uma pandemia silenciosa. Temos um aumento do número de crianças com depressão, obesidade, desnutrição e muita coisa que a gente só vai ver mais para a frente”, completa a pediatra.
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