Aulas teóricas para tirar carteira estão mantidas
Curso teórico continua sendo aplicado pelas instituições pelo menos até janeiro quando o Conselho de Trânsito volta a discutir o tema

O curso teórico exigido atualmente no processo de formação de condutores que desejam tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) está mantido pelo menos até janeiro de 2023. Segundo a Federação Nacional de Autoescolas (Feneauto), a proposta de alteração estava em pauta no último dia 15, mas o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) não chegou a discutir o tema.
A expectativa, segundo o órgão e especialistas de trânsito, é que a mudança no processo de formação retorne à pauta somente no mês que vem. Até lá, o curso teórico segue sendo aplicado pelas instituições.
Proprietário de autoescola, Diego Vitorino explica que as aulas teóricas são estruturadas com cinco disciplinas, abordando legislação, direção defensiva, primeiros socorros, cidadania e meio ambiente, além de mecânica. Ele defende que o curso é um meio de inclusão social dos futuros motoristas.
“É mais do que educativo. É o primeiro contato que o aluno tem com conceitos básicos de direção defensiva e legislação. A partir dele que se entende o trânsito”.
Para Diego, a manutenção das aulas teóricas para a formação dos condutores, ainda que momentaneamente, é correta. “Muitos dos que colocam esse tema em pauta não sabem a função de um curso teórico. Nas aulas, os alunos entendem a importância de conhecer a legislação e as suas atualizações”.
A proprietária de autoescola Marcela Salgado demonstra preocupação com a possibilidade do fim da obrigatoriedade da aplicação do curso teórico de direção, o que seria, para ela, um retrocesso.
“Os instrutores estão muito preocupados, pois não haverá mais essa relação entre o professor e o aluno. Os que dão aula prática estão com medo de acabar as aulas teóricas, pois o curso teórico prepara o aluno para as aulas práticas. Caso isso avance, a formação do condutor no dia a dia será incompleta”.
Por meio de nota, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran/ES) entende a retirada da obrigatoriedade das aulas teóricas como um retrocesso.
“É etapa indispensável ao processo de formação, visto que é nessa fase que o candidato terá contato direto com a legislação de trânsito, que possui papel relevante na conduta dos futuros condutores”.
SAIBA MAIS
Curso
> Segundo a Federação Nacional de Autoescolas (Feneauto), o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) não discutiu sobre as mudanças no processo de habilitação de condutores no Brasil no último dia 15. Entre as mudanças, está o fim do curso teórico obrigatório.
> A expectativa de especialistas, entidades e autoridades do setor é que a proposta seja discutida a partir de janeiro do ano que vem.
> Especialistas, donos de autoescola e membros da sociedade civil consideram a mudança um retrocesso.
Fonte: Feneauto e especialistas consultados.
“Educação no trânsito deve começar na escola”
Se retirar a obrigatoriedade das aulas teóricas não é vista como positiva, especialistas, entidades e membros da sociedade civil acreditam que melhorias deveriam ser feitas para que a educação no trânsito seja mais efetiva.
Para o especialista em trânsito Josimar Amaral, o fim da obrigatoriedade das aulas teóricas pode prejudicar a formação dos condutores. “Se acabar com a aula teórica, as pessoas vão recorrer a outros meios para conseguir passar no teste, mas isso não se converte em ganho de conhecimento”.
Josimar acredita que o ensino sobre o tema deveria começar desde cedo. “Precisamos inserir o tema no contexto escolar a partir da infância. As crianças que estão crescendo hoje vão chegar à fase adulta sem ter nenhum tipo de conhecimento de trânsito”.
Quem utiliza meios de transportes alternativos, como a bicicleta, também sentiria o impacto do fim da obrigatoriedade das aulas teóricas. Entretanto, para o cicloativista Fernando Braga, manter o conteúdo programático não é o suficiente para garantir um trânsito seguro.
“Ruim com ela, pior sem ela. Eu já fiz prova para conseguir habilitação e não vi uma questão sobre bicicletas no trânsito. Se não mudar a abordagem do conteúdo e não trazer realmente o que diz a lei para todos os envolvidos no dia a dia do trânsito, não vai adiantar”.
Comentários