“Aos 57 anos, descobri que sou superdotada”, diz cirurgiã plástica
A cirurgiã plástica Elodia Ávila conta que fez teste de QI para entender melhor o funcionamento da sua mente e teve a surpresa
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Desenvolvimento intelectual acima da média e elevado grau de criatividade são características da superdotação, condição que faz parte da vida da cirurgiã plástica Elodia Ávila, de 60 anos.
Aceita na restrita ePiq Society, uma sociedade internacional que reúne pessoas inteligentes, ela só entendeu que tinha o quadro na fase adulta. “Descobri que era superdotada aos 57 anos. Foi uma surpresa”, afirmou a médica, que tem um QI de 141 pontos.
Ela explicou que o diagnóstico surgiu por um acaso. “Uma amiga minha neurocirurgiã me falou de um teste de cognição mental superespecífico que ela havia feito recentemente e que avaliava as capacitações específicas de várias áreas cerebrais, e as limitações”, contou.
“Fiz o teste para entender melhor o funcionamento da minha mente e saber quais seriam as minhas limitações, com a intenção de aprimorar o que precisasse”.
Além de realizar o teste de QI supervisionado e cientificamente comprovado, Elodia também foi submetida a um exame genético do projeto GIP (Genetic Intelligence Project), que confirmou seu alto desempenho cognitivo.
Assim como Elodia, o psiquiatra João Paulo Cirqueira afirmou que é mais comum do que se imagina a descoberta da superdotação na fase adulta.
“Muitas pessoas chegam ao diagnóstico de superdotação na idade adulta porque não foram identificadas durante a infância. Isso ocorre por diferentes razões, como a falta de programas de identificação nas escolas, estereótipos que limitam o conceito de superdotação e até mesmo estratégias de camuflagem adotadas para se ajustar socialmente”.
E as características da superdotação na infância são diferentes de quando a pessoa fica adulta? A neuropsicopedagoga Thaís Cruz explicou.
“Podem variar de acordo com o contexto, mas há traços comuns que podem ser observados na infância e, muitas vezes, continuam ou se manifestam de maneiras diferentes na vida adulta que podem mudar em termos de expressão e intensidade”, afirmou.
“No entanto, a forma como são vivenciadas tende a evoluir. Essas características podem ser agrupadas em três áreas principais: intelectual, emocional e comportamental”, completou.
Elodia Ávila cirurgiã plástica
“Sempre acordo com novas ideias”
A Tribuna Você mencionou que se sentia diferente desde a infância. O que é ser diferente?
Elodia Ávila Diferente é entender as coisas só de observar. Não precisar ficar revendo muitas vezes algum conceito. Quando aprendo algo, procuro entender a lógica por trás das coisas. Ou seja, aprendo com muita facilidade e me aprofundo de tal forma que aplico o novo conceito e desenvolvo para outras áreas também.
E como foi ser superdotada na infância?
Eu sempre ficava muito feliz e realizada quando aprendia algo e queria passar esses novos conhecimentos para meus amigos, mas muitos não entendiam ou não tinham interesse. Da mesma forma, outros assuntos que surgiam nas rodas de escola me entediavam. Eu convivia com meus amigos, mas não tinha uma interação mais profunda. Talvez seja o motivo de eu ter poucos amigos, infelizmente.
Você é cirurgiã. Sua jornada nesta profissão foi fácil em questão acadêmica?
Só foi fácil a partir do momento em que me apaixonei pela profissão. Confesso que no começo, na área básica, ficava bem entediada com matérias como Estatística, Bioquímica ou Farmacologia. Mas era apaixonada por Anatomia.
Quando entrei na área clínica e encontrei a cirurgia, fiquei fascinada e, quando estagiei na cirurgia plástica, vi que era um campo maravilhoso. Conseguiria transformar grandes traumas em vidas renovadas. Vi um sentido maior e me apaixonei por medicina. A partir daí, foi muito mais fácil percorrer todos os anos de estudo até terminar a especialização.
Você está se dedicando a pesquisas científicas sobre longevidade. Qual é seu objetivo?
Eu vivo uma longevidade saudável! Acredito que tem mais a ver com postura de vida do que com hábitos diários. Esse é um estudo que venho fazendo para entender até que ponto conseguimos mudar o nosso destino genético e comportamental para a promoção da longevidade saudável.
Você tem planos de recomeçar a vida após os 60. Como assim?
A cada dia sempre acordo com novas ideias, novos projetos. Meu marido me segura muito (risos), pois estou sempre disposta a fazer algo novo, principalmente se implica em criar coisas novas.
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Superdotação
É uma condição do neurodesenvolvimento que se caracteriza por uma capacidade mental acima da média em uma ou mais áreas do conhecimento.
Características
De acordo com o psiquiatra João Paulo Cirqueira, as principais características de uma pessoa superdotada incluem uma capacidade intelectual elevada, muitas vezes medida por um QI acima de 130.
Também são características aprendizado rápido e facilidade em compreender conceitos complexos, curiosidade intensa, pensamento criativo, sensibilidade emocional elevada e busca constante por excelência.
Infância x fase adulta
Na infância, essas características frequentemente se manifestam como curiosidade insaciável, habilidades avançadas para a idade, forte interesse por temas específicos e, em alguns casos, dificuldade em se adaptar ao ambiente escolar tradicional.
Já na vida adulta, essas habilidades são canalizadas para áreas profissionais e pessoais, mas podem vir acompanhadas de desafios emocionais, como perfeccionismo, sensação de inadequação ou ansiedade existencial.
A fase adulta também costuma trazer um desejo mais forte de propósito e realização.
Diagnóstico na vida adulta
Segundo João Paulo Cirqueira, muitas pessoas chegam ao diagnóstico de superdotação na idade adulta porque não foram identificadas durante a infância.
Isso ocorre por diferentes razões, como a falta de programas de identificação nas escolas, estereótipos que limitam o conceito de superdotação e até mesmo estratégias de camuflagem adotadas para se ajustar socialmente.
Além disso, ele pontuou que características típicas de superdotação, como alta sensibilidade, questionamentos intensos ou comportamento hiperfocado, podem ser confundidas com transtornos, como ansiedade ou TDAH, dificultando o reconhecimento.
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