Alimentação com insetos: Biscoitos e iogurtes já têm pulgões
É bem provável que os insetos já façam parte da sua alimentação sem que você saiba
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Se só de pensar na ideia de comer inseto o estômago já revira, fique sabendo que é bem provável que eles já façam parte da sua alimentação sem que você saiba. No cardápio do futuro, os cientistas querem incluir alimentos à base de insetos ao lado dos já tradicionais arroz e feijão.
A professora de graduação e pós-graduação em Gastronomia Andreia Pimentel revela que os insetos fazem parte de componentes da alimentação do brasileiro, mas que muitas pessoas nem desconfiam.
“É o caso do corante carmim, presente em iogurtes, sobremesas, balas, bebidas e biscoitos. Algumas pessoas ficam bastante chocadas quando descobrem que comem um pó feito de uma espécie de pulgão. É o processamento desse inseto chamado cochonilha que é o feito o corante natural, que confere cor vermelha ao alimento”.
Ela explica que a substância aparece nos rótulos como carmim, ácido carmínico, carmim de cochonilha ou como o número INS 120. Além da alimentação, o corante de cochonilha também é usando em produtos de maquiagem.
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Outro exemplo, segundo a coordenadora de pós-graduação em Biotecnologia Vegetal da UVV, Christiane Mileib Vasconcelos, é a quitosana.
“É uma substância que faz parte dos medicamentos para emagrecer. Mas as pessoas não sabem é que é feito do exoesqueleto do inseto, como a barata. Ele tem efeito muito semelhante às fibras solúveis”.
Mas os pesquisadores tranquilizam quem ainda não se acostuma com a ideia dos bichos nas refeições. Antes das pessoas terem de encarar grilos no prato, vão se acostumar primeiro com produtos alimentícios à base de insetos.
“Não vamos trocar a azeitona da pizza por formiga. O que vai acontecer é que vamos comer produtos oriundos de insetos, farinha de insetos para fazer macarrão integral, suplementação de proteína, barra de cereais. Serão produtos alimentícios à base de insetos, não necessariamente o inseto inteiro”, tranquiliza o doutor em Zootecnia Diego da Costa.
A professora Érica Aguiar Moraes, do Departamento de Educação Integrada em Saúde da Ufes, ressalta ainda que pesquisas internacionais mostram que quando os insetos são apresentados em sua forma íntegra, a aceitação é menor, porque ainda há uma aversão.
“Estou terminando uma pesquisa que teve o objetivo de verificar na população de Vitória como seria essa recepção do inseto na alimentação. Em breve vamos ter esse resultado, que vai respaldar outras pesquisas nesse assunto”.
Produção para humanos é prejudicada por falta de regras

Apesar do consumo de insetos não ser uma novidade em muitas regiões do Brasil, a falta de regras da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) específicas para o consumo humano dificulta a produção em grande escala.
É o que esclarece o engenheiro Luiz Filipe Carvalho, responsável pelo desenvolvimento de negócios na Hakkuna, empresa que produz farinha de grilos. “Não existe uma legislação que permita o uso de insetos para alimentação humana. Então, é um processo demorado, custoso, mas que precisa ser feito para possibilitar a industrialização desses de produtos, como é feito em outros países”.
O biogastrólogo Casé Oliveira, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Insetos, explicou que comercializar um produto industrializado à base de inseto hoje é preciso uma petição para ingrediente ou novo alimento.
“Para produtos artesanais é permitido para consumo humano. Tenho uma criação para meus produtos, como o chocolate com grilo que faço”, conta.
A professora Vanessa Alves Ferreira, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, esclarece que o processamento e armazenamento de insetos e seus subprodutos devem seguir as mesmas normas e regulamentações sanitárias como para qualquer outro alimento, a fim de garantir a segurança alimentar.
Em nota, a Anvisa explicou que tem percebido o aumento do interesse comercial de uso dos insetos na alimentação animal e humana. “Essa expansão certamente levará à modernização das regras nacionais. Enquanto isso, no âmbito da Anvisa, há uma regulamentação transversal para alimentos ou ingredientes novos”, diz.
Segundo estas regras, aprovadas pela resolução nº 16/1999, os ingredientes derivados de insetos requerem uma aprovação prévia da Agência antes de sua comercialização. Inclusive, essa forma de regulação dos alimentos à base de insetos como novos alimentos têm sido adotada pela Europa, Austrália, Nova Zelândia e Canadá.
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