“A vingança não elimina a dor de uma traição”, diz especialista
Especialista diz ser necessário aprender a lidar conscientemente com os sentimentos, para saber seguir a vida de modo saudável
Escute essa reportagem
A descoberta de uma traição amorosa pode despertar emoções difíceis de lidar, que afetam diretamente o lado negativo, trazendo sentimentos de mágoa, raiva, tristeza, insegurança e até a vontade de vingança. É o que explica a psicóloga Ana Carolina Souza.

“Já lidei no consultório com algumas situações de pensamentos de vingança e até de pessoas que partiram para o ato. Mas acabam por perceber que não vai suprir aquela dor, aquele sofrimento de terem sido traídas. A vingança não elimina a dor de uma traição”, disse.
Para superar a dor, ela destaca que não há receitas. “Cada pessoa reage de uma forma e precisa aprender a lidar de forma consciente com seus sentimentos e emoções”.
A terapeuta de casal Eliana Paris, diretora do Instituto Vivenciar, esclarece que a traição também pode trazer sentimento de rejeição, abandono, e por isso é dolorosa.
“Estabelecer regras é de extrema importância na relação. Traição e perdão são escolhas. Quem escolhe perdoar vê na relação a chance de recomeçar, sabe diferenciar orgulho ferido de amor de verdade. Sabemos que não é fácil chegar a este nível de compreensão”.
Outro processo difícil depois de uma traição é refletir sobre a sua responsabilidade no que aconteceu. Etapa difícil para quem está sofrendo, como ressalta o psicólogo João Alexandre Borba.
“Em relacionamento de casal o problema nunca está em um só. Quando a gente olha para o outro, paramos de tentar descobrir o que me levou a trair aquela pessoa. Entender que é 50% de responsabilidade de cada um é o mais difícil na terapia de casal”, ressalta.
A palavra infidelidade é, ao pé da letra, “sem manter a fé”, explica o psicólogo Alexandre Vieira Brito, que também é professor da Unesc.
“Afinal, relacionar-se com alguém de modo a estabelecer um compromisso é um ato de fé, que exige conquista constante do outro, algo que se renova a cada dia, um amor que precisa ser atualizado com certa frequência”.
A psicóloga da Telavita (terapia online), Flávia Romano, destaca que perdoar uma traição não significa aceitar a pessoa de volta.
“A traição é uma perda e, assim como o luto, há um processo psicológico de pesar que é preciso passar para seguir em frente. Perdoar é seguir, recomeçar com a pessoa ou outro relacionamento”.
Maioria diz que envolvimento virtual também é infidelidade
Conceituar a traição pode parecer óbvio, mas muitos casais ainda divergem do que pode ser considerado ou não infidelidade. Com a internet, essa tarefa ficou ainda mais difícil para alguns.
Segundo a pesquisa realizada pela Empresa Júnior da UVV (EJUVV), em parceria com o jornal A Tribuna, envolvimentos virtuais que criam expectativas de um encontro presencial são considerados traição virtual para 68,3% dos entrevistados.
Para 46,9% curtir e comentar fotos de uma pessoa com intenção sexual é um ato de infidelidade.
“Algumas pessoas acreditam que o virtual, sem o contato físico, não é encarado como infidelidade. Já outras acreditam que a traição não está apenas em atos, mas a intenção já é considerada infidelidade”, comenta o coordenador da pesquisa Fabrício Azevedo.
A sexóloga e terapeuta de casais Sirleide Stinguel explica que, a partir do momento que cresceu o acesso à internet, aumentou também a facilidade da traição virtual. Esse cenário, segundo ela, tornou-se mais presente na pandemia, devido ao isolamento social.
“Muitos infiéis não veem o virtual como traição. O elogio escondido, a conversa íntima e as fotos íntimas não são consideradas, já que não teve contato físico. Mas, vale ressaltar que quando há quebra de acordo, já há traição”.
A infidelidade pode ser compreendida como qualquer forma de envolvimento sexual ou romântico no decorrer de um relacionamento com outra pessoa, salienta a psicóloga Karina Brandão.
“Esta definição é a mais próxima quando se trata de traição virtual, pois considera o envolvimento emocional presente na infidelidade online. O que será considerado como traição vai depender das expectativas e dos limites entre os envolvidos. Alguns casais não exigem exclusividade sexual, mas consideram fundamental a fidelidade afetiva, por considerar que o envolvimento emocional afasta ou retira a parceria da relação”.
A especialista destaca que, por essas razões, é importante a comunicação eficaz entre o casal. “As regras claras vão servir de norte para a conceituação de traição na relação, seja virtual ou presencial”.
Algumas dicas para melhorar o relacionamento
Discordar é normal, mas com respeito
Respeitar a individualidade
> Ninguém precisa se anular pelo outro. A perda da individualidade é uma das causas principais de relacionamentos frustrados.
Escuta
> A escuta clara dentro do relacionamento, além de possibilitar que você também seja ouvido, põe fim aos “achismos”, às suposições na relação, e alinha as expectativas em relação ao outro. É possível aprendermos a ouvir o que realmente o outro nos diz.
Diálogo
> Quando se aprende a conversar sobre tudo, sem tabus e julgamentos, o relacionamento se torna leve. Barreiras são quebradas e realmente nos permitimos a intimidade em sua totalidade.
Construir objetivos em comum
> Casais que são companheiros e cúmplices e têm objetivos em comum dificilmente enfrentam episódios de traição, pois os objetivos e desejos são alinhados.
Parceria
> Apoiar os planos e projetos do outro, incentivando positivamente, torna o relacionamento mais saudável.
Suporte
> Nem só de bons momentos vivemos, então quando o outro não está emocionalmente bem, apoiar sem julgamentos ajuda a formar laços de confiança e ainda melhora o relacionamento.
Respeito
> Discordar é normal no relacionamento, mas o que não pode faltar é o respeito. As pessoas têm o direito de ter opiniões contrárias.
Fonte: Especialistas consultados
Comentários