15 mil trocam de carreira após descobrir nova vocação
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Escolher a carreira profissional não é uma missão nada fácil e nem sempre é acertada. Por isso, mudar o rumo dessa trajetória tem sido uma prática cada vez mais frequente.
No Estado, cerca de 15 mil trocaram de carreira ao descobrirem nova vocação entre 2019 e este ano, especialmente na pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
É o que revela o diretor-executivo da Consultoria Heach Brasil, Elcio Paulo Teixeira, considerando a migração nas graduações em cursos técnicos e em áreas que oferecem formação profissional. Pela sua percepção, cerca de 10.500 nesse universo são jovens.
Elcio Teixeira, que aplica teste vocacional, lembra que as mudanças ocorrem por diversos motivos.
“A gente percebe que as pessoas escolhem uma determinada profissão por causa do status, para seguir a carreira de um dos membros da família ou, até mesmo, por influência dos pais ou pessoas próximas. Só que, ao chegarem no meio da faculdade, por exemplo, descobrem que não é aquilo que querem ou não têm habilidade”.
Segundo ele, os resultados em cada 10 testes vocacionais mostram que 70% estão em desacordo com o que a pessoa pensa ou projeta para a carreira. “Isso significa perda de tempo e de dinheiro, frustração no trabalho e infelicidade”.
Dados passados por faculdades reforçam essa realidade. De acordo com o Núcleo de Orientação e Valorização do Aluno da Universidade Vila Velha (UVV), foram realizadas 477 transferências internas em 2019. Já no primeiro semestre deste ano, o número de transferências foi de 153.
Em todas as unidades da Faculdade Multivix, mais de 1.100 fizeram reopção entre o ano passado e o primeiro semestre deste ano.
“Para não errar, o segredo na hora da escolha é ter uma visão holística de mercado, projetar-se para o futuro e para as profissões emergentes. Tudo isso, atrelado às habilidades inatas, para garantir um profissional não somente bem-sucedido, mas também, realizado”, destacou Helber Costa, assessor acadêmico da faculdade.
Na Faesa, neste ano, 25 alunos mudaram de curso. Na Faculdade UCL, na Serra, 43 fizeram reopção de curso e oito começaram uma segunda graduação em 2019. Neste ano, 32 decidiram trocar de curso e outros cinco deram início a uma nova formação.
Na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), 342 alunos ingressaram por reopção de curso em 2019. Em 2020, ainda não foi publicado edital para reopção.
Os números
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10.500 jovens fizeram reopção de curso de 2019 até este ano
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342 alunos mudaram de curso na Ufes em 2019
Sonho de infância

Realizando um sonho de infância, a advogada Thalita Chagas Corrêa, de 35 anos, deu o pontapé em uma nova carreira há cinco anos: Medicina Veterinária, curso que irá concluir no final do ano.
Apesar de ter feito o curso de Direito, ela nunca abriu mão de cuidar dos animais. “Não deixei de advogar. Porém, admito que a Medicina Veterinária me preencheu profissionalmente, deu um plus de entusiasmo. Meus planos são de atuar com produção animal”.
Advogada agora quer ser publicitária

Pensando na satisfação pessoal e profissional, Amanda Alt, de 29 anos, que se formou em Direito, buscou outra vocação há cerca de três anos e iniciou a graduação em Publicidade e Propaganda, na Ufes, curso que deve ser concluído em 2021. Ela fazia pós-graduação em Direito Digital quando decidiu iniciar a nova carreira.
“Claro que é uma decisão difícil, mas vale a pena. Não atuo mais como advogada. A área do Direito é mais rentável, mas isso não pesa em nada na minha decisão”, disse.
Novo dom

Após 16 anos trabalhando como representante de medicamentos, a empresária Gizele Sarcinelli, de 40 anos, encontrou em bolos de pote um dom.
Inicialmente vendidos para amigos próximos, os bolos da Gizele eram feitos na cozinha de sua casa e conquistaram muitos. “Foi a descoberta de um dom. Depois de um tempo, começaram a me pedir bolos inteiros. O negócio cresceu até o ponto de criar a Petit Doceria”, contou.
Trocou Matemática por Direito

Antes de seguir uma nova carreira, Lidiane Lahass, de 38 anos, fez duas graduações: Estatística e Matemática. Atualmente, ela cursa os últimos períodos de Direito e já faz estágio, o que confirma a sua vocação.
“Fui professora de Matemática por 11 anos, mas me encontrei no Direito e quero atuar na área criminal. Estou superfeliz, e cheia de expectativas. Quero garantir uma defesa de qualidade a todos. Quando você faz o que realmente gosta, o caminho pode ser árduo, mas é prazeroso”.
Médico largou tudo e virou padre

Há nove anos, Ricardo Passamani, de 34 anos, anunciou uma decisão, que não foi fácil de ser tomada e que mudava completamente a sua vida: deixou a carreira na medicina para seguir sua vocação religiosa. Em julho deste ano, ele foi ordenado padre.
A decisão de entrar para o seminário e se tornar sacerdote ocorreu no momento em que ele fazia residência médica para Infectologia, no Hospital das Clínicas.
Antes, havia se formado em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
“Meu pai é médico. Então, essa era uma carreira natural para que eu seguisse, uma tendência. Porém, já na metade do curso de Medicina, recebi forte esse chamado (para ser padre), mas continuei a formação”, contou.
Segundo ele, um professor ainda tentou convencê-lo a terminar o curso de residência, pois dizia que queria conhecer um “padre formado em Infectologia”.
A vocação, porém, falou mais forte: “Se eu não tomasse a decisão ali e esperasse mais três anos, eu poderia ter desistido. Então, eu disse: é agora ou nunca”.
Hoje, atuando como vigário paroquial em Itacibá, Cariacica, o padre Ricardo Passamani não se arrepende da decisão. Ele diz que, mesmo não atuando como médico, consegue ajudar as pessoas que estão com problemas de uma outra forma, como sacerdote.
“Trabalho com muito amor”

Formada em Administração, Jussara Tonon, 46, sempre gostou de maquiagem. Apesar disto, trabalhou por oito anos em uma empresa terceirizada da Petrobras.
Como os contratos foram finalizados no Estado – a empresa é do Rio de Janeiro –, Jussara decidiu fazer o curso de maquiadora, sua grande paixão. Ela também fez curso de penteados.
“Maquiagem é uma coisa que eu gosto, me qualifiquei e, hoje em dia, é o meu ganha-pão. Foi uma decisão acertada. Eu me sinto muito realizada. Faço meu horário, vou até o meu cliente e faço todo o trabalho com muito amor”, contou.
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