Quais são os sinais de que seu filho pode estar acessando conteúdo violento nas redes? Veja dicas
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Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.
A pesquisadora Michele Prado atua na prevenção da radicalização online e combate ao extremismo violento entre crianças e adolescentes. Ela se infiltra em canais de Discord, Telegram e outras plataformas e alerta os pais sobre a disseminação de grupos no Brasil que vão muito além dos incels, popularizados na série Adolescência, da Netflix. Também chama a atenção para o aumento da crueldade transmitida ao vivo e para o crescimento do risco de cooptação gerado pela monetização em redes sociais. “Os pais só descobrem quando a polícia bate na porta”, diz.
Mas como evitar que seu filho ou sua filha também seja cooptado por esses canais? E mais: como identificar sinais de que ele ou ela pode estar acessando conteúdo violento nas redes? Em entrevista ao Estadão, Michele aponta que a conversa franca é sempre o melhor caminho para os pais falarem com os filhos sobre isso.
“O adolescente às vezes tem medo de contar sobre suas angústias, algo que fez ou está fazendo de errado. Se você viu algum sinal, procure um psicólogo, assistente social, procure a escola para conversar antes que o pior aconteça. Não são todos que vão chegar a uma ação violenta, podem só idealizar. É uma minoria que chega, mas, quando chega, causa muito estrago. Para si, para as vítimas, para a família.”
Atuando nas duas pontas - investigação de canais extremistas e alertas para autoridades e sociedade -, ela já ajudou a localizar neonazistas, indicou a conexão entre atentados em escolas e subculturas online, apoiou polícias e promotorias com informações. “Estão ensinando nossos filhos a odiar - e a se odiarem. É aí que a gente tem de entrar. E sem apontar dedos. As pessoas são recuperáveis.”
A pesquisadora alerta que os jovens costumam dar sinais da radicalização online. O isolamento social é um deles. Muito tempo online à noite dentro do quarto é outro sinal. Geralmente eles se expressam também verbalmente. “Ficam um pouco mais violentos, passam a desumanizar outros grupos. Alguns tipos de insultos, como chamar as pessoas de vermes, de ratos, são sinais claros de que podem estar em um processo de radicalização. Foco em armamento e conteúdos ultraviolentos é outro sinal.”
Veja os alertas da pesquisadora sobre algumas das principais plataformas utilizadas por adolescentes
Discord: “Peguei muitas transmissões violentas lá. Eles chamam de evento. Antes usavam o termo Lulz, que era quando mostravam automutilação, de meninas se batendo, planejamento de atentado, violência extrema contra animais, tudo ao vivo. Avisavam: ‘Vai ter Lulz tal dia, tal hora.’” “Antes do carnaval, peguei uma transmissão no Discord onde um menino negro com uma balaclava subiu ao palco com um menino e uma menina agressores e ficou sendo incentivado a beber água sanitária. Ele começou a filmar a irmã dele, pequena, que estava dormindo, e ficou sendo incentivado a molestar a criança.”
SimpleX: “Se o pai achar no celular do filho a SimpleX pode tirar porque, com certeza, está fazendo coisa errada. É uma plataforma com alta privacidade e muitas funcionalidades. E é irrastreável o que ocorre na SimpleX.”
Zangi: “Eles usam bastante. É uma espécie de WhatsApp utilizado para conversas internas sem correr risco.”
X (antigo Twitter): “É outro antro de radicalização. A gente tem hoje de neonazis atuando livremente no X a extremistas violentos islâmicos. Inclusive líderes.”
TikTok: “É hoje a principal plataforma de recrutamento para redirecionar para Telegram e Discord.”
À reportagem, o Discord disse que precisaria de mais detalhes sobre a denúncia para se manifestar. O Estadão tentou contato com as outras plataformas, mas não obteve retorno.
LEIA AQUI A ENTREVISTA COMPLETA
Onde buscar ajuda
Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.
Canal Pode Falar
Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
SUS
Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuvenis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.
Mapa da Saúde Mental
O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.
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