Por que os papas não usam o nome de batismo?
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Quando o novo papa for definido e a fumaça branca sair pela chaminé instalada na Capela Sistina, onde é realizado o conclave, o público ouvirá o protodiácono pronunciar, da sacada central da Basílica de São Pedro, as seguintes palavras em latim:
Nuntio vobis gaudium magnum: habemus papam! Eminentissimum et reverendissimum dominum..., qui sibi imposuit nomen.... Ou seja: “Anuncio-vos uma grande alegria; Temos um Papa: O eminentíssimo e reverendíssimo Senhor...que se impôs o nome de...“.
Será neste momento que as pessoas saberão quem é o novo pontífice e qual nome o eleito próximo líder da Igreja Católica carregará ao longo do seu pontificado.
A opção pela designação é feita logo após a definição do conclave - isto é, quando 2/3 dos cardeais eleitores - votarem na mesma pessoa. O escolhido é interrogado com duas questões antes de trajar as vestes de novo bispo de Roma:
- Acceptasne electionem de te canonice factam in Summum Pontificem? (Você aceita sua eleição canônica como Sumo Pontífice?)
- Quo nomine vis vocari? (Como queres ser chamado?)
O uso de uma nomenclatura diferente do nome de nascimento é uma tradição secular que remete às origens da Igreja Católica. Pedro, apóstolo de Cristo e considerado o primeiro papa da história, tinha Simão como nome de batismo.
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, disse Jesus ao seu apóstolo, conforme a passagem bíblica presente no capítulo 16 do Evangelho escrito por São Mateus.
Giovanni Battista Montini declarou que escolheu ser o papa Paulo VI (1963-1978) porque Paulo foi o apóstolo que “amou a Cristo supremamente”.
Já Bento XVI (2005-2013), cujo nome de nascimento era Joseph Ratzinger, declarou que sua escolha estava ligada ao papa Bento XV (1914-1922), por ter guiado a Igreja Católica de maneira positiva durante a Primeira Guerra Mundial.
O argentino Jorge Mario Bergoglio, último papa (2013-2025), inovou ao escolher Francisco. “Surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação”, disse alguns dias depois de ser eleito.
Teve quem não se contentou em homenagear apenas um personagem e resolveu homenagear logo dois: o papa João Paulo I, o italiano Albino Luciani, foi o primeiro a escolher um nome duplo para o seu pontificado.
“Chamar-me-ei ‘João Paulo’. Eu não tenho nem a sabedoria de coração do papa João, nem a preparação e a cultura do papa Paulo. Estou, porém, no lugar deles e devo procurar servir a Igreja”, explicou o então papa no Angelus de 27 de agosto de 1979.

João Paulo I morreu após um curto pontificado de 33 dias. Seu sucessor, o polonês Karol Wojtyla, resolveu assumir o mesmo nome e ser, enquanto bispo de Roma, João Paulo II.
“Recordo-me, quando, na Capela Sistina, ele (papa João Paulo I) expressou a sua vontade: ‘Quero usar os nomes de João e de Paulo’. Esta decisão tinha uma eloquência convincente. Pessoalmente, pareceu-me uma decisão carismática”, disse Wojtyla, que liderou a Igreja Católica entre os anos de 1979 e 2005.
Nomes mais usados
Assim como Francisco, cerca de 40 nomes foram utilizados apenas uma vez, como Caio, Marcos, Eusébio, Hilário (em uma época em que o nome de nascimento era mantido).
Os mais usados, na ordem decrescente são: João (21 vezes), Gregório (16), Bento (15), Clemente (14), Inocêncio (13), Leão (13) e Pio (12).
A quantidade pode não corresponder ao número ordinal de alguns pontífices, como Bento - que teve o Bento XVI - por conta dos antipapas. Essas figuras não são consideradas papas pela Igreja Católica e são chamadas assim porque reivindicaram o título de Bispo de Roma em oposição ao papa legítimo.
José, Tiago, Matheus são alguns dos nomes bíblicos que nunca foram usados. Em respeito ao primeiro papa de todos, Pedro também não foi escolhido por nenhum novo pontífice ao longo da história. / Com informações da AFP
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