Como saber se um guia é experiente para trilhas de alto risco? Especialista orienta
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A morte da publicitária brasileira Juliana Marins, de 27 anos, após cair de um penhasco em uma trilha no monte Rinjani, na Indonésia, levantou questionamentos sobre a confiabilidade de guias para atividades em natureza selvagem.
De acordo com relatos de pessoas que estavam no grupo de trilha de Juliana, ela teria sido deixada sozinha porque estava cansada e precisava descansar antes de seguir caminhando.
Foi neste momento em que ocorreu a queda, sob condições ainda não esclarecidas, já que o exame de autópsia só começou a ser realizado nesta quinta-feira, 26. O resgate só foi acionado horas depois dela ter sido deixada sozinha, pelo guia, que retornou ao local e escutou gritos de socorro. Foram quatro dias até conseguirem chegar até ela e constarem óbito.

O montanhista profissional e presidente da Associação Brasileira de Guias de Montanhas, Silvio Neto, afirma que não há problema em deixar clientes sozinhos por um curto período durante trilhas, mas a prática não é recomendada em casos como o de Juliana, em que uma pessoa já está cansada e possivelmente debilitada.
“Existem situações específicas onde, sim, um guia pode se afastar. Mas, pelo que se sabe do caso, que ela teria ficado cansada, a orientação mais conveniente é de que todo o grupo parasse, descansasse um pouco, para então seguir em um ritmo que ela conseguisse acompanhar”, afirma Neto. “Grupos de trilhas são heterogêneos, mas a ideia é manter o grupo junto e motivado para que todos alcancem o objetivo com êxito.”
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O especialista explica, no entanto, que não existe regra fixa sobre como deve ser a conduta de um guia de montanha, apenas recomendações baseadas em ética e mitigação de riscos.
“Nós temos regulamentação para ser guia de turismo. Mas para ser guia de montanha, que é uma atividade que requer um arcabouço de qualificações muito maior, uma formação continuada, experiência, a gente infelizmente não tem”, afirma Neto. “Isso dá margem para profissionais incapacitados ou inaptos para determinadas atividades, venderem ou comercializarem da forma que quiserem os seus pacotes”, diz.
Como escolher um guia para trilhas de maior risco?
De acordo com Neto, um montanhista profissional é quem não só tem experiência em trilhas em determinado território, como também possui capacitação para atuar em situações extremas e de necessidade de resgate. Ele precisa, por exemplo, ter noção e estar minimamente equipado para atender em primeiros socorros.
Uma forma de identificar se o profissional é capacitado, segundo o especialista, é testando o conhecimento do guia sobre as condições da trilha. Ele deve ser capaz de informar a duração da trilha, as condições climáticas e de terreno, qual a roupa adequada, o que levar e não levar e como agir ou não agir.
De preferência, deve fazer isso espontaneamente, se demonstrando preocupado com a segurança do grupo que acompanhará e agindo na mitigação de riscos. “O papel de um guia principal é mitigar os riscos, porque qualquer atividade em ambiente natural envolve riscos“, afirma Neto.
Se for possível, cheque se o guia tem alguma certificação, está associado a alguma instituição de montanhismo profissional e há quanto tempo realiza trilha naquele local. Se o serviço for ofertado por uma empresa, com contrato, as chances de amadorismo são menores. Busque referências da empresa online.
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