Artistas capixabas dão adeus à estrela do rock
Eles lamentaram a morte de Rita Lee e a definiram como um ícone da música nacional, relembrando a trajetória da cantora
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Uma das maiores cantoras e compositoras da história da música brasileira, Rita Lee morreu nesta terça-feira aos 75 anos. Ela foi diagnosticada com câncer de pulmão em 2021 e vinha fazendo tratamentos contra a doença.
Cantoras e músicos capixabas lamentaram a morte da cantora e a definiram como um ícone da música nacional.
Dona Fran, cantora, destacou o pioneirismo de Rita Lee. “Ela foi disruptiva por ser mulher em um cenário onde o rock era dominado por homens. Pelo trabalho riquíssimo desde Os Mutantes, liberdade de pensamento, liberdade sexual feminina, de palco”, observa.
A cantora Luiza Pastore tem em Rita Lee sua inspiração. “Foi um símbolo que abriu muitos outros caminhos. Ela não é nem a pessoa feminina do rock brasileiro. Ela é 'a' pessoa”, afirma.
Kinho Sucupira, músico e integrante das bandas Big Beatles e Letal, destacou a carreira monumental da cantora.
“Quando saiu de Os Mutantes e foi para a Banda Tutti Frutti também fez sucessos imensos como 'Ovelha Negra' e 'Esse Tal De Roque Enrow'. A obra dela é tão grande que transcende gêneros”, avalia Kinho, que no mês de julho vai se apresentar com o primeiro guitarrista que tocou com Rita Lee quando ela deixou Os Mutantes, Luis Carlini, no Teatro da Ufes.
Cantor da banda Back to the Past, Marco Cypreste destaca que Rita era uma cantora muito à frente de seu tempo. “Fez parte do movimento da psicodelia e foi importantíssima para o tropicalismo. Teve uma carreira solo muito sólida: tinha atitude, era debochada, fazia bossa nova. É a única majestade da música brasileira”.
O velório foi aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, nesta quarta-feira, das 10 às 17 horas. Nos últimos anos, ela viveu em um sítio no interior de São Paulo com a família. Ela deixa três filhos: Roberto, João e Antônio e o marido, Roberto de Carvalho.
Rita Lee fez parte de Os Mutantes de 1966 a 1972, tendo gravado o primeiro álbum solo em 1970, quando ainda estava na banda. A carreira pós-Mutantes tomou forma com o grupo Tutti Frutti, no qual ela gravou cinco álbuns.
A partir de 1979, ela começou a trabalhar com o marido e se firmou de vez na carreira solo.
FOTO DE SHOW EM VITÓRIA FOI PREMIADA
A foto do show de Rita Lee, feita por Romero Mendonça, e publicada em A Tribuna, em 1983, ganhou o Prêmio Thiers Veloso daquele ano. A imagem mostra um jovem com dificuldade de locomoção levantando da cadeira de rodas, no Ginásio Dom Bosco, em Vitória. “Assim que ela entrou no palco, ele levantou. Acho que ficou emocionado”, diz Romero.
Análise: “A estrela que roubou os anéis de Saturno”
Luiz Trevisan, jornalista, escritor e colunista do jornal A Tribuna
“Justamente quando a Nasa anuncia um robô em forma de cobra para prospectar luas de Saturno, perdemos Rita Lee. Qual a ligação desse enredo futurístico com a estrela do rock brasileiro que um dia prometeu buscar os anéis de Saturno para a pessoa amada?
Tanto Rita quanto os robôs são o futuro presente rompendo barreiras e provocando a imaginação. Dias atrás, pensava na coincidência entre Rita e o compositor capixaba Sérgio Sampaio, que também fez viagem metafórica a Saturno.
Na canção Em Nome de Deus, que acaba de ser gravada por Maria Bethânia em dueto com Chicão (filho de Cássia Eller), Sérgio Sampaio codifica sua nave sonora: 'Eu pego carona até na Challenger, e vou nos anéis de Saturno buscar por você'. São semelhanças de astros da canção popular que em vida pouco se encontraram, embora seguissem trilhas bem próximas.
Sérgio foi embora cedo, aos 47 anos (1994), e Rita quase cumpriu sua promessa de morrer bem velhinha, bem na hora H da bomba estourar.
Fica agora a essência dessa eterna moça inquieta, que soube dosar rock com o pop e a bossa nova, e que encontrou no parceiro de vida, Roberto de Carvalho, combustível para produzir hits em profusão.”
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