Aposentada relata ter perdido todo o dinheiro após sofrer golpe no Whatsapp
Homem se passou por funcionário da INSS e enviou link para vítima confirmar dados pessoais
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A aposentada Rosely Calvo, de 72 anos, de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, foi vítima de um golpe envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em junho deste ano. Os criminosos conseguiram limpar a conta dela e roubar R$ 3 mil. A quantia é maior do que o valor que recebe pela soma de duas rendas mensais.
“Era muito dinheiro, tudo o que tinha para pagar minhas contas. Não sobrou R$ 1. Na hora chorei muito, nunca tinha passado por isso. Ninguém está pronto para ser assaltado”, diz.
Segundo dados divulgados pelo Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou crescimento de 7,8% nos casos de estelionato em 2024 na comparação com o ano anterior. Ao todo, são quase 2,17 milhões de ocorrências para este tipo de crime, o que equivale a 4 por minuto.
O levantamento se baseia em informações dadas por governos estaduais, Tesouro Nacional, polícias civil, militar e federal, entre outras fontes oficiais. A publicação é uma das mais principais referências de estatísticas no setor.
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma atuar em conjunto com bancos e no aperfeiçoamento de recursos antifraude dos documentos de identidade no combate ao crime.
‘Prova de vida’ do INSS
Em um sábado, Rosely recebeu ligação de um homem que se passou por funcionário da instituição perguntando se ela havia feito recentemente a “prova de vida”, um procedimento para confirmar se o beneficiário está vivo evitando fraudes e pagamentos indevidos.
O contato foi feito por ligação via WhatsApp e o perfil trazia a foto de um homem de terno e gravata, o que ajudou a dar credibilidade à farsa. Rosely diz que respondeu que havia feito o processo na agência da Caixa no ano passado.
“Aí ele me disse que eu tinha de fazer a prova de vida no INSS também e pediu para eu entrar no aplicativo para ver se havia algum comunicado. Fiz isso, mas não tinha nada, nem e-mail.”
Na sequência, o golpista perguntou a Rosely se ela era titular de duas contas em outras instituições bancárias. Ela suspeitou pela primeira vez, mas confirmou. “Estranhei o fato de que um funcionário do INSS tinha acesso a essas informações, mas estava meio desligada e segui com a ligação.”
Em seguida, o criminoso afirmou que enviaria um link e que Rosely deveria acessá-lo para confirmar os dados pessoais. O golpista explicou que essa seria uma exigência para evitar que o pagamento de sua aposentadoria fosse cancelado.
Ela clicou no link ainda durante a ligação. Foi quando se deu conta do golpe. Ela acessou o aplicativo da Caixa para conferir o saldo e descobriu que haviam roubado os R$ 3 mil que estavam na conta. “Em fração de segundos, senti na hora: levei golpe”, lembra.
Imediatamente a ligação foi encerrada e a foto do suspeito deixou de ser exibida no WhatsApp. A aposentada, que também trabalha com doméstica, foi até a sua agência bancária da Caixa para relatar o golpe e registrou boletim de ocorrência, mas não tem esperança de recuperar o dinheiro roubado.
Rosely diz que sua filha sempre a orienta a não clicar em links desconhecidos que chegam pela internet, mas na hora foi levada pela emoção. “Foi tão natural que nem me liguei”, finaliza.
Em nota, a Caixa informou que monitora ininterruptamente seus produtos, serviços e transações bancárias para identificar e investigar suspeitas de fraudes. E diz ter políticas e procedimentos de segurança para a proteção de dados e operações de seus clientes.
O banco esclarece, ainda, que não pede que o cliente digite ou informe senhas, não envia SMS com link ou e-mails, apenas se autorizados pelo cliente. Além disso, recomenda atenção a qualquer atividade e situação não usual, e principalmente não clique em links recebidos por SMS, WhatsApp ou redes sociais para acessar as contas e valores a receber.
No caso de contato suspeito, o banco recomenda que o cliente desligue o telefone, procure seu gerente na agência ou ligue para o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) no 0800 726 0101.
Crime sofisticado
Especialistas apontam que os avanços tecnológicos podem agravar esse cenário, com o uso de inteligência artificial para forjar biometrias faciais, vozes e burlar softwares antifraude.
“Há relação direta entre a transformação digital da sociedade e o crescimento dos golpes”, afirma Renato Sérgio de Lima, diretor presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
As ações de golpistas virtuais deixaram de ser uma ação de hackers, isolados em quartos. Os crimes se sofisticaram e os ataques se tornaram uma das principais fontes de receita das facções criminosas, sem respeitar limites dos Estados ou países.
“É possível que o volume de dinheiro que circula com golpes virtuais já seja até muito maior do que aquele obtido com a venda da cocaína”, destaca Lima.
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