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Cidades

Mulheres relatam desafios no primeiro Dia das Mães em meio à pandemia

Conheça histórias de superação, força, alegrias de mães que venceram os obstáculos da pandemia e hoje, comemoraram a data ao lado dos seus filhos


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No dicionário mãe é um substantivo feminino. Aquela que gerou, deu à luz e criou um ou mais filhos. Aquela que criou uma ou mais crianças, embora não tenha relação biológica com ela. Mas mãe, também é verbo. Mãe é cuidar, chorar, brincar, sorrir, ajudar, mudar, se preocupar, mãe é saber amar.

A maternidade já é uma fase difícil porque exige da mulher coisas que ela não estava acostumada a ter que fazer antes. Agora, imagine descobrir que está grávida em uma pandemia? Imagine saber que todos os planos para o tão sonhado dia do parto não serão possíveis de se concretizarem, porque uma pandemia se espalhou pelo mundo?...Foi difícil, tem sido. 

Essas mulheres tiveram que se adaptar a uma nova realidade que impactou suas rotinas pessoais e profissionais. Para as mães que tiveram seus filhos durante a crise mundial do coronavírus, um desafio a mais. Os efeitos da covid-19 na sua gestação, na família, na sua própria saúde foram preocupações adicionais e, em um contexto de isolamento social  processo de maternidade está muito mais intenso. A carga mental aumentou, os medos, angústias e ansiedades mas nada consegue descrever o sentimento de mulheres que hoje, comemoram o primeiro Dia das Mães ao lado de seus filhos.

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Segundo a psicóloga, Mariana Spelta, a pandemia trouxe para as mães um misto de emoções que pode afetar a relação entre pais e filhos |  Foto: Divulgação

De acordo com a psicóloga clínica, Mariana Spelta, o medo da pandemia pode influenciar nos cuidados e na relação com a criança.

"Os diferentes contextos da nossa vida estão interligados de alguma maneira e quando um não vai bem, podemos ver reflexos em outros contextos de forma geral. O medo da pandemia, acompanhada de mudança de rotina, ausência de rede de apoio e sobrecarga com a criança pode contribuir para processos de desregulação emocional e hiperestimulação do nossos sistema de defesa e ameaça; por isso, a mãe pode produzir cortisol em excesso e tentar ao máximo se esquivar de perigos (mesmo os não reais). Isso faz com o que o estresse esteja mais presente, assim como medo, raiva, preocupação e culpa. Esse misto de emoções pode afetar a relação entre pais e filhos, visto que a convivência é intensificada, bem como sensação de responsabilização pela criança", explica a especialista.

O Tribuna Online convidou algumas dessas mães para dividirem com as leitoras e leitores como foi mudar o rumo dos planos e sonhos para da gestação... Muitas delas, longe da família, o dia do parto, o primeiros meses do bebê e como estão passando por isso atualmente. São histórias comoventes, mas com um elo em comum: a força do feminino e a capacidade de superação. 

Superação e bençãos

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Tamara, que iria realizar uma fertilização in vitro viu o sonho de ser mãe adiado pela pandemia, e se surpreendeu ao engravidar de forma natural durante o período. |  Foto: Maressa Moura.

O que poderia melhor homenagear o Dia das Mães do que o amor incondicional de uma mulher pelo seu filho? Mesmo quando a própria vida está em jogo?

Essa é a história da empreendedora, Tamara de Oliveira Guimarães, de 37 anos que, na 39ª semana de gravidez, viu um sonho seriamente ameaçado pela pandemia. A chegada da primeira filha foi muito sonhada pela empreendedora e seu marido, o corretor de imóveis, Filipe Vieira Padilha, 40 anos. Mas a covid chegou antes que a pequena Clara, colocando mãe e filha diante de um grande desafio.

"Eu já estava tentando engravidar há um ano, e tinha acabado de ter uma indicação de Fertilização In Vitro com a notícia de que, naquele momento, não era possível fazer o tratamento por conta da pandemia. Quando descobri que estava grávida, sem tratamento, e no meio da pandemia, foi uma notícia maravilhosa e assustadora ao mesmo tempo. Eu e minha família já estávamos tomando muitos cuidados, mas redobramos com a notícia da gestação".

Durante a gestação, Tamara pegou Covid e por causa da doença passou por complicações na hora do parto. 

"Clara nasceu em morte aparente, foi reanimada e ficou 21 dias na UTIN. Eu só fui conhecê-la no oitavo dia de vida. Foram dias de muita angústia, muita fé. Muita tristeza de, mesmo com tanto cuidado, ter pego a doença e ter causado tanta mudança em nossos planos. Com Clara em casa, foi um mundo de médicos, terapeutas, medo de pegar covid de novo e ao mesmo tempo muitas novas preocupações com o diagnóstico de paralisia cerebral e epilepsia", conta a empreendedora.

Tamara lembra que muitas coisas foram ajustadas e reajustadas após a chegada da filha, que sempre foi tão sonhada pelo casal.  "As lembrancinhas da maternidade nunca foram entregues. Por conta da pandemia, ninguém além de mim e meu esposo podíamos vê-la na Utin. Logo, avós e tios só a conheceram depois que ela foi pra casa. E todo meu maternar foi completamente diferente. Não consegui amamentar, remédios que não imaginávamos que bebês tomavam, muitos exames. Tem sido uma maternidade atípica. Seguimos nos ajustando, mas com muito amor, tudo vai sendo maravilhoso igual".

Tratamentos e incertezas versus amor 

Mudar de cidade, iniciar um tratamento de saúde, lidar com as preocupações de uma doença, recomeçar a acreditar no potencial de força que se tem dentro de nós. Esse foi o caminho percorrido pela pedagoga, Sofia Azevedo de Almeida Cesar, de 31 anos e do esposo, o engenheiro de controle e automação, Arthur Oliveira Santos, 30 anos. Os dois são pais da Ísis Oliveira Cesar, de 7 meses. 

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A pedagoga Sofia superou um câncer de tireóide ainda durante a gravidez da pequena Ísis, de 6 meses. |  Foto: Mariana Pires.

Sofia descobriu um câncer de tireoide em 2020, no início da pandemia. O tratamento a deixou muito debilitada e, diante da situação de saúde, ela e o marido não tinham pretensão de ter filho. Mas, no meio do caminho, ela descobriu que estava grávida. Após meses de tratamento, descobriram que a Ísis estava a caminho. 

"Foi angustiante, afinal, estávamos passando, todos, por momentos de muita incerteza, principalmente com relação à manutenção da nossa saúde e da nossa vida. Então a questão que latejava em minha cabeça era: como manter a minha saúde e a saúde do meu bebê em perfeito estado? E, para mim, ainda tinha um agravante: eu havia acabado de passar por um tratamento de câncer de tireóide. Em 2020, descobri 3 nódulos na tireoide, todos com indicação de malignidade", conta.

Além da descoberta da doença e toda a ansiedade relacionada, a pandemia começou a aparecer no mundo. "Logo quando tudo começou a ser fechado devido ao COVID-19, eu passei pela primeira cirurgia. Depois disso, ainda em 2020, passei pela iodoterapia e tive de fazer o período de isolamento da radiação em casa, já que os hospitais estavam lotados de casos de COVID. Eu vivi um isolamento dentro do próprio isolamento. Foi bem difícil, não só pela situação, mas pelo tratamento em si, porque passei muito mal e não podia ter contato com ninguém mesmo".

Depois disso, ela ainda passei por mais uma cirurgia, para retirar mais um linfonodo que não foi eliminado com a iodoterapia. Todo este tratamento a impedia de engravidar por 6 meses, isso significava até dezembro. Ela engravidou em janeiro, um mês após o prazo. Logo, somado ao medo da pandemia, existia o medo de o tratamento afetar o feto, o que não aconteceu.

"Minha gravidez não foi planejada. Por estar passando por toda essa questão de saúde, estava sem tomar o anticoncepcional e me guiava pela tabelinha. Engravidei nas férias, por ter acabado me relaxando de acompanhar meu ciclo. Além dessas questões, havia mais um motivo de angústia diante às incertezas: na época que descobri a gravidez, eu estava cursando Pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, em Três Lagos. Eu e meu marido morávamos lá devido ao trabalho dele. Por ser muito distante das nossas famílias, ambas de Minas Gerais, resolvemos nos mudar para Vitória, cidade mais próxima do nosso estado e onde teríamos apoio de alguns familiares aqui residentes. Acho que não deve ser difícil imaginar como minha cabeça ficou no meio dessa turbulência de: gravidez, mudança (não só de cidade, mas de estado), estudos e pandemia, que, naquele momento, estava muito alarmante", disse.

No meio da conversa para a reportagem, teve que interromper. “Ih, estou sozinha com a Ísis e ela está demandando aqui (choros de criança). “Volto mais tarde para continuar a respondê-la”. É assim, o tempo das mães é delas, mas é principalmente daquele ser que acaba de chegar ao mundo e necessita de todos os cuidados. Ao voltar, Sofia lembra que apesar de todas as dificuldades que o casal passou antes e durante a gestação, o nascimento da Ísis foi do jeito que eles sempre sonharam. 

"O nascimento da Ísis foi incrível, foi como nos preparamos para ser. Ela nasceu em um parto normal, humanizado. Foram 18 horas de trabalho de parto, mas passar por tudo isso, ao lado do meu marido, foi um dos momentos mais potentes de toda minha existência até agora. O parto me mostrou que sou mais forte do que todas as dores físicas e psicológicas que já enfrentei e que posso vir a enfrentar. Nós mulheres somos especiais… nosso corpo, nossa entrega, nossa força são imensuráveis. E isso não está ligado ao fato de ter um parto normal ou uma cesárea", declara.

O caminho do maternar para a pedagoga foi de muito aprendizado e superações. "O puerpério é muitíssimo complicado, afinal, você está lidando com o nascimento, repleto de amor, e o luto. Luto por aquela mulher que você era e não será mais. Muitas vezes busquei e, para ser sincera, ainda busco, encontrar fragmentos daquela Sofia antes de ser mãe em mim. Posso estar errada, mas a meu ver, é impossível, aquela Sofia não existir mais, ela deu vida a uma nova versão, mais complexa, mais cheia de responsabilidades", acrescenta.

"Ser mãe é se reinventar, agora não mais por questões pessoais, mas pelo outro, pelo seu bebê. Afinal, você precisa cuidar, você precisa zelar por uma vida totalmente dependente de você. Cuidar não é fácil, é um dos trabalhos mais árduos que existe, porque você precisa entender e suprir as necessidades do(a) seu(sua) filho(a), mas também, proporcionar a ele(a) um caminho de oportunidades e de desenvolvimento que também é novo pra você. E, muitas vezes, sem ter tempo, nem parceria, que se preocupe em cuidar de você", observa Sofia.

Sofia explica que além de todas essas questões, o maternar cobra, culpa e apesar da mãe saber que é capaz, em muitos momentos essa fase faz a mãe se sentir pequena e falha.

"Lidar com estes sentimentos é uma constante e é preciso muita lucidez para viver este processo. Por isso, nós mães, precisamos nos acolher, nos ajudar, nos abraçar, porque todas somos julgadas em demasia e precisamos fortalecer a nossa rede de apoio entre nós mesmas, para romper com esse ciclo tóxico de julgamentos e culpa que muitas vezes enfrentamos", ressalta ela. 

Quando questionada se ela acredita que bebês e crianças nascidas e criadas nos primeiros anos de vida, no auge da pandemia, a pedagoga acredita que o isolamento fez com que as crianças nascidas na pandemia perdessem um pouco da riqueza que o convívio social traz para elas., pois somos seres sociais.

"Nosso desenvolvimento psíquico tem como base as relações sociais, a interação com o diferente, o confronto com o outro e consigo mesmo. Desta forma, as crianças que tiveram que ficar em isolamento tiveram poucas oportunidades de convívio social, com isso, não puderam se desenvolver nos aspectos sócio afetivo como poderiam", observa a pedagoga. 

Renascimento

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|  Foto: Reprodução/ Arquivo Pessoal.

"Em dezembro de 2019, descobri que estava grávida do Raul. Na época não se falava sobre covid no Brasil. Eu tinha pouco mais de 6 anos de casada e, apesar de não ter sido programada, nós ficamos muito felizes com a gestação. Mas no início do ano seguinte as coisas começaram a desandar. Tanto com relação a pandemia, quanto a minha gravidez..." Esse é o relato da dona de casa, Jenifer Trindade, que é mãe do Raul de 1 ano e 9 meses, mãe da  Elis - 6 meses de gestação -, casada com o engenheiro de software, Stewan Pacheco, 35.

2020 foi um ano que transformou a vida de todos nós, mas a vida da Jenifer teve uma marca especial: foi o ano em que nasceu seu primeiro filho. Em meio a um mundo incerto, aprisionados dentro de casa, a espera pela chegada do pequeno Raul mudou muitas coisas na vida do casal. 

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|  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.

"Foi uma gestação muito conturbada. Raul era gêmeo, mas o outro bebê não sobreviveu e só foi até as 9 semanas, depois disso um médico da ultrassonografia disse que minha gestação não iria pra frente, meu pai faleceu, tive pressão alta e hipotireoidismo gestacional. Muitas consultas eram canceladas em virtude da pandemia e meu pré-natal foi meio defasado. Para não pirar, eu recorria a meditação por meio de vídeos da internet. Como tudo foi fechado, não conseguia me exercitar e o enxoval foi feito on-line. Em julho de 2020 meu bebê nasceu. Era pra ter sido um dia feliz, mas no parto descobrimos que ele tinha uma má-formação congênita chamada extrofia de bexiga e epispádia. Isto significa que a bexiga do nosso filho era exposta, além de outras deformidades nas vias urinárias", conta Jenifer.

"Foi assustador. Eu, ainda estava sendo costurada no centro cirúrgico, ouvi uma frase que fez meu coração parar: seu filho nasceu com uma má-formação que eu nunca vi na minha vida. Nos disseram outras barbaridades também: que o Raul talvez não enxergaria, que poderia ser cardiopata e que ele não andaria. Felizmente nada disso tinha a ver com a extrofia. Essas falácias ditas a nós, pais de primeira viagem assustados, nos tirou o chão. Elas tinham um motivo: muitos profissionais dali, só haviam visto casos de extrofia na literatura, ou seja, na loteria das condições raras, nós fomos premiados", lembra a dona de casa. 

Jenifer lembra que além da preocupação comum que todas mães têm sobre a amamentação, cólicas, privação de sono, ela ainda tinha a operação do Raul em meio a uma pandemia.  

"Inicialmente a cirurgia dele aconteceria aos 3 meses de vida, mas só ocorreu aos 8 meses. Logo depois da cirurgia, Raul apresentou pneumonia. Poucos dias depois o diagnóstico: covid.  Ficamos internados 63 dias, destes 49 foram no CTI".

Mãe de primeira viagem, assustada com tudo que estava acontecendo, Jenifer passou mais de um mês ao lado do filho no hospital.

"Na "cadeirinha do papai",  que virou minha cama, ao lado do leito do Raul, pude ver de tudo. Eu observava meu pequeno vencer a covid. Eu temia perder meu filho para a covid. Cada dia que passava era um alívio. Nunca imaginei viver situação similar, agoniada por ver meu filho naquela situação. Ao lado do leito, eu chorava por ele e ficava feliz por histórias de outras crianças que deram certo. Meu choro era ainda maior quando um vizinho de box falecia. Foram os dias mais difíceis da minha vida. Mas os mais enriquecedores também. Aprendi a orar de joelho e a ter intimidade com Deus. Aprendi a querer viver e a desejar contemplar cada fase do meu filho. Aprendi a orar pelos filhos de outras pessoas e conheci realidades completamente diferentes da minha. Aprendi que milagres existem, que a fé é uma coisa linda e que a ciência deve ser exaltada sempre", conta.

O tempo passou e Raul venceu a covid, superou todos os obstáculos, ensinou sobre força e garra para sua mãe e foi recebido com todo amor do mundo pelos seus familiares após receber alta. "Hoje olhando pro Raul tão vivo, não tem como não me emocionar. Será um Dia das Mães muito especial pra gente, um renascimento! E, para melhorar ainda mais, em novembro de 2021 formos surpreendidos com a chegada de mais um integrante na família: estou grávida de 6 meses da Elis". 

Isolamento, apoio familiar

As visitas nem sempre puderam acontecer, os avós não puderam visitar seus netos como queriam, pai e mãe se viram assoberbados com atribuições diferenciadas e inusitadas. Essas foram algumas das adversidades relatadas pela professora, Gabriela Contão Carvalho, de 27 anos, mãe da Ísis Contão Carvalho de Oliveira, 1 ano, e casada com o professor de educação física, Eric de Oliveira Araújo, 28 anos.

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Gabriela e a filha Ísis, de 1 ano. |  Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal.

“No início da pandemia, meu marido perdeu o emprego e logo depois descobrimos a gestação, ficamos desesperados. A alternativa foi ele começar a trabalhar como motorista de aplicativo. Outra adversidade foi a de não podermos ter rede de apoio”, comenta. 

Um dos sentimentos mais presentes na vida do casal, era o medo. "Descobri que estava grávida no dia 25 de junho de 2020, quando gestantes estavam no grupo de risco da covid e ainda não tínhamos perspectiva de vacina, então foi um mix de felicidade misturado com medo e preocupação, principalmente medo de morrer e não conhecer minha filha. Sou professora de História e passei a gravidez toda em home office o que me proporcionou fazer isolamento social, inclusive da minha família", disse a professora.

"No dia 23 de fevereiro de 2021 minha filha nasceu, e com convicção posso dizer que foi o dia mais feliz da minha vida! Naquele período estava permitido um acompanhante na maternidade, mas as visitas estavam proibidas por conta do vírus, então muitos parentes conheceram minha filha por vídeo chamada e foi assim por um longo período, já que o número de casos e mortes aumentavam e eu tinha muito medo de perder minha filha para o vírus", conta. 

Sem rede de apoio e com tantos medos, a professora lembra que o puerpério foi um momento muito difícil. "Optei por não receber visitas, e como esse período é muito sensível e cansativo em alguns momentos achei que fosse enlouquecer sem rede de apoio. A gravidez e o nascimento são momentos mágicos para a mulher que agora é mãe, toda vida para nós mamães de pandemia foi muito difícil e ainda precisávamos passar por essa fase longe da família e dos amigos, em isolamento".

Tentativas, fé E milagre da vida

Após se casarem em 2008, os empresários, Natália Ferreira de Almeida e Vinícius Ferreira de Almeida sempre sonharam em ter filhos, mas só foi possível, após um longe período de tratamento. Em 2021, a notícia mais esperada: Natália esperava gêmeos, hoje os dois estão com 4 meses.

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Vinícius e Natália com os filhos gêmeos, Catharina e Theodoro, de 4 meses. |  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.

"A notícia do positivo aconteceu em junho de 2021 e foi  a coisa mais incrível desta vida, muita alegria. Você pode imaginar? E logo depois veio o medo, mais um desafio, passar ilesa na pandemia sem ficar louca. Segui cada dia com esse misto de sentimentos sabia que dependia de mim agora para que tudo desse certo e viver tudo isso e  manter minha saúde mental não foi nada fácil. Não sei como consegui", conta Natália; 

A empreendedora, é proprietária de uma padaria e não ter contato com o público não era opção, então ela precisou redobrar os cuidados. "O nascimentos dos gêmeos foi megaplanejado. Eu estava com 35 semanas de gestação quando recebi em meus braços Catharina Cupertino de Almeida e Theodoro Cupertino de Almeida , após um parto tão sonhado pela gente. Era dia 30 de dezembro de 2021. Após o nascimento, os dois precisaram ficar na UTIN, pois eram prematuros. Foram 17 dias hospitalizados, de muita angústia, orações, superação e alegria quando eles receberam alta".

A rotina da maternidade seguiu entre a alegria, por estar com os filhos tão sonhados e o estresse de não poderem receber a visita dos familiares. 

"Amigos e parentes acompanharam os primeiros meses sempre à distância. As ligações telefônicas passaram a fazer parte da rotina diária em forma de videochamadas. Criamos um grupo de whatsapp para manter os familiares e amigos informados. Foi um período bem triste receber o carinho deles pelo telefone, pois usar o celular se torna limitado nessa nova fase da vida”, declara Natália. 

Apesar de tantas dificuldades, Natália reforça a beleza da maternidade. "O olhar e o sorriso estampados no rosto dos meus filhos pelo simples fato de me verem. Não existe ninguém no mundo que me olhe como eles e me façam sentir tão amada e querida. É um amor puro e lindo”, conclui.

Fé, parceria 

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Diego e Júllia com os gêmeos, Caetano e Valentim, de 1 ano e 11 meses. |  Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.

Incertezas. Foi assim que a engenheira ambiental, Júllia Tedesco Moraes, de 35, descreveu o período de sua gestação. A jovem é casada com o fotógrafo e produtor, Diego Rodrigues de Miranda, 35. Este ano, apesar das dificuldades que viveram durante a gravidez de Júlia, ela conta que tudo fortaleceu o casal que hoje, comemora o primeiro Dia das Mães com os gêmeos, Caetano e Valentim, de 1 ano e 11 meses.

"A pandemia chegou ao Brasil e eu estava com 5 meses de gravidez. Eu não tinha consciência alguma sobre como é viver em uma pandemia. A primeira coisa que pensei foi: ficarei muito sozinha, depois de um tempo o sentimentos de insegurança e os receios do que a doença poderia trazer eram recorrentes. Mas sempre mantive a minha fé de que ficaríamos bem", relata. 

"Meus filhos nasceram em maio de 2020, auge da primeira onda. Foi assustador... indescritível a sensação de não saber como ficaríamos, se pegariam ou não. Nasceram prematuros e foram dois partos normais, um às 6h44 e o outro às 11h28, com equipes diferentes. Tudo correu bem, mas pela prematuridade e para ficarem em observação,  foi preciso que eles ficassem na Utin por 45 dias. Foi puxado por toda a situação aliado as medidas restritivas, de higiene e segurança. Eu só queria ir pra casa, até que uma cirurgia de urgência aconteceu dentro da Utin e a suspeita de covid...foi o pior dos pesadelos", lembra Júlia.

O tempo foi passando, o casal se ajudando e curtindo os momentos com os filhos da forma que era possível. Para comemorar cada "mêsversario" o casal organizou ensaios fotográficos que o próprio pai das crianças fez. 

Além de toda angústia do momento do parto, Júlia conta que a falta da rede de apoio, foi muito difícil. "Minha mãe ficou conosco apenas uma semana. Sofremos muito sem poder ter a rede de apoio. Minhas irmãs conheceram eles com 5 meses e a família do meu esposo conheceu quando eles tinham uns 7 meses. Essas adaptações fizeram minha irmã se mudar de São Paulo pra cá para morarmos mais perto. Sempre há uma tensão a respeito dessa doença". observa a engenheira.

Mesmo diante desse contexto desafiador, Júlia menciona que a sua experiência se completou depois da maternidade. “Porque com eles a gente conhece o maior amor do mundo, e é esse amor que vai encher o coração dos nossos filhos e ser repassado depois para os filhos deles. Precisamos abastecer o mundo de amor”, finaliza Júlia..

Mudanças, reviravoltas, alegrias

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Lorena retornou ao Brasil meses antes do início da pandemia, decidiu que para ela fez toda a diferença no nascimento de sua filha mais nova, Sofie. |  Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal.

A vida sempre nos surpreende e apesar das mudanças serem estressantes, quando há amor tudo se resolve no final. A segunda gravidez da analista de importação Lorena Amaral Vieira foi marcada por reviravoltas, mas também por alegrias.

Em 2019, Lorena voltou com seu marido Eduardo Soares Vieira, analista de TI, para o Brasil após anos morando da França. O retorno aconteceu meses antes da pandemia de covid começar, fato que fez com que ela tivesse sua segunda filha, Sofie, no seu país de origem. 

"Felizmente foi a melhor escolha, pois eu teria minha filha em outro país em meio a uma pandemia mundial e sem nem um apoio emocional da família. Minha bebê nasceu no dia 10 de fevereiro de 2020, 3 semanas antes do previsto, foi lindo e uma bagunça ao mesmo tempo", relata. 

No entanto, para a analista de importação, o período após dar à luz foi muito difícil e marcado por incertezas. "Foi bem tenso, pois era o primeiro mês oficialmente dentro da pandemia e em março entramos em lockdown e não tínhamos a menor noção de como sairíamos dessa doença", explica. 

Gratidão, amor e força

Apesar de todos os cuidados durante a gestação e saindo de casa apenas para as consultas de pré-natal, a analista Taiany Oliveira da Cruz Galvão, de 32 anos, contraiu a covid com 21 semanas de gestação. Hoje, a jovem comemora com muita gratidão, a tudo que enfrentou, o primeiro Dia das Mães ao lado do filho Davi Oliveira Galvão, de 8 meses.

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|  Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal.

"Foi muito angustiante e tive muito medo porque ali bateu à posta a realidade que acompanhávamos apenas pela TV. Sou muito grata a Deus porque não tive sintomas e segui bem até o fim da gestação. Eu estudei bastante sobre gestação parto e puerpério, o medo vem do desconhecido, estar bem informada me ajudou a passar pelo processo do parto de forma tranquila, respeitando meu corpo e meus limites", disse a analista.

A covid, o pós-covid estando grávida, as angústias da gestação e enfim, era hora de conhecer o grande amor de sua vida. "Após 13 horas de trabalho de parto e 7 centímetros de dilatação, meu rapazinho decidiu que não iria mais querer sair. Então eu sabia que todas as possibilidades que estavam ao meu alcance haviam sido feitas durante às 13 horas de trabalho de parto, sendo assim Davi chegou forte após uma cesária bem indicada", lembra Taiany.

Chamadas de vídeo, telefonemas e visitas da “porta de casa” foram algumas das estratégias adotadas pelo casal. "O puerpério foi bem restrito. As redes de apoio foram minha mãe e sogra. As visitas suspensas. Todos os familiares (exceto avôs e avós) só puderam conhecer meu bebê após os 4 meses, foi difícil para os mais próximos. Foi bem estranho, não poder estar com pessoas queridas em um momento tão significativo", relata a a jovem. 

Hoje, comemorando o primeiro dia das mães com seu filho nos braços, Taiany acredita que a mensagem que fica durante esse tempo de pandemia é que devemos amar mais.

"Eu gerei e pude segurar meu filho nos braços, mas quantas mães não puderam? Quantos pais foram pra casa sem o filho ou a esposa? Quantas pessoas enterraram um ente querido ou amigo? São tempos difíceis, precisamos ter mais amor ao próximo e aproveitarmos a dádiva da vida", conclui a analista.

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