Mulheres na Justiça por erros em procedimentos estéticos
Advogados dizem que aumentou a busca por reparação de danos, após sequelas devido a falhas em tratamentos de beleza
Escute essa reportagem
O objetivo era ficar mais bonita, mas, após erros em tratamentos de beleza e procedimentos estéticos, muitas mulheres estão vendo o sonho se transformar em pesadelo. Para reparar o dano sofrido, elas têm recorrido à Justiça.
Nos últimos anos, cresceu o número de mulheres que vão à Justiça para reparação de danos, após sequelas de procedimentos estéticos, de acordo com advogados.
Um desses casos é o da estudante de Nutrição Niassa Linea, de 23 anos. Após uma sessão de depilação a laser, realizada em uma clínica localizada na Serra, em fevereiro, ela teve queimaduras de segundo grau em várias partes do corpo, como pernas, axilas, mãos, virilha, dedos, braços e buço.
“Sempre fiz depilação a laser em todo o corpo. Já havia feito o procedimento outras vezes e não tive reações. Quando fui fazer uma nova sessão, outra profissional veio realizar a depilação e eu disse que estava doendo, mas ela disse que era normal”, contou.
“Como eu não estava aguentando, pedi que parasse. Quando coloquei meus óculos, vi que a minha pele estava com bolhas. No outro dia, minha pele estava marcada. Tentei conversar com a clínica para eles pagarem meu tratamento e para cancelar o contrato. Mas não teve acordo e, por isso, entrei na Justiça”, relatou.
O pacote de serviços de depilação total foi de R$ 5 mil e, segundo a universitária, o valor pago foi de aproximadamente R$ 2.500.
Niassa teve de procurar tratamento com uma dermatologista. “Foi constatada a queimadura, por meio de laudo médico. Gastei mais de R$ 1.400 com o tratamento”. Após nove meses da ação judicial, o caso segue na Justiça.
A advogada Kelly Andrade, especialista em Direito Civil, conta que, com o aumento da variedade de procedimentos estéticos, observou o aumento de ações decorrentes de erros. “Tive uma cliente que tinha uma tintura no cabelo e foi passar por uma progressiva. Porém, o profissional não fez o teste de mecha e o cabelo dela caiu. Foi provado o erro”, citou.

O advogado especialista em Criminologia Flávio Fabiano também percebe um aumento em reclamações decorrentes de erros em procedimentos estéticos, inclusive com lesões. “Em muitos casos, os profissionais não tomam os devidos cuidados, não orientam os pacientes sobre como deveriam se preparar no pré e no pós e, pior, não dão o devido atendimento”.
Paciente deve ir a profissionais capacitados, diz especialista
Apesar de o mercado da beleza estar cheio de novidades, é preciso ter cuidado. Os pacientes devem sempre procurar profissionais capacitados, conforme alertam os especialistas.
O cirurgião plástico Ariosto Santos destaca que os erros, geralmente, ocorrem em procedimentos realizados por profissionais que não possuem qualificação, em ambiente impróprio e com técnicas ou produtos inadequados.
“Várias especialidades estão agindo como se tivessem autoridade para fazer algum tipo de procedimento, mas, na realidade, não tem conhecimento técnico para isso. Por isso, vemos tantas complicações. Recebemos pacientes nos consultórios com complicações, pois o profissional que fez o procedimento não sabe tratar”, destaca.
“Não é só fazer o procedimento, é preciso saber tratar as complicações”, afirma.
De acordo com o médico, o paciente também deve estar atento aos locais em que vai fazer o procedimento.
“Há procedimentos que não são feitos em consultórios, mas tem gente fazendo loucuras, e fazem até em casa. Outra coisa são os exames pré-operatórios, que devem ser feitos”.
O advogado Flávio Fabiano ressalta ainda que há pessoas se aventurando no mercado da beleza, uma vez que enxergam nesse mercado uma possibilidade de lucro. “Sem capacitação, acabam realizando esses procedimentos”.
Comentários