"Traz muita angústia", diz mãe de miss assassinada após adiamento de júri
Familiares de Rayane Luiza Berger se reuniram, na manhã desta quinta-feira, na frente do Fórum Criminal de Vitória, onde seria realizado o julgamento
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Após a Justiça adiar o julgamento do médico Celso Luís Ramos Sampaio, acusado de matar a companheira, a pedagoga e miss pomerana Rayane Luiza Berger, familiares da vítima fizeram uma manifestação, na manhã desta quinta-feira (13), em frente à nova sede do Fórum Criminal de Vitória, onde o júri seria realizado.
Com faixas e cartazes, os manifestantes pediam justiça e condenação ao acusado de matar Rayane. Ela foi morta em junho de 2015, na zona rural de Santa Maria de Jetibá, na Região Serrana do Estado.
A mãe de Rayane, Clarice Berger, conversou com a reportagem da TV Tribuna/Band e contou que ficou sabendo do adiamento do júri na noite desta quarta-feira (12), por volta das 19 horas.
"Traz muita angústia essa impunidade. Já é o segundo crime que ele comete. Não foi só a minha filha, ele também matou outro médico. E já é a terceira ou quarta vez que ele consegue adiar o júri. Mais uma vez essa espera, essa angústia, esse sofrimento. E a gente tem que reviver esse luto todo", lamentou.
O pai de Rayane, Wilson Berger, também conversou com a reportagem da TV Tribuna/Band e manifestou sua indignação com mais um adiamento no julgamento do acusado.
"É muito difícil, a gente se prepara para o júri. Já é difícil vir assistir. E ele sempre consegue anular. O júri era para ter sido no Fórum de Santa Maria, mas ele conseguiu transferir para cá. Alegou ter parentes e conhecidos lá, e ficou com medo", afirmou.
"O promotor conversou com a gente aqui agora e falou que vai correr atrás, para pelo menos tirar um peso das nossas costas", completou o pai da vítima.
Durante a manhã, familiares de Rayane também se reuniram com o juiz responsável pelo júri para tratar dos próximos passos do processo.
Defesa pediu inclusão de novas provas no processo
O Tribunal do Júri para o julgamento de Celso Luís estava marcado para as 8 horas desta quinta-feira, mas foi adiado por decisão liminar do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo (TJES), que deferiu recurso apresentado pela defesa do réu.
A defesa alegou que pediu ao Juízo da 1ª Vara Criminal de Vitória a inclusão nos autos de mídias contendo imagens de videomonitoramento. O pedido foi negado pela Justiça de primeiro grau, sob o argumento de que a defesa já teria conhecimento do conteúdo das mídias, além de não ter formulado o pedido na fase adequada do processo.
Contudo, a defesa recorreu ao Tribunal de Justiça, que acolheu o pedido, sob a alegação de que o julgamento perante o Tribunal Popular do Júri "poderia ensejar indevido cerceamento de defesa, podendo ocasionar prejuízos ainda maiores ao caso concreto, com a eventual ocorrência de nulidade do julgamento".
Dessa forma, o júri fica suspenso liminarmente, até que sejam tomadas as providências necessárias para saneamento do processo antes da designação de nova sessão perante o Tribunal Popular do Júri, conforme consta na decisão do TJES.
Para o promotor Rodrigo Monteiro, do Ministério Público Estadual (MPES), a apresentação desse recurso foi mais uma manobra da defesa do réu para evitar que Celso Luís vá a julgamento e não seja condenado pelo crime.
"Esse processo já era para ter sido julgado em Santa Maria. A defesa já apresentou, entre habeas corpus e recursos, mais de 20 tentativas de tumultuar o processo. Agora a defesa está alegando a falta de uma prova que não tem relevância nenhuma. É um documento que está no processo há 8 anos. Por que, na véspera do júri, alegar isso?", questionou o promotor, em entrevista à TV Tribuna/Band.
"A questão é a seguinte: o inocente e injustiçado quer falar, quer contar sua história, e o culpado tem medo da Justiça. Então isso mostra claramente que o réu tem medo, ele não quer se julgado. Não quis ser julgado em Santa Maria e não quer ser julgado aqui. E eu vou antever o futuro: quando esse processo voltar de Santa Maria, a defesa vai alegar outra coisa para não fazer o júri. Ele e a defesa têm medo da Justiça porque sabem que vão ser condenados", emendou.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa do médico Celso Luís Ramos Sampaio. O espaço segue aberto caso a defesa do réu queira se manifestar.
Relembre o caso
Rayane Berger foi assassinada no dia 6 de junho de 2015, próximo ao distrito de Alto Rio Posmosser, na zona rural de Santa Maria de Jetibá.

Na ocasião, segundo a acusação, Celso Luís dopou a companheira com medicamento de uso controlado e proferiu golpes com objeto contundente, causando ferimentos na nuca da vítima. Em seguida, o réu teria colocado Rayane em um veículo e forjado um acidente automobilístico.
No dia seguinte ao crime, ciclistas avistaram o automóvel em que a vítima estava, submerso num rio ao lado da estrada, e acionaram os Bombeiros Voluntários. O corpo de Rayane foi encontrado no banco do carona, sem cinto de segurança e com ferimentos na região da nuca.
O veículo estava com todas as portas trancadas, sem marcas de frenagem e sem os airbags acionados, o que levantou a hipótese de que não havia sido um acidente. Com isso, as investigações apontaram que o crime foi premeditado e planejado por Celso Luís.
Relacionamento conturbado
O casal tinha um relacionamento conturbado, já haviam separado e reatado diversas vezes, e tinham conhecimento de traições recíprocas. Porém, uma das traições teria sido o motivo de Celso Luís planejar e executar o crime contra Rayane.
Na denúncia, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) também detalha a cronologia dos fatos, a partir das observações de câmeras de segurança e resultados periciais. Acrescenta, ainda, que o réu estava cumprindo pena de 16 anos de reclusão por outro crime (homicídio contra um colega de profissão).
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