Depressão usada como desculpa: homem preso em flagrante diz que matou ex por amor
O sentimento de posse de Ewanderson José da Silva e a crueldade do feminicídio pode lhe render 40 anos de prisão
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Ewanderson José da Silva, 37 anos, namorou com Simone Cosme Menezes por três meses e decidiu tirar a vida dela por não aceitar o fim do relacionamento. Nesta quinta-feira (30), no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, alegou, em sua defesa, estar com depressão e ansiedade.
Contudo, agiu com frieza ao sair da delegacia e respondeu a todas as perguntas da TV Tribuna/Band com um “nada a declarar". Indagado se estava arrependido, manteve a cabeça erguida e repetiu a resposta. Não havia remorso em seu semblante, mas raiva.
Detido por policiais, estava vestido com uma camisa laranja com uma frase entrecortada. “Sua opinião: não”, que pode ser completada no contexto com "não me interessa".
Depois de dizer que matou por estar doente, explicou também que “matou por amor”, como se o amor fosse um monstro sem controle e capaz de esfaquear três vezes uma pessoa com tanta força que é capaz de tirar-lhe a vida.
Ewanderson foi preso em flagrante pela equipe do 25º Batalhão após assassinar Simone, que tinha 42 anos, dentro da ONG onde ela trabalhava como auxiliar administrativa. A organização, por ironia do destino, vai ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade e vítimas de violência doméstica. Simone se libertou cedo de um relacionamento abusivo e queria ajudar outras mulheres.
O terceiro caso de feminicídio em menos de uma semana foi exibido nesta última quarta-feira (29) pelo Brasil Urgente, comandado por Moab Augusto, e no Jornal da Tribuna 1ª edição desta quinta-feira (30), cujo âncora é Artur Tigre. As apurações in loco foram foram feitas pelos repórteres Simone Santos e Bruno Araújo. Esta é mais uma matéria da série do Tribuna Online que retorna em 2025 e se chama: Que amor é esse?
12 horas de liberdade após o crime
Quase 12 horas após o crime cometido no bairro de Sucupira, em Jaboatão dos Guararapes, o feminicida foi encontrado na casa de um amigo em Moreno, Região Metropolitana do Recife. Esse amigo chegou a aconselhá-lo a se entregar, mas a polícia chegou antes.
Em depoimento, Ewanderson confessou o crime e justificou o injustificável: não aceitava o fim do relacionamento e não suportava ver Simone com outra pessoa. O chavão perfeito.
Dias antes de matar a ex, levou flores como tentativa desesperada de reconciliação, mas Simone disse "não". Flores não resolviam relacionamentos tóxicos. Mas Ewanderson não aceitou, como se ela fosse sua propriedade.
O crime foi descoberto por uma colega de trabalho de Simone, que estranhou a ONG destrancada e encontrou o corpo da vítima ao entrar. Segundo a perícia, Simone foi morta com duas facadas no peito e uma na barriga. Depois do assassinato, Ewanderson visitou a filha e descartou a faca antes de fugir.
Um colega de Simone, Gleydson Renan, comentou a dinâmica do crime e destacou a brutalidade do feminicídio. "A gente recebeu uma ligação da pessoa que chegou aqui à tarde para trabalhar e ela disse que estava tudo aberto. Ela entrou, estranhou, porque realmente estava tudo aberto. Ela entrou e viu lá o corpo. Simone foi morta a facadas."
O delegado Vitor Leite acrescentou que Ewanderson chegou à ONG e conseguiu entrar, apresentando alguma desculpa.
Já Suelen Marília, fundadora da ONG onde Simone trabalhava, lamentou o crime e reforçou a importância do trabalho da instituição.
"Nosso intuito é ajudar a população. E Simone sempre foi essa pessoa de arrecadar doações para a instituição, que é uma instituição não governamental. A ONG tem uma equipe de voluntários que se dedicam a fazer o melhor na área da saúde. Ele chegou com um buquê de flores, pedindo desculpa, mas não reataram. Ela não merecia, ela é uma pessoa maravilhosa. Ela inclusive pediu ajuda a psicólogas formadas para a gente trazer mulheres vítimas de violência."
Três feminicídios em menos de uma semana
Enquanto o feminicida permanece frio, a sociedade segue quente de revolta. Somente nesta semana, três mulheres foram mortas por seus ex-companheiros em Pernambuco. A lei do feminicídio, que aumenta a pena para crimes cometidos por razões de gênero, prevê até 40 anos de prisão. Mas eles seguem matando porque, na cabeça deles, perder o que nunca foi deles é inaceitável.
Ewanderson José da Silva passou por audiência de custódia no Fórum de Jaboatão dos Guararapes e deve responder pelo crime de feminicídio. Ele vai responder ao crime preso, com depressão e tudo. E o inquérito será na divisão de Homicídios Sul, que fica no bairro de Prazeres.
"A Assessoria de Comunicação Social do Tribunal de Justiça de Pernambuco (Ascom/TJPE) informa que em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira (30/2), no Polo de Audiências de Custódias de Jaboatão dos Guararapes, Ewanderson João da Silva teve a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva. O acusado foi encaminhado para o Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel)", diz a nota do TJPE.
A visão da especialista
Segundo Dayane da Rocha Pimentel, em sua dissertação de mestrado, em Saúde Pública do Instituto Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz, “o feminicídio é um fenômeno decorrente da herança patriarcal machista e de estruturas sociais historicamente permeadas por relações desiguais de gênero”.
Dayane fez especialmente um recorte dos feminicídios que ocorreram no Sertão de Pernambuco, mas as histórias se repentem em todos as cidades, com nuances diferentes. Eles mudam de rostos, mas são os mesmos. Dizem amar? Que amor é esse?
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