Divórcio complicado: veja de que maneiras Trump e Musk ainda podem se prejudicar
Briga dinamitou uma parceria que foi importante tanto para a vitória de Trump sobre Kamala Harris nas eleições de 2024
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O divórcio público e repleto de baixarias entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e um de seus aliados mais próximos, Elon Musk, dominou as manchetes da imprensa americana e internacional nesta quinta-feira (5), quando os dois trocaram ataques e xingamentos pela internet.
A briga dinamitou uma parceria que foi importante tanto para a vitória de Trump sobre Kamala Harris nas eleições de 2024 -Musk doou cerca de US$ 280 milhões (R$ 1,5 bilhão) para a campanha do republicano-- quanto para as ambições do bilionário de exercer poder real dentro do governo americano e dirigir o Doge, a iniciativa radical de cortes de gastos do governo federal americano.
Entretanto, Trump e Musk ainda tem potencial para causar muito estrago e criar problemas sérios um para o outro, se decidirem escalar a disputa. Veja a seguir, em dez pontos, que medidas cada lado ainda pode tomar em prejuízo mútuo.
O que Trump pode fazer contra Musk
Cortar contratos do governo com as empresas de Musk
Durante a troca de xingamentos na quinta, Trump disse que cortar contratos do governo federal americano com as várias empresas de Musk seria uma maneira simples de economizar gastos públicos. O presidente tem razão: em 2024, segundo o jornal The New York Times, as várias companhias de Musk, incluindo a Tesla e a SpaceX, foram selecionadas para receber um total de US$ 3 bilhões do governo americano, distribuídos em 100 contratos com 17 agências ao longo dos anos.
Se Trump resolver revisar esses repasses, as empresas do bilionário podem ser seriamente afetadas --essa possibilidade é parte da razão pela qual, segundo analistas, as ações da Tesla despencaram e a montadora perdeu quase US$ 150 bilhões em valor de mercado na quinta.
Investigar Musk por seu uso de drogas
Uma reportagem recente do New York Times apontou que Musk fez uso abusivo de drogas, incluindo cetamina, ecsatsy e cogumelos alucinógenos, durante a campanha eleitoral de 2024, uma acusação que o bilionário nega.
O governo Trump poderia utilizar esses relatos para criar problemas para Musk não apenas porque algumas dessas drogas são ilegais, mas também porque a legislação americana não permite uso de drogas por parte de funcionários da Nasa e de suas prestadoras de serviço -o que inclui Musk, CEO da SpaceX. Há, inclusive, exames aleatórios para comprovar isso, e o New York Times afirma que Musk recebeu aviso prévio de quando ele passaria pelos testes.
Tentar deportar Musk
Nascido na África do Sul, Musk vive nos EUA desde 1992 e se naturalizou cidadão americano em 2002, há mais de 20 anos. Ainda assim, figuras influentes do trumpismo, como o ideólogo Steve Bannon, têm exigido que o governo investigue o processo de naturalização e encontre maneiras de deportar Musk, que também tem cidadania canadense.
Cortar acessos de Musk ao governo
Como CEO da SpaceX, que trabalha de perto com a Nasa, Musk tem acesso a informações confidenciais nos sistemas do governo americano. Se esse acesso for cortado, o bilionário teria que tomar uma difícil decisão: renunciar ao comando da empresa aeroespacial, ou deixar de fazer negócios com o governo dos EUA.
Voltar a base trumpista contra Musk
Desde que entrou na política nacional pra valer em 2016, Trump cultivou uma base leal de apoiadores que não o abandonou mesmo em momentos politicamente devastadores, como quando todos acreditavam que ele não teria mais futuro no Partido Republicano depois da invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Não é inconcebível que Trump relegue Musk ao ostracismo político, utilizando seus apoiadores para rejeitar qualquer tentativa do bilionário de tentar voltar a exercer poder no partido.
Utilizar o poder da Casa Branca contra Musk
Como presidente, Trump tem à sua disposição diversas maneiras de prejudicar Musk: pode ordenar a abertura de investigações do Departamento de Justiça, investigar as movimentações financeiras de Musk, e criar problemas para suas empresas com reguladores federais.
O que Musk pode fazer contra Trump
Cortar doações ao Partido Republicano
Musk, o homem mais rico do mundo, se tornou um dos mais generosos doadores do Partido Republicano, e a sigla contava com esse dinheiro irrigando campanhas eleitorais de deputados e senadores republicanos para reter controle da Câmara dos Representantes e do Senado nas eleições de meio mandato em 2026. Sem a ajuda de Musk, essa possibilidade fica mais distante.
Utilizar o X contra Trump
O bilionário já mostrou que uma das armas mais poderosas de seu arsenal é a rede social que comprou: no X, antigo Twitter, as publicações de Musk contra Trump acumularam milhões de curtidas na quinta, e o empresário tem uma legião de seguidores e influenciadores que o apoiam lá. Ao mesmo tempo, Musk pode limitar a presença de trumpistas na plataforma --mas Trump não a utiliza com frequência, preferindo a sua própria, a Truth Social.
Tentar tomar controle da base de direita de Trump
Embora a hipótese pareça distante, há a possibilidade de que Musk utilize seu dinheiro e influência para tentar atrair apoiadores de Trump e figuras influentes do Partido Republicano para seu lado. A tentação de doações generosas poderia ser difícil de resistir para alguns políticos -entretanto, o domínio de Trump sobre o partido é tamanho, e as consequências de desafiá-lo, tão severas, que não parece provável que isso aconteça tão cedo.
Prejudicar a Nasa e o Pentágono
As relações entre a SpaceX, empresa de Musk, e a Nasa são profundas, e hoje a agência espacial dos EUA depende da empresa do bilionário sul-africano para transportar astronautas para a Estação Espacial Internacional. Musk ameaçou suspender esse serviço, mas logo recuou. Entretanto, a ameaça é real. Mais grave, Musk pode suspender os contratos da Starlink com o Pentágono -o serviço de internet por satélite é crucial para a estratégia das Forças Armadas americanas de apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia.
Revelar segredos da Casa Branca
Nos últimos meses, Musk teve acesso sem precedentes para um "funcionário especial do governo" ao presidente dos Estados Unidos: ele esteve presente em reuniões ministeriais e frequentemente se reunia com Trump no Salão Oval. Esse nível de acesso pode ser utilizado pelo bilionário contra Trump -revelações sobre o funcionamento interno da Casa Branca feitas por ex-funcionários costumam envergonhar governos nos EUA, além de vender muitos livros.
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