“Cresci ouvindo que eu era feia, preta e pobre”, diz atriz
Micheli Machado conta como comentários abalaram sua autoestima e fala da importância da mãe para seguir na carreira
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Para muita gente, desistir não é uma opção. E, para a atriz e comediante Micheli Machado, 40, não é diferente. Embora tenha crescido ouvindo que era “feia, preta e pobre”, ela não deixou a peteca cair e segue inspirando o público.
Atualmente, a ex-angelicat – como eram conhecidas as assistentes de palco dos programas de Angélica – vive Jandira em “Quanto Mais Vida, Melhor!”, faz humor no teatro, grava filmes, é mãe e por aí vai...
“Tenho noção de que o meu caminho é mais longo e, apesar de às vezes ser difícil, eu preciso me manter firme e forte. Sei que só o fato de estar ocupando determinados lugares, no meu caso o meio artístico, estou representando inúmeras mulheres que precisam disso. Cresci ouvindo que era feia, preta e pobre. Isso acabou com a minha autoestima”.
“Só não desisti da carreira porque a minha mãe não deixou. Toda vez que ela me via abalada, dizia que não tem como as pessoas acreditarem em mim se eu mesma não acreditar. Não desisto só por mim. Não desisto pelas mulheres, pelas mulheres pretas periféricas e, principalmente, por minha filha. Desistir não é uma palavra que faz parte do nosso vocabulário”, completa a artista em entrevista ao AT2.
Micheli também conta que a diversão é certa com Jandira, que vende marmitas para sustentar a família. “Participar dessa família na novela é uma experiência incrível. A dinâmica daquela relação complicada da Jandira com o Neném (Vladimir Brichta) me diverte muito. Fazer a Jandira me deixou confortável por ela ser uma personagem cômica, mas também me tirou da zona de conforto e me desafiou, porque ela tem nuances dramáticas”.
“A disputa também é de quem ama mais”, diz Micheli Machado
AT2 - Qual a importância do empoderamento feminino e representatividade de artistas negras no entretenimento?
Micheli Machado - A representatividade está ligada com empoderamento. A partir do momento que a gente se vê na TV, no cinema e em cargos importantes, a gente se empodera. É porque aquilo segue como um exemplo e incentivo, principalmente, dentro de uma sociedade machista em que a gente vive. Então, quanto mais artistas pretas a gente tiver em todos os lugares e carreiras, ocupando espaços, mais mulheres pretas vão se empoderar.
Você via que muitas eram objetificadas no meio artístico? Já passou por alguma situação assim?
Sim! O corpo da mulher, desde o início da TV, sempre foi muito sexualizado e objetificado, principalmente, da mulher preta. Já fiz algumas personagens que se enquadram nesse perfil. Acho que a melhor maneira de lidar com isso não é se martirizando ou falando mal daquele trabalho, mas buscar um porquê, para deixar a personagem o mais humana possível, para que ela tenha identificação com o público.
Como é atuar com o galã Vladimir Brichta?
Nossa, é uma experiência incrível contracenar com grandes nomes! Trabalhar com o Vlad é maravilhoso e a Agnes, filha dele na vida real e na trama, é um presente de Deus. A Elizabeth Savalla é uma artista maravilhosa, completíssima, aprendi muito contracenando com ela. Com o Marcos Caruso também. Todos me receberam muito bem e a troca foi ótima.

Você e Robson Nunes estão juntos há quanto tempo? Tem disputa pelo último pedaço de pizza?
Estamos juntos há mais de 20 anos, e, quando se fala em disputa aqui em casa, só faz sentido quando é com comida mesmo, porque, no lado profissional, a gente é muito parceiro um com o outro! O Robson me incentiva muito, é um dos meus maiores fãs. E sim, a disputa pelo último pedaço de pizza existe há mais de 20 anos também. (Risos) Mas agora aumentou, porque agora tem a Morena. Não importa se ela é criança, ela é boa de garfo! (Risos) E a disputa também é de quem ama mais, porque temos sorte de ser uma família.
Quais seus novos projetos?
Em maio, está para sair o primeiro longa em que eu fui protagonista, o “Quatro Amigas numa Fria”, dirigido pelo Roberto Santucci. Projeto que fiz com a Maria Flor, Fernanda Paes Leme e Priscila Assum. A gente gravou em Bariloche, num frio imenso, no pico de uma montanha, com um frio de - 10 ºC e um vento de 70km/h.
O QUE ELA DIZ
Comédia
“'Humor de Salto Alto" veio, principalmente, de uma inquietação de querer fazer comédia, stand up e de tentar abrir portas para as mulheres fazerem isso. Os grupos eram formados sempre só por homens ou tinham, no máximo, uma mulher. Achei que tinha que mudar isso. Sempre escrevia piadas para outros artistas. Eles eram muito aplaudidos, até que um dia meu marido (Robson Nunes) me disse: 'Chega, você está pronta'”.
Aprendizado
“Foi incrível trabalhar com Angélica. Ela é uma profissional excepcional, uma mulher maravilhosa e inspiradora. Profissionalmente falando, eu aprendi muita coisa sobre sempre chegar no horário, respeitar as pessoas no ambiente de trabalho, estar sorrindo e ser gentil com as pessoas que estão à sua volta”.
Futuro
“Não vejo a hora de ver o resultado do sitcom que estou gravando e vai estrear em maio. Tem outras coisas sendo preparadas, mas não posso falar ainda. Estou sempre me movimentando, trabalhando muito e sou grata por isso”, diz Micheli.
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