"Cauby, Uma Paixão", com Diogo Vilela, estreia neste fim de semana
O ator Diogo Vilela, que estará em Vitória com o espetáculo “Cauby, Uma Paixão”, diz que o cantor vive em seu coração
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Seja nos palcos ou na vida, a palavra que move Diogo Vilela, de 64 anos, é transformação. O ator, que encarna Cauby Peixoto no teatro — com direito à peruca, looks exuberantes e até o tom de voz do ícone da música —, sente a presença forte do astro do rádio quando olha para a arara cheia de roupas que o artista deixou exclusivamente para ele.
Mas não só naquela cena, definida pelo também comediante como algo emocionante, por ser a maior representação do que é o teatro. Para o carioca, Cauby, que morreu em 2016, vive em nossos corações, assim como todo ente querido que parte dessa vida.
“Foi um luto que a gente passou. Também fiquei arrasado com a morte da secretária dele, dona Nancy Lara, uma vítima da covid. Ela cuidou dele a vida toda e foi muito parceira, fazia a ponte entre a gente e ele. Às vezes, a morte se transforma em amor. O certo é que toda morte se transforme no amor que você tem pela pessoa. Qualquer pessoa que a gente ama, quando morre, ela vem para o nosso coração. Cauby vive aí”, afirma Vilela, por telefone, ao jornal A Tribuna.
No próximo fim de semana, o ator desembarca em Vitória com a peça “Cauby, Uma Paixão”, uma versão aprimorada da live que ele apresentou no fim de 2020, em mais um reencontro com um dos maiores intérpretes da música brasileira.
Esta é a terceira imersão que Vilela faz no universo do cantor. A primeira aconteceu em 2006, no espetáculo “Cauby! Cauby!”, que rendeu a ele o Prêmio Shell de Teatro como Melhor Ator.
“Para mim, esse personagem é um encontro meu com minha profissão. É um Cauby ali, ele por ele, visto por ele. Ele precisa de transformação, e reúne tudo o que um ator gosta: peruca, roupas do guarda-roupa dele e tem toda aquela atmosfera do Cauby”.
SERVIÇO
“Cauby, Uma Paixão”
O quê: Espetáculo musical com Diogo Vilela, abrindo a 14ª edição do Circuito Cultural Unimed
Quando: Sexta-feira e sábado, dias 29 e 30 de abril
Horário: 20 horas
Onde: Centro Cultural Sesc Glória. Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória
Ingressos (meia): Plateia a R$ 50, Balcão a R$ 40 e Mezanino a R$ 25
Venda: Site www.lebillet.com.br
Classificação: Livre

“Peço: 'Cauby, canta por mim?'”, diz o ator Diogo Vilela
A Tribuna - “Cauby, Uma Paixão” é uma atualização dos espetáculos nos quais você interpretou o astro do rádio?
Diogo Vilela - No final de 2020, um produtor de teatro me chamou para fazer uma live e perguntou: 'por que você não canta Cauby?'. Como esse personagem estava bem próximo de mim, fui e fiz.
Fizemos com repertório escolhido pelo roteirista Flávio Marinho, depois nos aprimoramos. Na live, todo mundo fazia o que podia. A gente estava tão triste… Então, fizemos o personagem falando dele próprio e cantando sucessos.
Vitória é a primeira cidade a receber esse novo espetáculo?
Será a segunda. Em 2006, fiz a biografia, sempre com a parte do canto. É uma peça que eu vivia a vida dele. Em 2018, eu remontei. Esse espetáculo é um aprimoramento da live que fizemos em 2020.
Não é seu primeiro musical. É um tipo de espetáculo que demanda muito da sua energia?
Eu já fiz a vida de Nelson Gonçalves, que também era uma biografia. E três espetáculos da Broadway. Fiz “Cabaré”, meu primeiro musical, com Beth Goulart, “Sim, Eu Aceito!”... E Cauby, várias vezes! Já fiz bastante musical.
Faço aulas de canto desde 1996 para me preparar para esse momento. Nunca deixei de fazer aula. Se não tivesse técnica, não poderia fazer o Cauby, porque canto as músicas no tom dele.
A carga emocional é mais antes. A gente fica naquela expectativa, mas, quando entro em cena, me sinto muito bem. O teatro renova a gente, porque é o lugar onde a imaginação é permitida. Você está ali compactuando com a imaginação de outra pessoa. É uma troca muito interessante.
Mas eu faço isso. Sou de uma geração que se transforma em outra pessoa. Aprendi no meu ofício a virar personagem e não a ser eu mesmo. E Cauby é um exemplo técnico, não é uma imitação. É uma transformação.
O que mais te admira em Cauby Peixoto?
Ele só cantou músicas lindas, tem um repertório vastíssimo. Cauby era uma pessoa silenciosa. Era educado, gentil, com um coração muito grande. Tanto é que, quando falo desse personagem, a primeira palavra que vem é amor, afeto.
O que mais te surpreendeu no universo dele?
O que me comoveu foi ver o amor que ele tinha pela arte dele. É comovente presenciar um artista sendo humilde com sua própria arte. Ia muito ver os shows dele em São Paulo. Não frequentava a casa dele, mas ele sabia que eu estava ali. E foi vendo um show dele que ele me pediu: 'faz a peça de novo'.
Era um desejo de Cauby que eu voltasse aos palcos cantando e interpretando ele. Ele morreu feliz porque isso era um desejo. Foi por isso que decidi fazê-lo de novo. A primeira peça que repeti um personagem é a dele.
Se identifica com Cauby?
Totalmente! Principalmente, como artista. Tenho aquela coisa de querer ficar no palco até o final da vida, assim como ele ficou.
O palco é o que me resta, minha alegria é ter gente na plateia. Desde os 12 anos que faço isso. Nunca parei de trabalhar. Tive ótimas oportunidades, pessoas lembram dos personagens e pretendo fazer muita coisa ainda. Minha vida é essa!
Já sentiu a presença dele no palco?
Sinto e, antes de entrar em cena, peço: “canta por mim, pelo amor de Deus?”. Eu chamo ele. Tanto é que as pessoas ficam impressionadas com a semelhança. Nenhuma voz é igual a outra. E eu faço as vozes dele falada e cantada, que são bem diferentes. Então, não é simples. Tem que ter uma técnica muito grande, trabalhar muito.
Está em algum projeto audiovisual?
Gravei uma série que vai estrear em outubro na Amazon Prime Video. Chama-se “Eleita”. Na pandemia, gravei dentro de casa o “Zorra”. Os atores se reuniram e resolvemos fazer assim mesmo. Foi uma loucura!
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