“Resort” de vacas para driblar a seca no ES

Local é um galpão com cama e climatização para os animais, que têm acesso a silagem, ração, sal mineral e água limpa e fresca

Clóvis Rangel, do jornal A Tribuna | 23/04/2024, 11:17 11:17 h | Atualizado em 23/04/2024, 11:17

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/Resort-de-vacas-para-driblar-a-seca-no-ES0017774900202404231117/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FResort-de-vacas-para-driblar-a-seca-no-ES0017774900202404231117.jpg%3Fxid%3D787968&xid=787968 600w, Karla consegue reduzir impactos das altas temperaturas para animais

Nem o fato de ser o estado com maior percentual de propriedades irrigadas do País - com 43%, segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - livra o Espírito Santo de perdas na pecuária com a seca.

Para superar esses prejuízos, uma propriedade no Norte do Estado montou um verdadeiro “resort de vacas” para driblar a seca.

Leia mais sobre Tribuna Agro

Na localidade de Baunilha, em Colatina, as 320 vacas da raça girolanda da Fazenda Lievore são criadas com regalias para a produção não agonizar em períodos de altas temperaturas e estiagem.

Os donos da propriedade investiram em um sistema exclusivo de armazenamento de água para a hidratação dos animais, dos pastos e irrigação da plantação de milho, o insumo que vira silagem para o rebanho.

“Nosso sistema de criação é denominado ‘compost barn’, que nada mais é que um galpão com uma cama de pó de serra, climatizadores e uma pista de trato onde dispõe de silagem, ração, sal mineral, e água limpa e fresca. O objetivo é aliar genética, bem-estar animal e produção com qualidade”, disse a advogada Karla Lievore, de 45 anos, uma das proprietárias da fazenda.

Ela revelou também que as vacas paridas e as novilhas recebem tratamento de ponta, mas diferentes. “As vacas em lactação ficam nessa estrutura, um verdadeiro ‘resort’ por causa dos equipamentos que instalamos para elas terem saúde na seca. Já as vacas sem bezerro e novilhas ficam no pasto, onde são alimentadas com ‘lanchinhos’ de silagem de milho produzido na fazenda.”

Para Karla, o sistema “compost barn” não é uma escolha de luxo, mas sim uma necessidade em tempo de fenômenos climáticos. “Essa é uma das vantagens desse sistema, dá para se programar para os períodos mais secos. E também produzimos a silagem toda na fazenda por causa da água estoca. Faça chuva ou faça sol, teremos estoque de comida para as vacas”.

A pecuarista contou também que a produção é de 2.300 litros de leite por dia, que são beneficiados na própria fazenda, por meio da Agroindústria Reserva dos Imigrantes.

“Produzimos queijo minas e ricota fresca - a tradicional puína italiana. Nossa marca é a Reserva dos Imigrantes e atendemos 265 pontos de vendas no Estado”.

Solução com pouco investimento

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/Resort-de-vacas-para-driblar-a-seca-no-ES0017774901202404231117/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FResort-de-vacas-para-driblar-a-seca-no-ES0017774901202404231117.jpg%3Fxid%3D787969&xid=787969 600w, Ademir contou estratégia para alimentar o gado durante a estiagem

Na localidade de São Vicente, Anchieta, Sul do Estado, os proprietários da Fazenda Jacutinga têm um rebanho de 40 vacas da raça Gir, que produzem cerca de 260 litros de leite por dia.

Ordenhador dos animais, Ademir da Silva, de 56 anos, garantiu que nos últimos anos a região foi fortemente atingida pela seca e foi preciso reinventar-se para diminuir os prejuízos.

“Não temos muitos recursos para investir e por causa disso é feito o revezamento de piquetes, onde uma parte dos animais são colocados no pasto para se alimentar enquanto a outra recebe silagem e sal mineral no curral. Quando o pasto está muito seco, é só silagem e sal”.

De acordo com Ademir da Silva, toda a produção diária de leite do rebanho é vendida para a Cooperativa de Laticínios de Alfredo Chaves (Clac).

O patriarca da Fazenda Jacutinga, seu Vitório Benincá, de 97 anos, inclusive, contou que há mais de 60 anos ele e mais cerca de 35 pecuaristas ajudaram a fundar a instituição, e garantiu que o primeiro carregamento de leite a chegar nos tanques foi o dele.

“O primeiro leite que chegou na Clac foi o das minhas vaquinhas, e enviamos leite até os dias de hoje. Naquela época, cheguei a mandar de 150 a 200 litros de leite por dia para eles lá da Clac, e tudo no lombo de burrinho de carga”, afirma. “A Clac facilitou a venda do nosso leite porque na década de 60 a dificuldade era vender e escoar o leite produzido”.

Opinião

“Entrega fundamental para a cooperativa”

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/170000/372x236/Resort-de-vacas-para-driblar-a-seca-no-ES0017774902202404231117/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F170000%2FResort-de-vacas-para-driblar-a-seca-no-ES0017774902202404231117.jpg%3Fxid%3D787970&xid=787970 600w,

“Em março, nossa cooperativa de laticínios recebeu da Secretaria de Agricultura (Seag), por meio do Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cadeia do Leite, uma ensacadora de silagem para atender nossos cooperados.

Com esse equipamento é possível armazenar o alimento na época de escassez.

Imagine como é fazer esse ensacamento com uma pá e ainda precisando da ajuda de outra pessoa para abrir a boca do saco.

Essa entrega é fundamental para a nossa cooperativa, que tem entre os cooperados 98% de produtores de base econômica familiar. São de ações como essa que os produtores rurais estão precisando”.

MATÉRIAS RELACIONADAS:

SUGERIMOS PARA VOCÊ: