Empresários encerram negócios por não encontrar quem trabalhe
Empreendedores não encontram gente para trabalhar e se veem obrigados a interromper atividades. Outros têm de ir até para a cozinha
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A falta de gente interessada em trabalhar está não só obrigando empresários a adiar ou desistir de investimentos como também levando alguns a encerrar atividades, deixando de lado negócios que realizavam.
É o caso de comerciantes que desistiram de vender on-line. Indicada por lideranças empresariais, uma empreendedora que preferiu não ter o nome publicado relatou ter interrompido as atividades de e-commerce, justamente pela falta de mão de obra.
Há ainda empresários do ramo da hotelaria que estão assumindo funções que não conseguiram preencher, como a de recepcionista, para manter a empresa aberta. E também donos de restaurantes que precisam ir ajudar na cozinha e no atendimento aos clientes.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES), Fernando Otávio Campos, afirmou que a situação é crítica.
“Não falta mão de obra qualificada, falta qualquer mão de obra, até para qualificar. Muitos cursos de qualificação não conseguem fechar turmas”, desabafou.
Já o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Espírito Santo (Sinduscon-ES), Douglas Vaz, também enfatizou a dificuldade de atrair mão de obra como em outros setores da economia.
Ele explicou que os profissionais que atuam no segmento atualmente são mais maduros, na faixa etária entre 35 e 50 anos. “Tem muitos empregos diferentes surgindo, as pessoas querem fazer seu horário, trabalhar no dia que querem”, comentou Vaz.
Há, diz ele, dificuldade de encontrar profissionais que se engajem na área da construção civil, em que normalmente o trabalho é das 7 às 17 horas. “É preciso começar a trabalhar praticamente às 7 da manhã. Esse horário mais cedo também dificulta. Nós temos que começar a nos adaptar ao comportamento das pessoas”, avalia.
Na visão dele, devem ser feitos estudos mais profundos: “São necessárias pesquisas para entender o que os jovens estão pensando”.
Paralisação de negócios e adiamentos
“Há empresas parando com a venda on-line de produtos por não encontrar profissionais para trabalhar na área de expedição.”
Este foi o relato do coordenador da Câmara de Empreendedorismo do Conselho Regional de Administração Gláucio Siqueira.
Segundo ele, a falta de mão de obra está implicando também na paralisação de negócios, no adiamento de projetos ou até em eventuais cancelamentos.
“Basta observar o mercado”, lamentou.
Pedido incentivo para o trabalho
Criar incentivos para que as pessoas procurem empregos é uma das saídas para o problema de falta de mão de obra apontada pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (ABIH-ES) Fernando Otávio Campos.
“É evidente que a mão de obra está na informalidade recebendo Bolsa Família”, afirmou. Trabalhadores contam que ao trabalhar na informalidade e somar os recursos que recebe com os benefícios sociais, as conseguem ganhar mais que trabalhando de carteira assinada.
Ele frisou que no Estado o índice de desemprego é de menos de 100 mil pessoas, já recebendo recursos do benefício o número chega a três vezes isso. “Também temos que reduzir os custos de empregar para as empresas poderem pagar um salário maior ao trabalhador”.
A Ceo do Grupo Kato, Roberta Kato, destaca que o mercado de trabalho vive um momento desafiador para os contratantes, em que número crescente de jovens opta por não ingressar no mercado, seja pela comodidade de morar com os pais, pela falta de qualificação ou pela dependência de benefícios sociais.
Para quem defende que a solução é aumentar os salários, ela argumenta que fazer isso sem critérios impactaria diretamente a rentabilidade das empresas.
“O desafio, portanto, é encontrar o equilíbrio entre a sustentabilidade financeira e a criação de condições mais atrativas para esses profissionais como o investimento em benefícios atrativos que aumentam a percepção de salário sem o impacto dos impostos. Mantendo a competitividade e a viabilidade dos negócios”.
Empreendedores têm de colocar a mão na massa
Colocar a mão na massa para fazer algumas atividades da própria empresa por falta de colaboradores para fazer o serviço. Essa é a realidade que alguns empresários do Estado têm enfrentado.
A Ceo do Grupo Kato, Roberta Kato, explicou que a escassez de mão de obra qualificada traz um impacto profundo nos negócios, forçando muitos empresários a assumirem papéis operacionais.
Essa necessidade de “colocar a mão na massa”, segundo ela, reduz o tempo disponível para uma atuação mais estratégica, essencial para o crescimento sustentável da empresa.
“Além disso, desvia o foco de atividades voltadas aos colaboradores e à qualidade na entrega ao cliente final”.
Para a especialista, esse desbalanceamento afeta tanto o desempenho imediato do negócio quanto sua capacidade de se manter competitivo no longo prazo, criando um ciclo de desafios que limita a inovação e a expansão.
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