Odontologia hospitalar precisa se tornar prioridade no Brasil
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (20)
A frase popular “a saúde começa pela boca” não poderia ser mais verdadeira, e a área da saúde no Brasil precisa considerar urgentemente a inclusão de profissionais da odontologia hospitalar no cuidado preventivo dos pacientes. Problemas de saúde bucal durante os períodos de internação podem causar complicações, como infecções, e atrasar a recuperação, agravando potencialmente o estado de saúde dos pacientes.
É essencial qualificar o debate sobre a odontologia hospitalar, uma especialidade reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) e que se dedica ao atendimento de pacientes em internação, desde enfermarias até UTIs. Sua principal função é garantir a saúde bucal dos pacientes durante a permanência hospitalar.
Todos nós, em nosso dia a dia, sabemos da importância dos cuidados diários com a saúde bucal. Portanto, não faz sentido abandonar esses hábitos durante o período de internação hospitalar, como muitas vezes acontece.
A saúde bucal é frequentemente negligenciada, mas está intimamente ligada ao bem-estar geral dos pacientes. Lesões e infecções bucais durante a internação podem ser portas de entrada para microrganismos que aumentam as complicações em quadros já delicados. Em UTIs, por exemplo, a falta de cuidados odontológicos pode favorecer o surgimento de pneumonias, uma das principais causas de agravamento clínico e óbitos em terapia intensiva.
De acordo com estudos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), o trabalho do cirurgião-dentista nas UTIs reduz em até 60% as chances de desenvolvimento de infecções respiratórias em pacientes internados. Países como os Estados Unidos e a Alemanha já incorporaram a odontologia hospitalar em seus sistemas de saúde, resultando em menores taxas de complicações e mortalidade em pacientes internados, inclusive.
Pacientes em UTIs, como aqueles com câncer ou cardiopatias, muitas vezes precisam de intubação, que resseca a mucosa bucal, trazendo prejuízos mesmo após a extubação, como feridas na boca, cáries e outras lesões comuns durante a intubação.
Além disso, a queda da imunidade durante a internação pode favorecer o surgimento de infecções. A presença de um profissional da odontologia hospitalar pode reduzir significativamente essas intercorrências, aumentando a eficácia dos tratamentos e reduzindo riscos, com benefícios evidentes para pacientes e para a comunidade hospitalar como um todo.
Portanto, a odontologia hospitalar não é um luxo, mas uma necessidade que precisa ser prioridade. Profissionais capacitados podem fazer a diferença no desfecho clínico dos pacientes, promovendo uma recuperação mais rápida e segura. É urgente que o sistema de saúde brasileiro reconheça e incorpore essa especialidade como parte integral do cuidado hospitalar, garantindo um tratamento mais completo e eficaz para todos os pacientes.