Dixy, Daily: separar o joio do trigo
Confira a coluna desta quinta-feira (10)
Esses dias, muita gente na internet começou a comentar sobre os chamados perfis múltiplos – aquela prática comum (principalmente entre a geração Z) de ter dois ou mais perfis no Instagram para diferentes contextos e públicos.
Aí surgem dois termos interessantes: o Daily e o Dixy.
O Daily é aquele perfil mais aberto, voltado para o nosso dia a dia. É onde a gente posta fotos com amigos, família, colegas de trabalho, momentos felizes, conquistas… Enfim, é o perfil “socialmente aceitável”, que pode ser visto pelo tio cri cri , pelo chefe ou por aquele conhecido do ensino médio que ainda nos segue.
Já o Dixy é mais reservado. É um espaço seguro para desabafos, reflexões mais íntimas, fotos ou pensamentos que a gente não quer que sejam interpretados (ou julgados) por qualquer um.
Sabe aquela sensação de não querer expor algo para o coleguinha do trabalho ou para a tia chata que sempre tem uma opinião atravessada? Então, o Dixy surge justamente dessa necessidade de preservar a autenticidade sem se expor a julgamentos – necessários ou não (risos).
A psicologia social pode nos ajudar a entender esse fenômeno. Erving Goffman nos ajuda a pensar sobre a forma como apresentamos o nosso “eu” em diferentes situações sociais.
Em sua obra “A Representação do Eu na Vida Cotidiana”, Goffman afirma que as interações humanas são como peças de teatro: temos um “palco” (onde atuamos para o público) e um “bastidor” (onde somos mais autênticos e menos controlados).
Os perfis Daily e Dixy se alinham perfeitamente a essa metáfora – são palcos diferentes para públicos diferentes e eu decido quem eu quero que bata palmas ou que faça uma crítica.
E é aí que entra também uma ciência nova: a cyberpsicologia. Ela é o campo que estuda o comportamento humano em relação às tecnologias digitais e aos ambientes virtuais: como construímos identidade on-line, como desenvolvemos vínculos digitais e como lidamos com a exposição, o afeto e o julgamento nas redes. Já falei aqui que um story é emocionalmente diferente que um feed!
Mary Aiken, autora do livro “The Cyber Effect”, investiga como o ambiente digital afeta nosso comportamento, nossos vínculos e até nossas emoções. Exigindo novos olhares da psicologia para entender esse “novo mundo social” em que vivemos.
Além dos perfis múltiplos, hoje temos também recursos como o Close Friends (ou CF), que nos permite selecionar quem pode ver certos conteúdos mais íntimos dentro do perfil. Isso, inclusive, virou uma estratégia de mercado: há influenciadores que cobram para que seguidores tenham acesso ao CF e, assim, a conteúdos “exclusivos”.
O ponto é: fingir que o cyberespaço não é um espaço de relação já não é uma opção. Estamos o tempo todo negociando o que mostramos, para quem mostramos e com que intenção. E tudo bem que seja assim. Não é sobre falsidade ou máscaras, é sobre navegar com consciência pelos diversos papéis que ocupamos na vida – inclusive na vida digital.
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