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Olhares Cotidianos

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Colunista

Convite a mudanças

Confira a coluna desta quinta-feira (06)

Sátina Pimenta | 06/02/2025, 14:15 h | Atualizado em 06/02/2025, 14:15

Imagem ilustrativa da imagem Convite a mudanças
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária |  Foto: - Divulgação

Mas que seja infinito enquanto dure.  Vinicius de Moraes já dizia, e não é que faz sentido? Na terapia, escuto muitos pacientes refletindo sobre o fim dos seus relacionamentos – sejam amorosos, amizades, vínculos familiares ou até conexões no trabalho.

Parece que vivemos em uma sociedade que vibra entre dois extremos: ao mesmo tempo em que idealizamos o “para sempre”, vivemos a cultura do efêmero, onde tudo precisa ser rápido, intenso e, se não corresponder às expectativas, descartável.

O que me intriga é que acreditamos piamente no “felizes para sempre”, mas nossa realidade diz outra coisa. O mundo nos convida à mudança o tempo inteiro. A gente muda de opinião, de emprego, de cidade, de parceiro… e nem sempre porque quer, mas porque viver é um eterno refazer-se.

Jean-Paul Sartre já falava sobre a liberdade como uma condenação: estamos constantemente nos (re)criando, o que significa que nenhum “sempre” pode ser garantido. E se a vida é esse fluxo constante, de onde tiramos a ideia de que relações deveriam ser estáticas?

Aí vem a pergunta que sempre me fazem: “Mas Sátina, se o para sempre não existe, para que investir numa relação?”. E eu devolvo: a gente se relaciona para garantir um futuro ou para viver o presente?

Por que o valor de um vínculo deveria estar na sua duração e não na qualidade dos momentos vividos? A gente se apaixona pelo que o outro é agora, mas muitas vezes esquece que ele também está em movimento.

Se a mudança é inevitável, por que o compromisso não pode ser com crescer junto, em vez de se apegar à promessa de uma eternidade incerta?

E aí entramos na grande questão: a única certeza que temos na vida é que ela termina. Sempre morremos e nunca viveremos para sempre. Essa verdade assusta porque nos lembra de nossa finitude, de que tudo é passageiro, inclusive nós mesmos. Mas não deveria ser motivo de desespero – pelo contrário, deveria nos ensinar a viver com mais verdade, mais intensidade, mais presença.

Agora, se a gente sabe que a morte é inevitável, por que o presente nos assusta mais do que o fim? Por que é mais fácil projetar um futuro idealizado do que encarar o agora, com suas imperfeições, suas incertezas, suas falhas? Talvez porque o presente exige que a gente esteja inteiro. O futuro mora no campo da promessa, do “um dia”, do “quando tudo estiver certo”. Mas o agora? Ah, o agora pede coragem. Ele pede entrega. Ele pede aceitação. E isso dá medo.

Se até nosso corpo muda o tempo todo, se a própria existência é um constante processo de transformação, por que insistimos tanto no “nunca” e no “para sempre”?

O “nunca” nos limita, o “para sempre” nos aprisiona. E ser preso e limitado não combina com ser humano.

Talvez seja isso que nos falte: entender que viver é um ato de desapego. Não no sentido de não amar, mas no sentido de permitir que as coisas sejam o que são – e que a gente as viva enquanto fizerem sentido. Como já cantava Renato Russo, “o para sempre, sempre acaba”. Mas enquanto dura, que seja intenso, verdadeiro e, acima de tudo, vivido.

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