A última do Boto…
Confira a coluna desta sexta-feira (10)
José Boto, o novo executivo do futebol do Flamengo, não tem sido feliz nas declarações. Desta vez, exagerou e mostrou certo desconhecimento ao declarar que seu objetivo é acabar com a hegemonia dos treinadores portugueses no futebol brasileiro – o que não é verdade. Dos 18 principais títulos do calendário da CBF e da Conmebol disputados desde 2019, há empate em 9 a 9 entre brasileiros e portugueses.
O tema é polêmico e lamentei que não houvesse na coletiva do novo mandatário do futebol do rubro-negro uma voz que questionasse tal percepção. Sim, porque não houve. Nestes últimos seis anos, apenas três dos 17 treinadores portugueses que trabalharam em clubes brasileiros conseguiram um título da Copa do Brasil, da Série A do Brasileiro ou da Copa Libertadores: Jorge Jesus, Abel Ferreira e Artur Jorge.
Os outros 14 não conseguiram mais do que “efêmero sucesso”. Ricardo Sá Pinto, Jesualdo Ferreira, Antônio Oliveira, Vitor Pereira, Luis Castro, Paulo Sousa, Pedro Caixinha, Renato Paiva, Armando Evangelista, Pepa, Pétit, Bruno Lage, Ivo Vieira e Álvaro Pacheco… técnicos capazes de times competitivos, mas longe do sucesso dos que levaram Flamengo, Palmeiras e Botafogo a grandes conquistas.
Na Copa do Brasil, por exemplo, os times dirigidos por brasileiros levaram cinco das últimas seis edições: Tiago Nunes (Athletico/PR, 2019), Cuca (Atlético/MG, 2021), Dorival Júnior (Flamengo, 2022 e São Paulo, 2023) e Filipe Luis (Flamengo, 2024) - o Palmeiras de Abel Ferreira levou em 2020. No Brasileiro e na Libertadores o trio português venceu quatro das últimas seis edições, o que gera a impressão de hegemonia lusitana.
Impressão que se potencializa por um fato realmente relevante. De 2019 até agora o trio Jesus, Abel e Artur conquistou ao menos um título por ano: Jorge Jesus (2019), Abel Ferreira (2020/21/22/23) e Artur Jorge (2024).
Há, porém, duas questões a observar: na maioria das vezes, estamos a falar de Palmeiras e Flamengo, clubes de investimento acima da média; e a considerar a trajetória de Abel um ponto fora da curva.
E há mais uma coisa que alguém precisa avisar a Boto. O sucesso dos três treinadores portugueses está diretamente relacionado à capacidade de investimento dos clubes para os quais trabalharam. Ou seja: eles são ótimos, mas com um elenco acima da média…