Velórios: só rindo...

Vera e o coronel se casaram nos anos 50 e ela, até o casamento, conseguiu esconder dele o fato de fumar

Claudia Matarazzo | 25/05/2023, 13:49 13:49 h | Atualizado em 25/05/2023, 13:49

srcset="https://cdn2.tribunaonline.com.br/img/inline/140000/372x236/inline_00140928_00/ScaleUpProportional-1.webp?fallback=%2Fimg%2Finline%2F140000%2Finline_00140928_00.jpg%3Fxid%3D551205&xid=551205 600w, Claudia Matarazzo, colunista do jornal A Tribuna
 

Sim, caro leitor, hoje o assunto é esse e prometo que não vai se arrepender. Falemos de velórios e da falta de noção de algumas pessoas. Antes de passar para a parte mais bizarra onde me irrito e começo a achar que não tem jeito, vou narrar a historinha da Vera, mãe de meu amigo Renato, fumante inveterada, e da sua interminável rusga com o marido, Coronel Wagner, por conta do vício do cigarro.

Ana Vera e o coronel se casaram nos anos 50 e ela, até o casamento, conseguiu esconder dele o fato de fumar desbragadamente. Era uma mulher elegantíssima, e Renato lembra que não combinava com sua fineza o gesto de guardar o maço de cigarros sem filtro no decote.

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Era precisamente o que ela fazia todos os dias. Para salvar os cigarros do marido, que apenas via um maço e já o exterminava. Sem avisar. E algumas vezes na sua frente sem a menor piedade ante seu argumento aflito: “Pare com isso, custa caro”.

Ele mandou escolher entre ele e o cigarro – e ela nunca parou. O que o obrigava a ir comprar cigarros no bar para ela, pois naquele tempo mulher não entrava sozinha em bar, muito menos para pedir cigarros. 

Mais do que depressa ela guardava o maço no sutiã e a vida seguia. Renato cresceu ouvindo da mãe conselhos preciosos para fumar e continuar elegante: “Fume só até a metade, assim o dedo não fica amarelo”.

Ou: “Segure o cigarro em pé para a fumaça ir para cima e não manchar os dedos”. Do pai ele só ouvia que ela ainda ia parar de fumar. E dizia: “Não para, papai, deixa que é mais fácil”.  Mas o coronel não se conformava e todos os dias dizia que ela ainda ia parar de fumar.

Muitos anos depois, em seu velório, Renato, como bom filho, tentando dar suporte ao pai além de segurar a própria emoção e tristeza, vê o caixão chegar e a fisionomia do pai mudar. 

Ato contínuo, o coronel se aproximou do caixão, olhou para o filho e perguntou: “Parou ou não parou”?!

Renato se lembra até hoje do tom de (quase) satisfação do pai ao ver seu desejo finamente atendido...

Velórios são assim: um mix de emoções, celebração à vida, tristeza e saudade.

Recentemente, Maria, minha amiga cerimonialista, fez um casamento no qual a avó da noiva, mãe da mãe, faleceu durante a festa! Imensa comoção, correria, o cerimonial tentando avisar com calma os convidados que não haveria mais festa – porque não tinha como continuar.

Com muito jeito, avisaram de mesa em mesa aos que não haviam percebido o ocorrido que estavam já providenciando o velório e que não haveria festa. 

Uma das convidadas muito prestativa sugeriu: “Então, vamos aproveitar as flores e os docinhos e levar para o velório”.

Maria levou um baita susto, mas depois viu que nem era tão má ideia. Ainda estava considerando como fazer isso quando  ouviu de uma outra convidada mal humorada e cheia de joias: “Eu não vou embora enquanto não servirem o jantar!”. É mole? Como diz a figurinha: “Além de não ser fácil, ainda é difícil”.

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