Uma morte é registrada a cada 9 horas no trânsito no Espírito Santo
Segundo dados do ano passado, 973 pessoas perderam a vida em acidentes no Estado, um aumento de 17,9% em relação a 2023
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O trânsito do Espírito Santo segue deixando marcas irreparáveis. A cada nove horas, uma vida é perdida nas ruas, estradas, avenidas e rodovias capixabas. Em 2024, 973 pessoas morreram em acidentes de trânsito, um aumento de 17,9% em relação a 2023. Somente em janeiro, até o dia 29, foram 45 mortes.
Por trás dos números, estão histórias de dor, como a de Lucinda Barbosa, que viu a filha Karen Moreira Barbosa, de 16 anos, perder a vida de forma brutal.
Gerente de Fiscalização do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Jederson Lobato aponta que, em números, o trânsito superou até mesmo os homicídios no Estado. “Isso mostra a gravidade da situação e reforça a necessidade de medidas mais eficazes para combater essas tragédias”.
Em janeiro deste ano, houve um crescimento de 80% nos atropelamentos em relação ao ano anterior. “Estudos indicam que 96% dos sinistros poderiam ser evitados, pois envolvem excesso de velocidade, bebida e direção e falhas na infraestrutura viária”.
Segundo o capitão Anthony Moraes Costa, chefe do setor de Comunicação do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), esse é um problema social cada vez mais complexo. “Os diversos atores (pedestres, condutores e ciclistas) muitas vezes negligenciam normas básicas de segurança e adotam comportamentos que potencializam os riscos”.
Distrações, imprudência e negligência são as palavras centrais quando o assunto é mortes no trânsito. “A negligência às normas sempre estará associada a fatores de risco no trânsito. Afinal, essas mesmas normas buscam pacificar e regulamentar a convivência entre veículos e pessoas”.
“Somam-se a isso as vias capixabas com erros estruturais e deficiências, que aumentam ainda mais o número de mortes”, avaliou o advogado Fábio Marçal, especialista em Direito no Trânsito.
Do total de mortes, 51,2% foram de motociclistas, um aumento de 21,8% em relação a 2023. As vítimas fatais por atropelamento também cresceram – aumento de 26,1% em relação ao ano anterior, com 140 vítimas em 2024 e 111 em 2023.
“Vi as rodas sobre minha filha”
No dia 16 de janeiro do ano passado, Karen Moreira Barbosa foi atropelada por um caminhão desgovernado enquanto caminhava ao lado da mãe Lucinda, próximo ao Terminal de Jacaraípe, na Serra. A jovem estava no canteiro central quando o veículo a atingiu.
“Mais cedo, naquele dia, minha filha falou para mim: ‘Mãe, minhas férias estão acabando, e você não me levou a lugar nenhum’”, contou Lucinda, que sugeriu que as duas fizessem uma caminhada.
Elas saíram de casa às 17h, e 44 minutos depois, a tragédia acabou acontecendo. “Eu achei que estava em um lugar seguro. O caminhão veio de longe, e de repente… Eu saí com minha filha sorrindo e voltei sem ela”, contou a mãe, emocionada.
“Eu vi as rodas passarem sobre minha filha. Fechei os olhos para não ver passar sobre a cabeça dela”, relembra.
Quando Lucinda correu para socorrer a filha, encontrou-a gravemente ferida. No dia seguinte, 17 de janeiro, Karen não resistiu aos ferimentos.
Um ano depois, a dor de Lucinda se mistura à indignação. O motorista do caminhão, que foi preso em flagrante por homicídio culposo, teve a prisão preventiva decretada, mas está foragido.
“Ele simplesmente desceu do caminhão, acendeu um cigarro ao lado do corpo da minha filha e foi embora”, denuncia a mãe.
A investigação da Delegacia de Trânsito concluiu que o motorista agiu com dolo eventual, assumindo o risco de causar a morte. Uma carta precatória foi enviada para São Paulo, mas até o momento ele não foi localizado.
Enquanto isso, Lucinda segue aprisionada na dor e na esperança de Justiça. “Minha filha não vai voltar, mas quem fez isso está levando uma vida normal. Eu, não”.
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